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Emilinha Borba, um exemplo das meninas dos anos 40 e 50 |
Escandalosa:
https://www.youtube.com/watch?v=0mhjrT4Ro2E
Durante muitos anos, Emilinha Borba
foi um exemplo para as fãs do rádio. Afinal, ela era uma jovem pobre que venceu
por sua própria força e talento. Mostrava a imagem de uma moça bem comportada e
escolhia seu repertório seguindo o preceito da moça certinha que obedecia ao pai
e à mãe. Muitas jovens viram nela um exemplo.
Emília Savana da Silva Borba nasceu
no Rio de Janeiro, em 31 de agosto de 1923 (morreu no Rio em 3/10/2005). A
infância foi pobre e difícil no Morro da Mangueira e, mesmo contra a vontade da
mãe, Emilinha se apresentava nos programas de auditório. Aos 14 anos, ela ganhou
o primeiro prêmio na Hora Juvenil, da Rádio Cruzeiro do Sul.
Depois cantou no programa mais difícil da época: Calouros em desfile, de Ary Barroso. Ela agradou
com a sua voz pequena e afinada ao cantar O X do Problema, de Noel Rosa.
Passou a participar de algumas gravações da Columbia, como integrante dos
coros. Logo formou uma dupla com Bidú Reis chamada de As Moreninhas. Em
1939, gravou a marcha Pirulito, sendo que no disco seu nome não foi
creditado. Nesse mesmo ano, gravou o
primeiro disco solo, em 78 RPM, para a Columbia O samba-choro Faça o
mesmo, com Benedito Lacerda e seu
conjunto, chamou a atenção do público para o seu nome. Depois, gravou o samba Ninguém
escapa de Eratóstenes Frazão.
Graças à mãe que trabalhava no Cassino da Urca, como camareira de Carmem
Miranda, Emilinha ganhou uma madrinha artística caída do céu: a própria Carmem. A primeira providência foi alterar a idade,
afinal , a mocinha ainda não tinha 18 anos. Parecer mais velha evitava problemas
com o Juizado de Menores que, naquela época, era muito rígido. Assim, com a
roupa e os sapatos de salto de plataforma de Carmem, Emilinha foi aprovada por
Joaquim Rolla, dono do Cassino da Urca, que a transformou em crooner. O crooner é aquela espécie de
cantor ou cantora que interpreta vários tipos de canção durante a noite em uma
boate.
Do cassino para o cinema foi um pulo. Emilinha participou, em 1939, do
filme Banana da Terra, de Alberto Bynton e Rui Costa. A produção contava com um grande
elenco: Carmen Miranda, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Linda Batista, Almirante, Aloísio de Oliveira, Bando da Lua, Carlos Galhardo, Castro Barbosa, Oscarito e Virgínia Lane, a "Vedete do
Brasil".
Em 1940, começou a gravar
músicas que tiveram acompanhamento do maestro Radamés Gnattali. Seu repertório
não era crítico nem combativo, pelo contrário, era sempre bem comportado. Os
sambas O Cachorro da Lourinha e Meu Mulato Vai
ao Morro, da dupla Gomes Filho e Juraci Araújo, são dessa época. Foi
chamada para participar de mais dois filmes: Laranja da China e Vamos
cantar. Mudou de gravadora e, na Odeon, gravou Quem parte leva saudades.
Em 1942, foi contratada pela Rádio Nacional, mas não ficou muito tempo
nessa primeira fase. No ano seguinte, em outro contrato, ela se
firmou de tal forma que passou a ser a principal estrela do elenco durante 27
anos. Nesse tempo, a Nacional era líder de audiência no país. Além de
participar de vários programas, tinha um grande fã clube. Foi campeã de
correspondência durante 19 anos consecutivos. Lembrem-se os mais jovens: não
havia email naquele tempo, eram apenas cartas mesmo!
Em 1942, durante a Política da Boa Vizinhança, o diretor americano Orson Welles começou a filmar no Brasil o documentário It's All True (É tudo verdade, que ficou inacabado). Orson
adorou o Brasil e também a cantora mais popular daquela época, Linda Batista. No Cassino da Urca, Orson Welles namorava Linda, mas gostou também de Emilinha.
Prometeu levá-la para Hollywood e fazê-la uma grande atriz. Linda não gostou, passou a humilhar a mãe de
Emilinha e a dificultar a ascensão da cantora. Em determinada noite, Linda atacou Emilinha nos bastidores e ainda rasgou o
vestido do show.
Durante muitos anos, as irmãs Linda Batista e Dircinha Batista ganhavam o concurso para Rainha do Rádio.
Mas as fãs queriam uma renovação e fizeram uma grande campanha para
Emilinha ganhar, em 1949. Vendiam as revistas e preenchiam, elas mesmas, os
cupons. Quem ganhasse mais votos, levava a faixa de rainha. Naquele ano, Emilinha gravou a marcha Chiquita Bacana, que foi o primeiro lugar nas paradas de sucesso e
passou a ser considerada a vencedora do concurso. https://www.youtube.com/watch?v=JKs7yPcrsOk
Mas não foi. O que ninguém sabia era
que a Cia Antártica comprou milhares de votos para lançar um novo guaraná, o
Caçulinha, junto com uma nova cantora, a pouco conhecida Marlene. Foi uma das
primeiras grandes jogadas de marketing no Brasil. Emilinha perdeu o lugar, mas
não o coração das fãs que passaram a hostilizar Marlene para sempre. A Rádio
Nacional soube aproveitar a rivalidade e convocava as duas para fazer shows em
várias cidades brasileiras. A Revista do
Rádio inventava brigas entre as duas e vendia milhares de exemplares.
Emilinha se tornou Rainha do Rádio só
em 1953 e sempre, até o fim da vida, teve os fãs perto dela. Eles comemoravam
os aniversários e compravam presentes para a cantora. Na revista Radiolândia, Revista do Rádio e no
jornal A Noite, a cantora se comunicava
com os fãs através de colunas e cartas. O Diário da Emilinha, Álbum
da Emilinha, Emilinha Responde e Coluna da Emilinha eram disputados entre os leitores. Tornou-se
cereja do bolo do Programa César de
Alencar, a atração de auditório mais famoao a partir de 1946. Até 1995, Emilinha
foi a personalidade brasileira a ter mais capas de revistas, cerca de 350.
Quando chegava a uma cidade do
interior, não havia quem trabalhasse ou estudasse naquele dia. Tudo era válido para
ver Emilinha de perto e ao vivo. Já era o star system do rádio. Por essa razão,
as prefeituras passaram a decretar feriado sempre que Emilinha aparecia para
receber as chaves do lugarejo.
No programa A Felicidade Bate à Sua Porta, de 1953, em que os ouvintes
participavam do sorteio de brindes e eletrodomésticos que vinham em um furgão
preto. Era preciso ter o sabão e outros produtos da marca Cristal (União
Fabril Exportadora) em casa e escrever para a Nacional para competir. Os radialistas
Yara Salles e Heber de Boscoli comandavam a atração de domingo, às 19h, depois do
futebol. Melhor do que os eletrodomésticos era a visita de Emilinha. Ela vinha
escondida em outro carro e, ao sinal da produção, entrava na casa do ouvinte sorteado.
Uma multidão ficava histérica na rua com a presença da cantora.
Em 1959, participou do filme Entrei
de gaiato cantando Menina Direitinha, em que aconselhava as
meninas a não se perderem entre os garotos que andavam de lambreta e eram
considerados os bad boys da época, a
juventude transviada. Emilinha cantava: “Menina direitinha que pensa no futuro/
não chega tarde em casa e não namora no escuro/ Não anda em garupa da
lambreta/Sem ordem da mamãe, ela não sai/Cuidado para não dar desgaste pro
papai”.
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