Terceiro
programa “O rádio faz história”, Rádio MEC AM
"O rádio faz história." - Rádio MEC AM
Rose Esquenazi
Rose Esquenazi
O grande Almirante
Henrique Foréis: Tudo pelo rádio |
Henrique
Foréis Domingues pode ser considerado um gênio do rádio. Ele nasceu no Rio de
Janeiro em 1908, morreu em 1980. Participou ativamente do crescimento e do apogeu
do rádio brasileiro. Ele costumava escrever a palavra rádio com r maiúsculo e
tinha uma frase que costumava repetir: “Rádio só é diversão para quem ouve;
para quem faz é um trabalho como outro qualquer”.
Isso
porque para os programas que criou, produziu e apresentou, ele trabalhava
exaustivamente, pesquisando, coordenando equipes, fazendo complicadas montagens
em cada uma das atrações, isso sem computador nem nada. Não tinha isso naquele tempo. Tudo ao vivo. Ele
fazia o que se chamou de Radio-broadcasting,
com muito cuidado e profissionalismo.
Almirante
assinou 40 produções em várias estações de rádio e ficou muito conhecido em
todo o país. Ele antecipou várias fórmulas de se fazer o rádio dinâmico e
criativo, depois copiadas por diversas emissoras de rádio e, mais tarde, de TV.
Henrique
ganhou o apelido de Almirante quando era um novato na Marinha. Ele nunca foi
Almirante de verdade. Nos anos 20, em um desfile na Avenida Rio Branco, os
superiores de Henrique, que era um rapazote alto e magro, que sabia se
expressar muito bem, o colocaram na frente de um carro aberto porque o Almirante
de verdade estava viajando. Todos se perguntavam quem aquele sujeito metido e
todos diziam: “Só pode ser o Almirante”, respondiam.
Amigo
de Noel Rosa – fez parte do Bando dos Tangarás, grupo musical da turma de Vila
Isabel. Foi nesse tempo que compôs Na
Pavuna (30), * onde usou, pela primeira vez, instrumentos de percussão como pandeiro,
reco-reco, cuíca, ganzá, que eram proibidos em estúdios de gravação. Ele se tornou homem de confiança de Adhemar
Casé, e passou a fazer tudo no programa: produzia, escrevia, escolhia discos, tinha
contato com os anunciantes. Ele amava o Rádio acima de tudo.
Almirante
criou, a partir dos anos 30, o primeiro programa com a participação do público
– o Caixa de Perguntas. Ele
perguntava, as pessoas do auditório respondiam e, se acertassem, ganhavam
pequenos presentes.
Depois,
inventou História das Danças, Academia dos Ritmos, No Tempo de Noel, História
das Orquestras e Músicos do Brasil, Curiosidades
Musicais e Incrível, Fantástico,
Extraordinário, que estreou em 1947, na Rádio Tupi, o mais famoso de todos.
Era
uma ideia antiga, inspirada em um fato que aconteceu quando era criança. No
chalé que a família foi morar em Nova Friburgo, fenômenos estranhos aconteciam
diariamente. Havia barulhos incompreensíveis, a luz acendia e apagava, as venezianas
batiam sozinhas. Incrédulo, o pai chamou o vizinho para confirmar aquilo tudo.
Naquele dia, todos presenciaram as xícaras do cafezinho se espatifarem no chão
sem que ninguém tivesse feito aquilo.
Ao
inventar o programa Incrível, Fantástico,
Extraordinário, Almirante convidou o público para contar as suas próprias
histórias estranhas. Mas ele, antes, confirmaria a veracidade de cada relato.
Cada colaborador tinha que dar endereço e telefone e, caso fosse montada a
história, a pessoa ganharia um pequeno cachê. Almirante tinha uma equipe de
radioatores, como a atriz Ida Gomes, uma pequena orquestra e sonoplastas, para
dar o clima certo. Tudo ao vivo, naturalmente. Centenas de histórias foram
enviadas e produzidas. Tornou-se um programa muito popular. Ele recolheu
centenas de casos.
A
vinheta era espetacular e metia muito medo. Almirante avisava que não era
preciso temer nada porque quase todo o mundo tinha casos extraordinários para
contar de suas famílias e amigos. Coincidências, aparições, avisos, sonhos,
mensagens, pessoas mortas que voltavam ao mundo dos vivos e até se casavam,
defuntos que se vingavam dos amigos.
As
crianças eram proibidas de assistirem ao programa que era irradiado tarde da
noite. Os pais achavam que os filhos iriam ter pesadelo. Mas assim que os pais
saíam de casa, as crianças corriam para o rádio para ouvir, às escondidas, o
programa que metia medo. Anos mais tarde, esse programa foi levado à TV e o
título se tornou uma expressão corriqueira no nosso vocabulário.
Almirante
era um pesquisador nato. Ele costumava reunir todas as informações, notas de
jornais, reportagens, livros, discos sobre música brasileira e folclore em
diferentes pastas. Na época, não existia
esse tipo de museu, nem Google, departamentos de pesquisa. Ele acabou criando
um grande acervo em sua casa. Em 1965, foi tudo vendido para o Estado que criou
o Museu da Imagem e do Som (MIS), lugar de pesquisa por excelência. Agora, o
MIS vai ter nova sede em Copacabana.
Um
fato muito triste aconteceu com o Almirante quando ele tinha 50 anos.
Trabalhando muito, cansado, sofrendo de pressão alta e sem cuidar da saúde, em
1958, ele sofreu um derrame cerebral.
Perdeu a fala e a memória. Ele teve que reaprender tudo com ajuda da mulher e
de amigos. O importante no rádio é a fala. Mesmo recuperando um pouco de sua
expressão e memória, Almirante nunca mais foi o mesmo.
Se
os ouvintes quiserem conhecer mais sobre a vida de Henrique Foréis Domingues, devem
ler o livro de Sérgio Cabral, pai, No
tempo de Almirante , uma história do
Rádio e da MPB e Incrível,
Fantástico, Extraordinário, uma coleção dessas histórias, os dois editados
pela Ed. Francisco Alves.
*Almirante
também compôs Eu vou pra vila (31), Moreninha da Praia (33), O Orvalho vem caindo (1933).
Nenhum comentário:
Postar um comentário