Rádio Blog 22/6/2015
Rose Esquenazi
Maria Parkinson, neta de João Parkinson - introdutor do
automobilismo no Brasil e coordenador do Circuito da Gávea - entrou em
contato comigo e fez algumas observações e correções importantes. Em primeiro
lugar, ela disse que todo o acervo do Automóvel Club do Brasil está em São
Paulo e que o grupo está tentando salvar o prédio da Rua do Passeio, que era
sede do Club. O presidente Getúlio Vargas assistiu às edições do Circuito,
aproveitando a reunião popular para fazer marketing político do Estado Novo.
Inclusive o design dos pôsteres acompanhava esse momento, valorizando a
indústria industrial.
Para Maria, todas as corridas
começavam na Rua Marquês de São Vicente, em frente ao portão da PUC-Rio. Mas,
nesse programa da Rádio Nacional que ouvimos um trecho semana passada e que
iremos ouvir a segunda parte daqui a pouco, dá para entender que a largada se
deu na frente ao Hotel Leblon. Fica a dúvida no ar.
Outra informação importante: a
corrida nunca ia ao bairro do Joá. Mas, como dissemos corretamente, subia a
Niemeyer, pegava a Rocinha- antes de existir a favela - e descia pela
Marquês de S. Vicente. Foram apenas três, entre aspas, os acidentes fatais,
nenhum na Niemeyer. O pior, segundo Maria Parkinson, foi com o Irineu Corrêa,
em 1935, que caiu no canal da Visconde de Albuquerque. As corridas eram sim de Fórmula
1, porque foi a fórmula primeira. A diferença era a seguinte: não
existiam as escuderias ou patrocínio.
O piloto Dante Palombo morreu em 1936
e, dois anos depois, foi a vez de José Bernardo. Os dois usaram o mesmo carro
de Irineu Corrêa. Por essa razão, o veículo passou a ser conhecido como
“assassino”. Outra coisa importante: o circuito nunca se chamou Trampolim da
Morte, e sim, Trampolin do Diablo, apelido dado pelos pilotos
argentinos.
Nessa transmissão de 1947, da Rádio
Nacional, podemos ouvir os comentários de Renato Murce, um dos pioneiros do
rádio no Brasil. Renato nasceu no dia 7 de fevereiro de 1900 e morreu no dia
26 de janeiro de 1987, aos 86 anos. Além de criar ótimos programas,
como Papel Carbono, Horas do Outro Mundo, Hora Sertaneja, ele
foi speaker esportivo de corrida de baratinhas e também se aventurou nas
pistas. Em seu livro Bastidores do rádio, fragmentos do rádio de
ontem e de hoje (Editora Imago), o radialista contou detalhes
interessantes.
Em 1935, ele surpreendeu o público da
Rádio Transmissora dizendo que decidira competir no Circuito da Gávea ao lado
de profissionais. Por ser representante do rádio, atraiu uma enorme torcida.
Ao mesmo tempo, reconhecia que não levava a menor chance de ganhar. No livro
explicou a razão:
“Não tinha carro à altura da
competição”. A febre na cidade começou em 1934, um ano depois da estreia do
Circuito da Gávea. Ele disse o seguinte: “Como havia sido um sucesso a edição
inicial, os cariocas começaram a fabricar carros de corrida. Ou melhor,
adaptar carros de passeio para as corridas, modificando motores e
carrocerias. Apesar de estarem na pista o Alfa-Romeo, de Teffé, o Fiat, de
Júlio de Morais, e diversos Bugatti-Grande-Prix de corredores argentinos,
uruguaios e portugueses, quem venceu a corrida de1934 foi Irineu Corrêa.”
Segundo Murce, Irineu era tão bom quanto Chico Landi.
Em 1935, já dentro do carro, Renato
Murce se arrependeu profundamente de sua decisão. No livro, afirmou: “As
colocações para a saída não eram por contagem de tempo, mas por sorteio, e
também a pista, nem toda asfaltada ainda, estava em péssimas condições”.
Marco Aurélio, o asfalto só se
completou em 1936. Acompanhando a corrida pelo rádio, a família de Renato
Murce - que tentou desestimulá-lo da loucura da corrida - levou um susto
quando os locutores começaram a perguntar: “Onde está Renato Murce?”, “Murce
ainda não passou por aqui”. “Por onde andará?” Felizmente, o carro havia se
quebrado, mas Murce estava vivo! O possante Alfa-Romeo do radialista ficou em
antepenúltimo lugar entre os 35 carros. Os aplausos foram substituídos por
vaias horríveis. Nunca mais o pioneiro do rádio quis correr, mas ainda
gostava de fazer comentários técnicos.
Nessa corrida de Murce, Chico Landi ficou em primeiro lugar. Em
segundo lugar, chegou Luigi Villoresi, italiano que pilotava um Maserati. A
velocidade média do vencedor, em 1947, era de 78, 6 km/h. Um grande feito,
principalmente considerando as curvas fechadas e perigosas, as subidas
íngremes em uma área que depois vai se transformar na Rocinha. Ao todo,
foram 16 edições, sendo que 13 internacionais. Logo na primeira corrida, em
1933 o Circuito atraiu 240 mil pessoas, homens, mulheres e crianças, além dos
16 volantes, como se chamavam os pilotos naquela época. A última edição foi
em 1954.
Duas mulheres correram no Circuito da
Gávea: as francesas Helle Nice e Daniele Foufonis. Segundo o irmão de Maria
Parkinson, Danielle costumava buzinar em todas as curvas. Ele ouviu isso
pessoalmente. Havia estrangeiros, como o francês Georges Raph, com um
Maserati 1.500 cc. e o italiano Achille Varzi, um dos melhores da época
com seu Alfa Romeo de 3 mil cilindradas. É uma curiosidade saber que o
diretor de cinema português Manoel de Oliveira, que morreu em 2 de abril de
2015, aos 106 anos, foi piloto de corridas antes de abraçar o cinema.
Manoel competiu em 1938, dois anos antes de Renato Murce, quando tinha 26. Em
um Ford, ele gastou 4h15 minutos para percorrer o traçado de 11 km. Quem
ficou em primeiro lugar foi o italiano Carlo Pintacuda, “o herói da Gávea”,
que levou apenas 3h33 minutos no mesmo trajeto.
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sexta-feira, 24 de julho de 2015
Circuito da Gávea - Segundo programa
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