Volto a escrever sobre a maior cantora brasileira de todos os tempos, em minha
opinião, e claro, de muitos outros fãs: Carmem Miranda.
Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu
em 1909, em Canavezes, área rural de Portugal, e morreu em 5 de agosto de 1955.
Os 60 anos de sua morte não foram muito divulgados e as homenagens ficaram no
meio do caminho. Onde está a estátua que iriam inaugurar no Centro ou em Copacabana? Quando será aberto o novo Museu da
Imagem do Som, data tantas vezes adiada,
e que promete uma ala grande com o acervo da cantora? Isso porque já fecharam o Museu Carmem Miranda
no Flamengo há muito tempo. O museu foi
inaugurado em 1976 com roupas, sapatos de plataforma, turbantes e bijuterias,
algumas criadas pela própria Carmem.
Ano
passado, morreu Doni Sacramento, um dos maiores admiradores de Carmem. Criador
de uma página somente para a Pequena Notável, o professor Sacramento investia tudo
que ganhava para alimentar o site de sua paixão absoluta. Tentei checar essa página e está fora do ar. Chamava-se: www.carmen.miranda.nom.br.
Ainda bem que a família mantém um site ativo.
Hoje
vou me concentrar na Carmem Miranda antes de ir para os Estados Unidos, em 1939,
onde continuou a carreira com muito sucesso. Vamos falar sobre como o rádio e a cidade do Rio moldaram o astral e o
jeito de ser da cantora. Os fãs podem repetir o trajeto de Carmem pela cidade. Podemos
dizer que ela foi pioneira de sua geração ao crescer dentro do universo
radiofônico brasileiro.
O
primeiro endereço da família de Carmem no Brasil, chegada de Portugal, muito
pobre, foi em São Cristóvão, mas não se tem o registro exato. O segundo foi na Rua Senhor dos Passos, 59, no
SAARA. Depois, a família se mudou para a
Rua da Candelária, 50, hoje, número 94.
Dos seis aos 16, Carmem morou na Rua Joaquim Silva, 53, casa 4, na Lapa.
Não existe mais a casa na vila, mas foi ali, no meio da boemia, que ela
conviveu com vários tipos de pessoas, de escritores a músicos, prostitutas,
malandros e jornalistas.
A
família ainda morou na Travessa do Comércio, 13, Praça XV, de 1925 a 1932. Ali funcionava
pensão de Dona Maria, mãe de Carmem, lugar frequentado por Pixinguinha, Donga e
João da Baiana. Foram eles que abriram o
caminho do samba para ela. O pai era barbeiro e não ganhava muito, todos tinha,
que ajudar no orçamento.
A família, muito musical, também ajudou nessa
formação artística. Anos mais tarde, Carmem vai gravar uma música do famoso Sinhô: a Burucuntum. Nas ruas do Passeio, Ouvidor e
Gonçalves Dias, Centro da cidade, Carmen trabalhou na juventude em casas de
artigos femininos, de chapéus, aprendendo a confeccioná-los. Depois, foi para uma
loja de artigos masculinos, defronte à Confeitaria Colombo. Era muito admirada
pelos clientes e cantava enquanto trabalhava, coisa que o proprietário não
gostava muito. Enquanto isso, ela e sua irmã mais velha, Olinda, já começavam a
cantar amadoramente nos bistrôs dos arredores. Carmem
amava o samba e os novos compositores que estavam surgindo e que se reuniam na sua
casa.
Em uma festa conheceu o
seu mentor, o compositor e
violonista baiano Josué de Barros. Foi o primeiro a reconhecer o seu talento e
graça. Ele disse, anos mais tarde: “Havia uma luz intensa nos olhos de Carmem e algo de elétrico no seu sorriso”. Foi ele quem a levou para a Rádio Sociedade.
Foi bom o seu teste.
O primeiro disco foi
gravado em 1929: o samba Não vá simbora
e o choro Se o samba é moda, os dois
de autoria de Josué de Barros.Vamos ouvir um trecho da música Ta-hi,
de Joubert de Carvalho, gravada em 1930. O público, ainda incipiente, gostou da
voz de Carmem, os erres e os esses tão característicos dos anos 30. Gostou tanto que comprou 36
mil cópias dos discos com Ta-hi. Um número marcante.
Engraçadinha,
criativa, espontânea, meio moleque, Carmem não hesitava em falar um ou outro
palavrão. Foram 40 músicas
gravadas somente neste ano de 29, quando recebeu os títulos de “Rainha do
Disco” e a “A Maior Cantora Popular Brasileira”. Um verdadeiro recorde,
sobretudo para uma cantora tão jovem.
Em
1931, f ez uma turnê internacional para a Argentina e teve tanto sucesso que
voltou oito vezes. Na primeira vez, cantou ao lado de Francisco Alves, o Rei da
Voz, Mário Reis, e o bandolinista Luperce Miranda. Carmem se tornou um
ícone lá também, com o apelido de Carmencita. Cantou na Rádio El Mundo e era
querida por todos.
Em
1932, os anúncios foram permitidos para ocupar 20% e depois 25% da programação.
Mas antes disso, nos anos 20, ninguém ganhava um centavo com o rádio que estava
proibido de veicular anúncios. Cantava-se por gosto e na esperança de, um dia,
ser reconhecido. Em 1933, Carmem
gravou a música As Cinco Estações do Ano, de Lamartine Babo, ao lado dos músicos e amigos Lamartine Babo, Mário Reis, Almirante e o Grupo do Canhoto. Foi uma farra ao microfone
para festejar as cinco maiores estações de rádio naquele ano: Rádio Club, Rádio
Philips, Rádio Sociedade, Rádio Mayrink e Educadora.
O sonho
de entrar para o cinema se realizou a partir de 1926, quando foi extra no filme
A esposa do solteiro. Depois, em
1930, em Degraos da vida, quando ainda se escrevia degraus com o. Em 1932,
participou de O Carnaval Cantado de 32 e,
em 1933, Alô, alô, Carnaval. Ao lado
da irmã Aurora Miranda, interpretou uma das músicas ícones do rádio brasileiro,
Cantoras do rádio, de Alberto Ribeiro, João de Barro e Lamartine Babo.
Nós
somos as cantoras do rádio, levamos a vida a cantar
De
noite embalamos teu sono,
de
manhã nós vamos te acordar
Nós
somos as cantoras do rádio,
nossas
canções cruzando o espaço azul
Vão
reunindo num grande abraço corações de Norte a Sul.
Canto
pelos espaços afora
Vou
semeando cantigas, dando alegria a quem chora
(bum,
bum, bum, bum, bum)
Carmem
estava subindo como um foguete e foi a primeira a ganhar um salário fixo no
lugar dos cachês pequenos que os intérpretes gostavam ganhar, eventualmente,
quando se apresentavam nas estações. Foi do elenco fixo da Mayrink Veiga, ao
lado do diretor artístico que se tornou grande amigo, César Ladeira.
Todos os compositores queriam
escrever músicas para Carmem porque era sucesso certo. Foi o caso de Assis Valente, grande artista
que deu para Carmem nada menos do que seis canções. Entre elas, Good-bye, Camisa Listada, Uva de caminhão. Com Mário
Reis, em 1934, cantou para o Carnaval a música Alô, Alô. Outro sucesso.
A família se mudou mais
uma vez, agora para a Travessa do Comércio, no Arco dos Teles. A casa foi
tombada pelo Patrimônio Cultural e tem
hoje o nome de Carmen Miranda House in Club,restaurante e videokê que faz homenagem à Pequena Notável. Com o tempo, a família já tinha dinheiro para se mudar para uma casa
maior. Foram todos para a Rua André Cavalcanti, 229, no Curvelo, em Santa
Tereza, Moraram ali de 1932 a 1934. Felizmente também foi tombada
pelo Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. De 1934 a 1936, se mudaram para a
Rua Silveira Martins, 12, hoje, 20, no Catete.
Fica ali o Hotel Inglês, em frente ao Museu da República, Ainda não há
qualquer referência ao fato de o lugar já ter sido residência da artista.
Em 1936, ao lançar a Rádio Tupi de São Paulo, Assis Chateaubriand
resolveu fazer uma loucura. Ofereceu a Carmem Mniranda um cachê que superou ao
da Mayrink. Ela aceitou e provocou uma tempestade na imprensa. Como uma cantora
de sambas, uma música considerada vulgar, conseguia tanto dinheiro? Essa era a
questão. De volta ao Rio, foi recontratada pela Mayrink Veiga. Carmem nunca
trabalhou na Nacional, curiosamente.
O último endereço de Carmem no Brasil antes de ir para os EUA
foi na Avenida São Sebastião, 131, Urca. A proximidade com o Cassino da Urca
facilitou a vida da cantora que se apresentava lá. Seu número O que e que a baiana tem?, vestida a
caráter, fez parte do filme Banana na
Terra, de Wallace Downey, de 1939. A música era e
Dorival Caymmi, um jovem que vinha da Bahia em busca de um lugar na música na
Capital.
Foi no Cassino da Urca que a vida de
Carmem Miranda mudou mais uma vez, ao ser convidada para trabalhar nos Estados
Unidos. Será que existe uma placa no prédio atualmente. É claro que não! Vamos
ouvir um trecho de O que é que a baiana tem no YouTube?
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