Rose
Esquenazi
“Você
sabia que a mosca é um dos insetos mais ligeiros e que se pudesse voar em linha
reta levaria 28 dias para atravessar o mundo todo? Você sabia?” É claro que
não, qual é a importância de conhecer esse fato besta? Mas, há muitos anos, era
o tipo de questão que ajudava acordar os neurônios dos estudantes, comerciantes
e todos os trabalhadores do Brasil às 5, 6, 7 horas da matina. Era uma época em
que ainda não existiam celulares, computadores e modernos despertadores
digitais. A Rádio Relógio Federal marcou o público de rádio por sua
pontualidade e por suas informações tipo revista Seleções: cultura inútil e outras nem tanto assim. A Rádio Relógio
foi, por décadas, uma das mais interessantes rádios que o Rio já teve.
Apesar do
inconveniente de madrugar como os galos, muita gente morre de saudades da Rádio
Relógio, até hoje. A emissora fornecia a hora certa minuto a minuto,
acrescentando as curiosidades mais loucas durante todo o dia. O importante era
que a rádio estava conectada ao Observatório Nacional, que enviava o áudio da
hora certa oficial do Brasil. Um aparelho de rádio era o eletrodoméstico mais
importante de uma casa antes da TV. Mesmo depois que a TV foi inaugurada no Brasil,
em 1950, em São Paulo, nem todo o mundo teve dinheiro para comprar um aparelho
de TV, que custava caro. Ou seja, o móvel grande, de madeira, levou um tempo
para ocupar a sala, além disso, havia poucas estações disponíveis. O rádio
dominou a comunicação ainda na década de 50.
Outro
dia, perguntei ao publicitário Kiko Fernandes sobre a Rádio Relógio, e ele
imediatamente recitou: “Você sabia que o caranguejo olha para trás achando que
está olhando para frente?” Que coisa enigmática, hein? O jornalista Giovanni
Faria também foi rápido ao se lembrar de outras perguntas: “Você sabia que a
melancia tem 95% de água?” E que o “mosquito é capaz de voar um quilômetro em
sete minutos?” É engraçado como essas pérolas não se perderam na nossa memória.
A Rádio Relógio Federal
foi fundada em 1956 e marcou época na história do rádio brasileiro. O rádio na
sintonia de AM 580 Khz apresentava primeiro um toc toc toc incessante dos
segundos ao fundo e uma transmissão mais ou menos assim: "Você sabia? O
primeiro cronômetro marítimo foi construído no ano de 1715 pelo inglês John
Harrison?”
Nessa época, muitas mães abriam a porta do
quarto das crianças lá pelas 6h manhã ameaçando os filhos. “Vocês vão perder a
hora!” É claro
que a Rádio Relógio já estava ligada. O toc toc dos segundos
continuava ao fundo desesperando os mais lentos ou os que não queriam mesmo ir
para a escola. "Você sabia que a pulga consegue pular a uma distância
correspondente a 350 vezes o comprimento do seu corpo. É como se um ser humano
pulasse a distância de um campo de futebol. Cada minuto que passa, um milagre
que não se repete, toc toc toc, seis horas, cinquenta e cinco minutos, zero
segundo pim pim pim toc toc toc...”
O nome da rádio se justificava: durante as 24 horas de programação, ouvia-se o "tique-taque" de um relógio, e nas viradas de minuto a minuto, entrava uma voz feminina falando a hora certa. Vamos ouvir um trecho do Rádio Relógio? https://www.youtube.com/watch?v=0uVqMJmRAS8
Você
sabe de quem era essa voz feminina? O
pim pim pim mais fino entrava sempre depois que a hora certa era informada
minuto a minuto, 24 horas por dia, pela voz da locutora Iris Lettieri. Conversei
com ela na sexta-feira e constatei que ela mantém a mesma voz, apesar de ter passado dos 70. Ela
explicou que já era locutora quando foi convidada para gravar todos os minutos.
Não precisava ir à estação de rádio todos os dias. Mas muita gente pensava,
principalmente as crianças, que a pobre locutora Iris sofria em cárcere privado
e ficava 24h sendo obrigada a dizer a hora certa a cada minuto. Ela só podia se
alimentar ou ir ao banheiro no intervalo entre cada minuto que informava. Já pensou?
E os cochilos da
locutora, como seriam, se ela logo "tinha" que voltar correndo para
dizer: "Seis horas, cinquenta e seis minutos, zero segundo?” Pim pim pim
toc toc toc...." O engraçado é que Iris me contou que essa história de
cárcere privado também existiu quando convidava os passageiros a embarcar nos
principais aeroportos do Brasil. Muita gente achava que ela morava no Aeroporto
Internacional! A sua voz sensual
amenizava o medo do avião. Tanto que a “Voz do Aeroporto”, como é chamada, ainda está presente no Tom Jobim nos avisos
especiais e no BRT. Reconhecida como Patrimônio do Rio, o prefeito Eduardo Paz
fez questão de fazer esse novo convite. Você sabia, Marco Aurélio?
Ah, quem estiver com
saudades da Iris Lettieri pode acessar o site todo sonorizado: http://www.irislettieri.com.br/
Ali, pode-se saber que ela foi a primeira locutora de telejornal da TV
brasileira, gravou spots até em russo e que foi garota propaganda e atriz de
várias emissoras de TV.
É claro que as gravações das 24h reproduzidas
minuto a minuto pela Rádio Relógio foram feitas aos poucos, em um antigo
equipamento chamado Gerador de Hora Falada, fabricado pela firma alemã. Com o
tempo, passou a ter mais notas jornalísticas, utilidade pública, e
continuava com os textos gravados por locutores, com inúmeras curiosidades.
Voltando
ao Rádio Relógio: há pouco tempo, o blog assinado por Cássio Ribeiro incluiu um
trecho do programa. Uma enxurrada de antigos ouvintes decidiu comentar. As
observações são muito divertidas. Há muita saudade e emoção envolvidas nesses
depoimentos. As pessoas sentem falta dos conteúdos de informação por mais
loucos que possam parecer. Um ouvinte afirma que aprendeu muita coisa ali. Isso
incluía a ladainha dos anúncios repetitivos pelas mães, vovós e criancinhas:
“Galeria Silvestre, a Galeria da Luz”. Outro anúncio: "Material
elétrico, alta e baixa tensão, atacado e varejo, R. Pinto, que canta de galo
com preço de milho picado. General Caldwell, 173, pertinho da Central. Pneu
carecou? HM trocou”.
Nem
todo mundo tinha relógio de pulso naquele tempo. O despertador também não era
infalível, funcionava com corda e podia se quebrar com facilidade. Nada melhor
do que a Rádio Relógio para conferir a hora certa. No começo, quase não havia notas jornalísticas
na programação que ficava muitas horas no ar, ao vivo. Era mais utilidade
pública, textos enciclopédicos com curiosidades diversas sempre precedidas ou
sucedidas com a instigante pergunta-bordão: Você sabia que a formiga
pode levar 70 vezes o seu peso? A luz do sol demora aproximadamente 8 minutos e
meio para chegar à Terra; o prezado ouvinte sabia? Toc toc toc, seis horas,
cinquenta e quatro minutos, zero segundo, pim pim pim toc toc toc.”
As pessoas começavam o dia com essas fabulosas
informações repetidas no ônibus escolar para o coleguinha que se sentava ao
lado. “Você sabia que “o coração da baleia da Groelândia pode pesar até cinco
toneladas? E que a palavra maricá tem origem no Tupi, e significa capim de
espinhos?” O locutor principal, não consegui
saber o nome dele de jeito nenhum, continuava infinitamente dizendo: “Rádio
Relógio Federal: cultura, notícias e a hora certa do Observatório Nacional, 24
horas no ar, minuto a minuto.” E assim a programação fluía. No lugar de
ponteiros girando, ou números digitais se sucedendo, as vozes, o toc toc toc e
o pim pim pim incessantes ecoavam no rádio.
A programação foi homenageada na abertura do filme A Hora da Estrela, de Suzana Amaral, lançado em 1985. A personagem Macabéa, moça solitária e pobre que Clarice Lispector criou, revelava, ao ouvir A Rádio Relógio, toda a sua pequenez e humildade.
A Rádio Relógio Federal
passou a pertencer, em 1966, à denominação evangélica Igreja Pentecostal de
Nova Vida, do Bispo Roberto McCallister. À exceção dos domingos, quando
transmitia os cultos da Igreja de Nova Vida das 7h da manhã às 23h, a
programação diária da Rádio era a seguinte:
Do minuto zero ao minuto 10: Cinema no relógio
Do minuto 10 ao minuto 15: Agenda relógio
Do minuto 15 ao minuto 20: Relógio Notícias
Do minuto 20 ao minuto 30: Falando de Esportes
Do minuto 30 ao minuto 35: Café Espiritual com o bispo Roberto
Do minuto 35 ao minuto 45: Movimento cultural da relógio
Do minuto 45 ao minuto 50: Relógio Notícias
Do minuto 50 ao minuto 59: Você sabia?
No ano de 2000, depois da morte de Robert McAlister, a rádio foi vendida
a Igreja Internacional da Graça de Deus, onde passou por diversas fases. A
primeira que durou até 2006, onde a Rádio Relógio adotou uma programação com
música gospel, mensagens do Missionário R.R. Soares, informações jornalísticas
e participação de ouvintes. Em fevereiro de 2007, a emissora adotou uma linha
jornalística, no estilo all news, sem música, mas com programas populares, de
esportes e religiosos. Esta programação foi mantida até maio de 2009. A partir
desta época, a emissora passou a repetir a programação da Nossa Rádio FM.
Em mais de 60 anos de história, a Rádio Relógio Federal oscilou nos
primeiros lugares entre as emissoras de AM da capital fluminense. A emissora já
ocupou entre o terceiro e oitavo lugar. Com base em dados de março de 2013, o
Ibope garantiu que a emissora ocupava há dois anos a quinta colocação. Espero
que os nossos ouvintes se lembrem de boas histórias ao ouvir novamente a Rádio
Relógio.
O advogado Orias Borges Leal, de Vila Velha, do
Espírito Santo, por exemplo, escreveu no site de Cássio Ribeiro que gostaria de
ser criança novamente para se lembrar do tempo em que viveu no interior de
Minas Gerais. Segundo ele, era uma época “em que o relógio de pulso era
novidade e as pessoas sabiam a hora certa pela Rádio Relógio Federal. “Êta
tempo bom!”, registrou o advogado que cresceu ouvindo a Rádio Relógio na
frequência de 4.905 Khz, na faixa de 60
metros.
A internauta Ilka também
ficou muito emocionada ao ouvir novamente as pílulas da Rádio Relógio. Ela
escreveu assim: “As emoções para mim são em dobro e de arrepiar, até
chegar às lágrimas porque nasci em 1957, a menos de 100 metros de onde ficavam
os transmissores da Rádio Relógio Federal. No topo do morro, que tinha nos
fundos de minha casa, ficavam as três torres de transmissão. Eu passei minha
infância ouvindo a Rádio Relógio.” Na casa de Ilka, na Rua Gerônimo Afonso,
287, no Fonseca, em Niterói, só pegava a Rádio Relógio. Coitada, né?
Eu gostava muito do vc sabia? (Até fiz o meu próprio vc sabia?). Que diz assim: você sabia que: quando a rádio relógio pergunta se vc sabia é porque vai te dizer o que vc não sabia. o prezado ouvinte sábia? Poc. poc. poc sete horas cinquenta e dois minutos dez segundos Pim Pim pim.
ResponderExcluirBoa, Renato. Sua criatividade merece uma medalha comemorativa. Parabéns. Fico feliz por saber que existem pessoas que como vc até os dias de hoje sentem saudade dos tic tacs daquela saudosa época. Época feliz a qual nasci e vivi, ouvindo sempre minuto à minuto a hora certa e as curiosidades q eram apresentadas. Mais uma vez, Parabéns!
ExcluirEu gostava muito do vc sabia? (Até fiz o meu próprio vc sabia?). Que diz assim: você sabia que: quando a rádio relógio pergunta se vc sabia é porque vai te dizer o que vc não sabia. o prezado ouvinte sábia? Poc. poc. poc sete horas cinquenta e dois minutos dez segundos Pim Pim pim.
ResponderExcluirEu gostava muito do vc sabia? (Até fiz o meu próprio vc sabia?). Que diz assim: você sabia que: quando a rádio relógio pergunta se vc sabia é porque vai te dizer o que vc não sabia. o prezado ouvinte sábia? Poc. poc. poc sete horas cinquenta e dois minutos dez segundos Pim Pim pim.
ResponderExcluirQue época boa! Meus pais ligava essa radio pela manhã para que eu e meus irmãos não perder a hora de ir pra escola.lembro de uma palavra muito bonita do saudoso bispo Roberto Mccalister ele dizia assim:"Que Deus abençoe em rica e abundantemente"
ResponderExcluirEu gostaria muito de sintonizar novamente a rádio relógio. Pois minha mãe tem 90 anos e isso a ajudaria demais, já que ela sempre gostou de ouvir e saber a hora certa. Até hoje ela vive perguntando a hora certa...
ResponderExcluirBoa noite, amigos. Nasci em 1956, em Teresópolis,RJ, e comecei a trabalhar aos 10 anos de idade. A Rádio Relógio Federal me acompanhou (ou eu quem a acompanhei?...), como minha fonte de informações, e como meu despertador, até 1985. Nunca me esqueço das palavras do pastor R. McCallister, e do inconfundível e inesquecível "você sabia?".
ResponderExcluirBons tempos aqueles; sem internet; sem as tecnologias de hoje! Sinto muita falta dessa época lírica, sem as mazelas de hoje.
quem quem quem sera que vai fazer uma presente nova radio relogio igual otimos locutores como sera que chama o dono que a inaugurou em 1956 eu torço pra trazerem de volta uma nova radio relogio igual a primeira que otimo sera nesses anos presentes 03-08-2019 samuel de almeida
ResponderExcluirEu hj escrevo diariamente no meu status do wats as curiosidades q me lembro da saudosa época d rádio, a maioria me PG o que e rádio relógio e eu só cito a 1° curiosidade q gravei:
ResponderExcluirVc sabia? O gato só passo por 1 abertura se o seu bigode passar 1°.
Aí explico q os caminhões de entrega tem aquela " antena" na cabine do motorista justamente representando o bigode do gato.
Rádio relógio fazendo o povo ter + CULTURA.
Gostei!
Excluirtenho boas lembranças da epoca que essa radio nos informava as horas e nos deixava cada vez mais sabios com as curiosidades
ResponderExcluirGŕañde Radio. Muito útil
ResponderExcluirQueria que voltasse
ResponderExcluirVelhos tempos, belos dias!
ResponderExcluirNesSá época,consetrava rádios e a Rádio relógio era uma referência para mim, ajustar a frequência de 580 krz, que aproximadamente ficava em um dos extremos do dia. Saldados mil!
Olá, gostaria de saber como ter acesso ao acervo gravado da rádio relógio com o "você sabia?" Onde está esse material ?
ResponderExcluirObrigado!