O lançamento da música
“As cinco estações do ano”, do compositor Lamartine Babo, em 1933, tinha como objetivo fazer as pazes
entre os compositores e os donos das estações de rádio do Rio de Janeiro. Em junho,
as cinco principais estações rádio saíram do ar porque os proprietários não
queriam pagar um aumento de direito autoral aos compositores: de 90 para 500
mil-reis por mês, pelo uso de música em sua programação. Isso foi uma determinação
pela Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, a SBAT e. em vez de black-out,
greve dos trabalhadores, os empresários fizeram um lock-out, e fecharam as rádios.
O silêncio na cidade foi impactante.
Seria como o público,
hoje, ligasse a TV, e não tivesse nada do que ver nos diferentes canais.
Essa exigência se devia
ao aumento do faturamento de publicidade. A partir de 32, houve a liberação de
comerciais, mas a lei, escrita por Getúlio Vargas, quando ele ainda era deputado, que estabelecia esse
pagamento ao compositor que estava tentando viver de sua criação musical.
A greve durou um pouco
mais de um mês, teve apoio de alguns jornais, cujos donos também eram
proprietários de rádios. Até que as negociações chegaram ao fim, tendo como
liderança o Adhemar Casé, o radialista que mais faturava naquela época.
As rádios Mayrink
Veiga, Philips, Rádio Club, Rádio Sociedade e Rádio Educadora voltaram a
funcionar e passaram a pagar mais pela música veiculada na programação. Não
tanto quanto queria a SBAT, mas 300 mil réis, o que foi bom para os artistas.
Então, para melhorar o
clima entre o rádio e os compositores, Lamartine fez uma música muito
interessante e gostosa, um cateretê, chamada “As cinco estações do ano”. O disco foi lançado pela Victor, em agosto.
Em cada estrofe, ele brincava com o jeito e o estilo das rádios, cada uma delas
voltada para um determinado público. Já no começo dos anos 30, começava a segmentação
do rádio.
Essa música foi gravada
por Carmem Miranda e seus amigos Lamartine Babo, Mário Reis e Almirante. Dá
para notar que foi uma farra essa gravação, é possível identificar cada voz ao
microfone e as brincadeiras que eles fazem. Cada estação tinha um prefixo
marcante e era moda referir-se a uma rádio por seu número no dial, demonstrando
que o ouvinte era fã e conhecedor daquela estação.
No primeiro verso,
Lamartine fala da Rádio Educadora,
que era muito ouvida nas cidades como São Lourenço, Lambari, lugares, onde as
pessoas iam descansar e tratar da saúde. Era considerada uma estação antiga,
que eram também chamadas de estações de trem.
“Antigamente, eu
banquei a estação de águas/ Hoje guardo as minhas mágoas/ Num baú de
tampo azul/ Já fui fraquinha, mas agora estou forte/ Já fui ouvida lá
no Norte/ Quando o vento está no Sul./ Transmite a PRAC... C... C...”
A segunda estrofe falava
da emissora com mais anúncios, a Rádio Philips e o seu Pprograma Casé.
Lamartine reproduziu o som da sirene que fazia parte do programa Casé e
escreveu o verso: “Eu sou a Philips do samba e da fuzarca/ Anuncio
qualquer marca de bombom ou de café/ Chegada a hora do apito da sirene/ Grita
logo dona Irene/ Liga o rádio, vem cá, Zé!/ Transmite PRA X... X...
X...”
Na terceira
estrofe, aparece a Rádio Mayrink, a que
estação que ficava em primeiro lugar e que contava com o diretor artístico César
Ladeira, que tinha uma ótima voz e gostava de falar todos os erres e esses das
palavras, criando uma nova moda radiofônica.
“Sou a Mayrink,
popular e conhecida/ Toda gente fica louca/ Sou querida até no hospício/ E
quando chega sexta-feira, em Dona Clara/ Sai até tapa na cara/ Só por
causa do Patrício/ Transmite PRK... K... K...”
Lamartine leu no jornal
que em um hospício do Rio, os internos brigavam e batiam nos enfermeiros e eles não ligassem a Mayrink no dia e hora
do programa excelente músico Patrício Teixeira.
A quarta estação era a
mais antiga, a Rádio Sociedade.
Nessa estrofe, Lamartine resume que é uma estação mais formal que não gostava
do samba, gênero musical que começava a estourar na cidade. “Sou conhecida nos
quatro cantos da cidade/ Sou a Rádio Sociedade/ Fico firme, aguento o
tranco. Adoro o clássico, odeio a fuzarqueira. Minha gente, eu fui
porteira do Barão do Rio Branco. PRAA... AA... AA...”
A quinta emissora
era a Rádio Clube, que irradiava
muitos jogos. Como os donos dos clubes, às vezes, implicavam com a presença de
radialistas dentro do campo porque tirava o público da arquibancada (que
preferia ficar em casa ouvindo o rádio) – os locutores tinham que subir em
árvores ou em tetos de galinheiros para pode ver o jogo e fazer a transmissão. Muitas
vezes, havia a interferência de galinhas cacarejando durante a partida, o que
era muito engraçado e chato para quem queria saber se os jogadores tinham marcado
o gol ou não. Isso aconteceu mesmo com o speaker Amador Santos, em um Fla-Flu,
e depois com o Ary Barroso, que foi impedido de entrar em São Januário porque
criticava muito o Vasco da Gama.
“Eu sou o Rádio
Clube/ Eu sou um homem, minha gente/ Francamente sou do esporte/Futebol
me põe doente/Gollllll/ No galinheiro, eu irradio para o povo/ Cada gol que eu
anuncio/ A galinha bota ovo/ Transmite PRAB... B... B.../
Essa história eu li,
pela primeira vez, em um livro do jornalista Sérgio Cabral e, aos poucos, fui
descobrindo mais detalhes sobre a música. Ganhei um disco antigo da Carmem
Miranda com essa gravação que, anos mais tarde, entrou para o acervo do You
Tube.
Que massa!! pode me dizer o nome do livro que você leu?
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