Rose Esquenazi
Escute no Youtube a música 'Estrada do sol', gravação
de 1959, com interpretação de Agnaldo Coniglio Rayol. Aos 79 anos, em dezembro de 2017, o cantor mora em São Paulo e ainda possui uma voz potente e fãs fieis.
Agnaldo nasceu
no Rio de Janeiro, no dia 3 de maio de 1938. Com três anos de idade, em 1941,
durante o período da Segunda Guerra, gravou um disquinho de acetato colorido em
uma agência dos Correios e Telégrafos. Na época, havia estúdios com microfones
“jacaré”, forrados de chita. O tio Edgar e avó Anésia quiseram fazer uma
surpresa para os pais de Agnaldo e, sem querer, deram início à carreira do
garoto.
Logo, estreou
como talento mirim na Rádio Clube e depois na Nacional, durante o programa 'Papel Carbono', de Renato Murce.
Agnaldo tinha apenas cinco anos de idade quando cantou na Clube. Foi
considerado prodígio. Estreou cedo também no cinema. Assim que chegou a Natal, onde foi morar com
os pais, Agnaldo recebeu um convite para participar do filme 'Maior que o ódio', no Rio de Janeiro. O
diretor José Carlos Burle rodava o filme policial e convenceu Agnaldo a fazer o
papel de Jorge Dória quando criança.
Ainda
muito jovem, fez parte do elenco de 'Também Somos Irmãos'. De volta a Natal,
onde morou durante seis anos, Agnaldo foi trabalhar na REN, Rádio Educadora de
Natal. Graças ao blog de Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto, soube que, anos antes,
a pequena população da cidade sequer tinha um aparelho de rádio em casa. Nos
anos 50, essa situação mudou. Dos amplificadores de som instalados nas praças, que
irradiavam os programas, os natalenses passaram
a ter seus próprios receptores para ouvir a Rádio Poti, o novo nome que a REN
passou a ter ao fazer parte da taba de emissoras de nomes indígenas de Assis
Chateaubriand.
Agnaldo
Rayol foi discotecário e sonoplasta justamente nessa época quando a voz dele
mudava. Ele mesmo contou sobre essa fase da vida, abre aspas: "Dos 14 aos 16, fiquei fazendo sonoplastia e trabalhando no
rádio. Quando a voz melhorou, entrei como solista para o trio Puracy,
cantando com Perci e Pajeú. Quem deu o nome foi o Luiz da Câmara Cascudo,
especialista em cultura popular brasileira. Puracy quer dizer na língua
indígena barulho de vozes. Na verdade, era um barulho mesmo!", brinca
Agnaldo, que chegou a viajar de ônibus para São Paulo para gravar uma
música de carnaval num disco de 78 rotações.
"Meu irmão Reinaldo vendia de porta em porta. Mais
tarde virou compositor", contou Agnaldo.
De volta
ao Rio de Janeiro, em 1956, não quis dar mais continuidade à carreira de rádio
ator. Ganhava pouco, não tinha muito destaque.
Decidiu procurar emprego na TV, no programa Festival de Vozes. Curiosamente, cantava escondido a música Ave Maria, de Vicente Paiva.
O público
gostou e ficou curioso: quem era aquele cantor?
Ele iria aparecer no programa da semana seguinte, cantando 'Aquarela do Brasil' para Teresinha
Morango, eleita Miss Brasil e segundo lugar no concurso de Miss Universo.
Agnaldo entrou
na Rádio Tupi em 1956 e, em 1958, foi convidado a gravar o primeiro disco, pela
Gravadora Copacabana. O jornal Correio da
Manhã estampou um ”ótimo” ao descrever o primeiro disco de 78 rotações, com
as músicas 'Prece' e 'Se todos fossem iguais a você'. Com seu vozeirão, Agnaldo Rayol dava
continuidade à geração de cantores de vozes fortes e potentes, como Francisco
Alves e Vicente Celestino. Chegou a cantar para o presidente Juscelino
Kubitschek e passou a ganhar vários prêmios. Ele conseguiu colocar a voz no
seguro, o maior bem de sua vida. Impressionou tanto ao cantar 'Ave Maria' que, durante muitos anos,
dezenas de noivas pagavam caro para tê-lo na igreja entoando a canção.
Na Rádio
Nacional, Agnaldo era o cantor que ficava de stand by, quando os nomes mais famosos não apareciam por algum
motivo, ele era chamado a assumir o microfone. Os programas eram os mais
famosos da época, comandados por Manoel Barcelos e Paulo Gracindo.
Agnaldo
sempre manteve as duas carreiras unidas, a de ator e cantor. Em 1959, interpretou a música Luar de Paquetá, ao lado de Nelly Martins, no filme Garota enxuta. O bairro carioca, que
volta a estar na moda atualmente, era, nos anos 50 o destino certo para
namorados e crianças em férias. Agnaldo ficou amigo de Angela Maria, que estava
fazendo grande sucesso, ganhando todos os troféus e títulos promovidos pelas
revistas especializadas no mundo do rádio. Muitas vezes, os sucessos de Angela
e de Agnaldo coincidiam, como no caso da música 'A noiva'. Os críticos achavam brega a letra, mas o público gostava
mesmo assim. No caso, a noiva estava se casando com uma pessoa de que ela não
gostava! A letra diz assim:
Branca e radiante vai a noiva // Logo a seguir, o noivo amado // Quando
se unirem os corações // Vão destruir ilusões ///// Aos pés do altar, está
chorando // Todos dirão que é de alegria // Dentro,
sua alma está gritando ‘Ave Maria’.
A
carreira de Agnaldo Rayol estourou mesmo nos anos 60, ao receber convites da
antiga TV Record para ter seus próprios programas de televisão. Ao lado do
humorista Renato Corte Real, o cantor apresentou 'Agnaldo RayoI Show' e 'Corte
RayoI Show'. Curiosamente, durante
uma época, também integrou a turma da Jovem Guarda, ao lado de Roberto, Erasmo
e Wanderléa. No cinema, fez parte do filme 'Perigo
à vista', de 1969.
Não negou
os convites para atrabalhar em novelas, a partir de 1964: 'Mãe', 'O
Caminho das Estrelas' (1965), 'A
Última Testemunha' (1968), 'As
Pupilas do Senhor Reitor' (1970)
e 'Os Imigrantes' (1981).
Marcou a novela 'Rainha da Sucata'
cantando Ave Maria.
São muitos os filmes e
novelas em que trabalhou como ator e cantor. Em homenagem aos soldados
brasileiros, anos depois de eles terem voltado da guerra, foi composta 'Mia Gioconda'. Agnaldo cantou novamente essa música para
a novela 'O rei do gado', em 1996. Em 2012, a vida do cantor virou musical:
'Agnaldo Rayol – A alma do Brasil'. O
último CD,
'Agnaldo Rayol e amigos', foi gravado em quatro dias de cruzeiro. estavam a seu
lado os amigos de toda a vida, como Jerry Adriani e Angela Maria.
Geraldo José da Silva Junior, o Pajeú, foi jogador do América e ABC em Natal.
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