Rose Esquenazi
A série do rádio virou revista em quadrinhos |
Moyses Weltman, o autor da série |
Os primeiros heróis apreciados pelos brasileiros eram importados. Super Homem, Tarzan, Homem Aranha faziam parte da imaginação popular, mas nasceram nos Estados Unidos. Essas figuras cheias de qualidades sobre humanas apareciam na forma de quadrinhos de jornais e, depois, de revistas em quadrinhos. Com o surgimento do rádio, histórias de heróis passaram a frequentar as ondas sonoras, que passaram a incluir os valentes do Velho Oeste americano. Com a proximidade da Segunda Guerra, surgiu o personagem Sombra, que já havia estourado nos Estados Unidos. Era um policial que conseguia ficar transparente e podia entrar nos esconderijos dos bandidos e ouvir todas as confissões dos criminosos. O Sombra teve uma marca que ficou conhecida durante anos: “Ninguém sabe o mal que se esconde nos corações humanos. O Sombra sabe. Rararaá".
Havia também o seriado Aventuras do
Anjo, um milionário que, nas horas vagas, tentava fazer justiça com as próprias
mãos. Todos os heróis eram importados até que, em 1953, o brasileiro Moisés
Weltman cria Jerônimo, o Herói do Sertão. O sucesso, irradiado pela Rádio
Nacional, fez sucesso imediato. Mas o criador passou por difíceis dúvidas antes
de se decidir pelo nome. Ele iria se chamar Bento Faria e teria a naturalidade
gaúcha. Mas eis que a direção da emissora preocupou-se em lançar um produto
demasiadamente regional. Quebrando um pouco mais a cabeça, Weltman chegou a
Jerônimo, sinônimo de um homem corajoso que percorreria o sertão para fazer
justiça tendo sempre ao lado o seu companheiro o Moleque Saci (Cauê Filho). Ele
era interpretado por Milton Rangel, que contracenava com várias radio atrizes
que viveram o amor de sua vida, a Aninha. Dulce Martins, Neusa Tavares e Maria
Alice Barreto preenchiam a imaginação dos jovens ouvintes. A mãe batalhadora,
a Maria Homem, também foi um grande personagem, interpretada por Tina Vita.
Maria Homem teve que reagir à violência dos poderosos do sertão que roubaram as
terras e mataram o marido.
A trilha do seriado ficou grudada na
cabeça dos ouvintes e fazia uma síntese da história. Quando ouvimos o programa
atualmente vemos que de fato envelheceu e ninguém conseguiria escutar essa a
série sem um ar de enfado. Mas, durante 14 anos, a Nacional exibiu 3.276
capítulos e, se bobear, ainda hoje podem se emocionar.
Pode-se perceber essa paixão na busca
das antigas revistas em quadrinhos que a editora Rio Gráfica lançou. No
primeiro número, esgotou rapidamente nas bancas. Tanto que a editora teve que
aumentar a tiragem 48 horas depois, segundo escreveu o escritor Ronaldo Conde
Aguiar, no livro Almanaque da Rádio Nacional (Casa da Palavra).
Jerônimo foi parar na televisão duas
vezes. Na Tupi, na década de 60, e no SBT, em 1980. Não fez muito sucesso. O
herói autenticamente brasileiro, que cavalava por regiões com características
brasileiras, também não causou nenhum impacto no cinema, na produção filmada em
1994.
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/Quem passar pelo Sertão / Vai ouvir alguém falar
/ No herói desta canção / Que eu venho aqui cantar /
// Se é pro bem vai encontrar / Um Jerônimo protetor / Se é pro mal vai enfrentar /Um Jerônimo lutador /
//Filho de Maria Homem, nasceu / Cerro Bravo foi seu berço natal /
Entre tiros e tocais cresceu / Hoje luta pelo bem contra o mal //
//Galopando está em todo lugar / Pelos pobres a lutar sem temer / Com o Moleque Saci pra ajudar / Ele faz qualquer valente tremer /
// Se é pro bem vai encontrar / Um Jerônimo protetor / Se é pro mal vai enfrentar /Um Jerônimo lutador /
//Filho de Maria Homem, nasceu / Cerro Bravo foi seu berço natal /
Entre tiros e tocais cresceu / Hoje luta pelo bem contra o mal //
//Galopando está em todo lugar / Pelos pobres a lutar sem temer / Com o Moleque Saci pra ajudar / Ele faz qualquer valente tremer /
Eu, que nasci em 1943, me lembro desse tempo, em que não havia (pelo menos na minha casa) televisão e a inteligência era maior.
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