"O rádio faz história." - Rádio MEC AM
Rose Esquenazi
Haroldo Barbosa é mais um exemplo dos
gênios do rádio. Nascido em Laranjeiras, em 21 de março de 1915 (morreu em 6 de setembro de 1979), ele exerceu
inúmeras profissões. Foi produtor, compositor, speaker, contrarregra, humorista e jornalista.
Mudou-se com a família para Vila
Isabel, onde ficou amigo de Hélio Rosa, irmão mais novo de Noel Rosa. Todos
estudaram no mesmo colégio, o São Bento. Haroldo se interessou pela música e
formou com Hélio um grupo musical que animava as festinhas e frequentava a
Rádio Educadora. Começou a ganhar cachê, que achava uma fortuna, embora
fosse irrisório! De acordo com o seu depoimento para a Collector’s, ele não era
bom instrumentista, mas dava para o gasto.
Evaldo Barbosa, seu irmão mais velho,
já era contrarregra do Programa Casé, na Rádio Philips. Estava decidido a deixar o programa quando, um dia,
bebeu demais e pediu para Haroldo fazer o trabalho dele. O irmão mais novo não
decepcionou Casé, embora o dono do horário não tenha gostado do comportamento
de Evaldo. Cuidadoso e muito curioso, de auxiliar, Haroldo passou à
contrarregra oficial do programa, mesmo depois de Casé sair da Philips. Haroldo
foi contratado como contrarregra,
speaker e arquivista.
Ele passou por diversas rádios: Rádio
Cruzeiro do Sul, Rádio Clube, Transmissora, onde foi auxiliar do speaker
esportivo Oduvaldo Cozzi. Participou da transmissão do Circuito da Gávea, na
condição de operador de amplificador que pesava 40 quilos. Era um
problema transmitir qualquer evento externo naquela época, mas era uma grande
emoção. Desde 1941, com um novo gravador que chegou à Nacional, ele começou a
recolher depoimentos na rua. Haroldo também auxiliava na
reportagem esportiva e era speaker.
Foi depois para a Rádio Nacional
contratado como discotecário e redator de publicidade. No começo, como ele
mesmo lembra, não havia muita audiência na Nacional, que fazia uma programação
de alto nível. Em 1939, porém, aconteceu uma reviravolta e o governo
incorporou várias empresas que estavam devendo impostos. Entre elas, a
Nacional. Com a entrada de Gilberto de Andrade como diretor, a emissora se
transformou, se popularizou, se equipou e ficou à frente de seu tempo.
Começava a era das novelas e de muitos
programas musicais. Haroldo estava à frente de muitas dessas iniciativas e, ao
lado de José Mauro, criou Cavalgada da Alegria, para lançar o Melhoral
no Brasil. O programa precedeu outras grandes atrações do gênero, que
movimentavam todo o cast da Rádio Nacional com melhores maestros e atores.
Haroldo também participou da
adaptação da música O luar do sertão (Catulo da
Paixão Cearense e João Pernambuco) para prefixo da Nacional. Lançado
primeiramente em ondas curtas, o prefixo foi usado depois na emissora
principal. Ajudou a criar o prefixo do Repórter Esso, usando as gravações
de fanfarras que existiam na emissora.
Veio a seguir o lançamento da Coca
Cola no Brasil, em 1943. Haroldo e José Mauro, outro gênio da radiofonia
brasileira (1916-2004), foram chamados
para criar uma nova atração e assim nasceu Um milhão de
Melodias, o mais famoso programa musical da Nacional. Ficou no ar durante
sete anos, teve uma interrupção e depois voltou em 1951, com grandes artistas
brasileiros e o comando do maestro Radamés Gnatalli e a Orquestra Brasileira.
Entrava na programação às quartas, às 20h30.
Para Um milhão de Melodias, ele escreveu mais de 500 versões de
músicas estrangeiras e, por isso, foi muito criticado. Ele justificou alegando
que queria uma maior circulação musical dentro da rádio e não seria bom ouvir Emilinha
Borba cantando um sucesso em alemão!
Nessa mesma época (início da década
de 1940), Haroldo Barbosa começou a escrever no Diário da Noite uma coluna sobre turfe chamada Pangaré.
Na década de 1950, a coluna foi transferida para o jornal O Globo.
Em uma determinada época, o
radialista fazia oito programas por semana: Às segundas, Canção romântica, com Francisco Alves e arranjos do maestro
Lyrio Panicali, e o Rádio Almanaque
Kolynos (Também com José Mauro). Às terças, Calouros
da Orquestra. Às quartas, Um milhão de
melodias. Às quintas, Espetáculos Gessy. Às sextas, Nas
asas de um Clipper. Aos sábados, Casa da Sogra e, aos domingos, Rádio semana. Todas as atrações eram um sucesso e tinham
características bem diversas.
Haroldo Barbosa abriu espaço para
gente de talento, segundo ele, mas que não tinha muita chance antes. Ele firmou
a carreira de José Vasconcellos e de Chico Anysio, por exemplo. Nos anos 50,
passou a escrever peças radiofônicas para Renata Fronzi, que era casada com o
radialista César Ladeira. Chamaram-se Vai de Valsa, Adorei Milhões, Botos em 3D e Brasil 3 Mil.
Foi compositor de sucesso: compôs Barnabé, que criticava o funcionalismo público. “Ai, ai, ai, ai
Barnabé/Funcionário letra E”. *Até hoje, o termo é sinônimo de funcionário
público em alguns dicionários brasileiros. Escreveu também Mesa de Bar, Isso não se Aprende na Escola e De Conversa em Conversa. Escreveu muitas letras
de música para a grande cantora da época, Linda Batista, que tinha um contrato
para os shows do Cassino da Urca.
Além da Rádio Nacional, passou também pela Rádio Tupi, onde escreveu várias radionovelas, e pela Rádio Mayrink Veiga onde criou a Escolinha do Professor Raymundo, com Chico Anysio. Foi demitido da Nacional depois que compôs Adeus, América, em 1948, considerada subversiva pela emissora. Ele falava que foi aos
Estados Unidos, gostou, mas que preferia o Brasil do samba. Nada demais.
Passou por várias emissoras de TV, a
partir Rio, em 1957. Depois, trabalhou
na TV Excelsior, Rede Globo. Fez parte da equipe de criação de famosos
programas humorísticos, como Chico Anísio Show, Noites Cariocas, O Riso É o Limite, A Cidade se Diverte, Times Square, Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricom e O Planeta dos Homens.
Ele era pai da escritora e roteirista Maria Carmem Barbosa,
Adeus, América
Barnabé – letra da marchinha composta por Haroldo Barbosa e Antonio Almeida (gravada por Emilinha Borba, carnaval de 1948): YouTube: de 2:41 a 5:22
· Barnabé o funcionário
Quadro extra numerário
Ganha só o necessário Pro cigarro e pro café Quando acaba seu dinheiro Sempre apela pro bicheiro Pega o grupo do carneiro Já desfaz do jacaré O dinheiro adiantado Todo mês é descontado Vive sempre pendurado Não sai desse terere Todo mundo fala fala Do salário do operário Ninguém lembra o solitário Funcionário Barnabé Ai Ai Barnabé Ai Ai funcionário Ai Ai Barnabé Todo mundo anda de bonde
Só você anda a pé...
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