Rose
Esquenazi
Até amanhã, de Noel Rosa,
interpretada por Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim e Zimbo Trio, 1968.
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Só
para ter uma ideia, em 1941, Almirante, o famoso Henrique Foreis Domingues,
contabilizou, no programa Curiosidades
musicais, 250 novas músicas para aquele Carnaval em tempo de guerra e
Estado Novo. Segundo o livro de Sérgio Cabral, pai, sobre o Almirante, sete
músicas ficaram conhecidas: O Bonde São
Januário; Eu trabalhei; Helena, Helena; Alala-ô, Aurora; Nós queremos uma valsa
e Poleiro de pato é no chão. Mesmo com essa grande produção de 1941, o
carnaval não foi animado. O carnaval de 1943 não aconteceu simplesmente porque
não havia clima para grandes comemorações em plena guerra.
O
Estado Novo implicava com as letras que falavam sobre malandragem e discursos
contra o trabalho. Se o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, não autorizasse,
as músicas não podiam ser gravadas nem tocadas nas rádios. No Bonde São Januário, Ataulfo Alves e
Wilson Batista tinham ironizado os operários que trabalhavam nas fábricas que
ficavam na Barreira do Vasco e que ganhavam uma miséria. A frase “Quem
trabalha, não tem razão”, eles mudaram para “Quem trabalha é quem razão”, e em
vez de “O Bonde São Januário leva mais um sócio otário” por um “operário”. Só
assim puderam gravar. Vamos ouvir “O Bonde São Januário no CD 1 dos Os grandes sambas da história, faixa 11.
O
pesquisador José Ramos Tinhorão, no livro Pequena
História da Música Popular (Vozes), explica que “os gêneros de música
carnavalesca”, o samba e a marcha, além de toda a sua evolução posterior, foram
fixados um pouco antes de 1930. Segundo Tinhorão, a evolução social das classes
a que se dirigiam, no caso, a classe média branca, “ganhou no Estácio o ritmo
bancado com a geração de compositores da camada mais baixa: Ismael Silva,
Nilton Bastos, Bide, Armando Marçal, Heitor dos Prazeres.
Para
o pesquisador, “com o aparecimento de compositores profissionais dos meios do
rádio e das fábricas de discos – Ari Barroso, Lamartine Babo, João de Barro,
Noel Rosa, Assis Valente, Haroldo Lobo, Ataulfo Alves” – houve uma mudança no
andamento do samba carnavalesco para o meio do ano sob o nome de samba-canção.
Nas
músicas bem-humoradas, bem sacadas, sintéticas e que grudavam no ouvido do
público surgiam tipos dessas novas camadas que apareciam na cidade, como a
melindrosa e o almofadinha. Nas charges dos jornais, esses tipos apareciam,
principalmente, nos traços de J.Carlos. O
dentista Freire Júnior ajudava a fazer o perfil na música: “Melindrosinha/Moça
chique e vaporosa/Elegante e bonitinha/Perfumada como a rosa/Namoradeira/Com
vontade de casar/os botões de laranjeira/Nos dão muito o que pensar”.
Antes
da estreia do rádio no Brasil, em 1922, temos que citar a primeira música feita
especialmente para o Carnaval: trata-se de Ó
Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga, de 1899.
Só para situar os ouvintes, citaremos Sinhô, o pianista profissional
também responsável pela “fixação da música na sua primeira fase”. Depois, registra-se
a criação coletiva na casa da baiana tia Ciata, que tinha um terreiro de
candomblé na Cidade Nova (Praça Onze), registrada por Donga (Ernesto Santos),
em 1916. Chamava-se Pelo Telefone, a
primeira música que ganhou o selo de “samba”, na gravadora Odeon. Começava a
identificação cada vez maior da classe média com a marcha. O pianista José
Francisco de Freitas, compôs a marcinha Eu
vi: “Eu vi/Eu vi/Você beliscar Lili”. Esse lançamento aconteceu em 1926, um
ano antes da estreia de Lamartine Babo, com a marcha Os Calças Largas. Lamartine
foi um gênio das marchinhas carnavalescas.
Teu cabelo não nega, de
Lamartine Babo e Irmãos Valença, 1931
Linda Morena,
Lamartine Babo, 1932, do CD 2.
Havia
também vários concursos para descobrir novas músicas carnavalescas, muitas
vezes, promovidos por jornais e revistas da época. Eu encontrei a lista dos
quatro melhores do concurso de 1931, patrocinado pelo Jornal do Brasil e pela gravadora Casa Édison. Nas letras misturam-se
bom humor e ideias politicamente incorretas se comparadas com o olhar da
atualidade. Em primeiro lugar, ficou Bonde
errado, com mil votos. Em segundo, Olha
a crioula, com 600 votos. Em terceiro, Não
dou, com 446 votos. Em quarto, Encurta
a saia.
Almirante
mostrava em Curiosidades musicais a
riqueza e a qualidade musical das marchas carnavalescas. O programador,
apresentador e produtor também fazia extensas pesquisas sobre os carnavais do
passado e trazia para os ouvintes os sucessos que se tornavam clássicos. Ele
era incansável e mostrou isso em duas fases do programa Curiosidades. Ele tanto podia contar a história da Mangueira, como
a trajetória da capoeira, por exemplo. Quando foi para a Rádio Nacional, em
1938, ele já tinha ganhado experiência na Rádio Philips, no Programa do Casé, na Rádio Transmissora
e Rádio Club. Mas foi na Nacional que seu brilhantismo ficou ainda mais em
evidência. Ele sabia narrar, imitar vozes de criança, mulher, de estrangeiros,
com a maior naturalidade, produzir, pesquisar, escrever, tocar, entrevistar.
É
bom lembrar que Almirante também era músico e havia participado em dois grupos
musicais importantes: o Flor do Tempo, com seus colegas do colégio, entre eles,
o genial Braguinha e Noel Rosa. Aliás, Almirante casou-se com a irmã de
Braguinha, apelido de Carlos Alberto Ferreira Braga. Como Carlinhos não queria
que o pai dele – um rico gerente da Fábrica de Tecidos Confiança - soubesse que
ele estava metido em música, coisa vista com desdém por muitos, usou o
pseudônimo de João de Barro, no segundo grupo musical de Almirante, os Turunas
da Mauricéa. Isso porque ia estudar arquitetura e não há, na natureza, passarinho
que construa casa melhor do que o joão de barro. Ele achou que valia a pena não
arriscar.
Braguinha
compôs durante 60 carnavais ininterruptos canções maravilhosas e que são
cantadas até hoje. Por exemplo: Pirata da Perna de Pau, Chiquita Bacana, Touradas
de Madri, A Saudade mata a Gente, Balancê, As
Pastorinhas, Turma do Funi. Em
1937, Carmem Miranda gravou Balancê e,
em 1938, foi a música mais tocada no carnaval, com 2357 execuções, segundo
dados do ECAD.
Com Touradas
em Madri, Braguinha venceu o concurso carnavalesco de 1938, mas, depois, a
música foi desclassificada porque chegou-se à conclusão que o ritmo não era
brasileiro. Pensando bem foi um critério bem ridículo. Em 1950, a canção
foi cantada por cerca de 200 mil pessoas durante a partida contra a Espanha na
Copa do Mundo de Futebol no Maracanã.
Touradas em Madri: https://www.youtube.com/watch?v=PFE2UNSu5Hs, de 1938 e que fez sucesso na Copa de 50. YouTube.
Para
mostrar um pouco do clima do Carnaval do passado vamos ouvir:
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