segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O rádio faz história – O rock n’roll chega ao Brasil


Nora Ney – Rock around tonight  https://www.youtube.com/watch?v=5GnaU2m3-OQ

Celly  Campelo e palhaço Carequinha: dois sucessos do tempo do rok



Antenado com as novidades mundiais, César de Alencar - apresentador do programa mais popular nos anos 50, na Rádio Nacional, - ouviu dizer que uma música estava em primeiro lugar nas paradas de sucesso nas rádios americanas. Era o Rock around the clock. Gravada em 1954, só ficou conhecida no ano seguinte, quando entrou para a trilha sonora do filme Sementes da violência (Blackboard jungle), interpretada pelo conjunto Bill Haley & seus cometas. Os sons provocaram tal frisson na plateia de jovens que eles começaram a quebrar tudo o que viam dentro da sala de cinema: cadeiras, tela...  O tal comportamento maluco se repetiu em vários cinemas nos Estados Unidos.

O filme Sementes da violência, com Glenn Ford, contava a história de um professor que ia dar aula em uma escola e viu que era dominada pela violência. Estava crescendo a geração chamada de rebeldes sem causa. A guerra havia acabado, os jovens americanos tinham trabalho, conforto,  mas eles não queriam ser como os pais. Desejavam mudanças de comportamento, mais liberdade, cabelos compridos, roupas descontraídas e música frenética. No Brasil, esse grupo inspirou, mais tarde, a Juventude Transviada .

Antes de o filme Sementes da violência chegar no Brasil, e que acabou também gerando quebra-quebra nos cinemas, César de Alencar pediu que a cantora Nora Ney fizesse um cover da música. Ou seja, cantasse igualzinho ao original do conjunto Bill Halley.  Cantora da noite, ela não tinha nada a ver com aquele estilo, mas sabia falar inglês. Aprendeu a música, ensaiou com uma pequena orquestra e, detalhe, ainda não tinham chegado por aqui guitarras elétricas, já comuns nos Estados Unidos. Em 1955, ela cantou ao vivo no Programa César de Alencar e foi uma loucura!  O público enlouqueceu só de ouvir aquela música no rádio. Os telefones na Rádio Nacional não pararam de tocar. Todos queriam saber onde poderiam comprar o disco.

Na época, os discos demoravam muito para chegar ao país. Por isso, os cantores brasileiros gravavam ou apresentavam ao vivo os tais covers. A música que acabamos de escutar de Nora Ney foi um cover que ela gravou em 1955, de 78 RPM. Apesar do sucesso inesperado, Nora Ney não quis continuar no gênero rock e voltou para os sambas-canções de Dorival Caymmi e Ary Barroso, que costumava interpretar nas pequenas boates de Copacabana.

Nascia o rock no Brasil. Nas rádios brasileiras, aparecia uma nova geração de cantores que se apaixonou pelo estilo rebelde de tocar e cantar música.
O governador de São Paulo, Jânio Quadros, determinou que o filme Sementes da violência- quando chegou aqui, em 1955 - fosse proibido para menores de 18 anos. E o juiz de menores concordou porque, segundo suas palavras, “o novo ritmo é excitante, frenético, alucinante e mesmo provocante, de estranha sensação de trejeitos exagerados e imorais”.

Na Bahia, Caetano Veloso contou que teve medo de assistir ao filme Sementes da violência porque achava que podia ser possuído por alguma força irracional. Depois, disse ele, descobriu que “estava diante de uma chanchada igual àquelas que o cinema nacional produzia na época”. Outro filme do gênero, o Rock around the clock, 1956, aqui chamado de Ao balanço das horas, deu continuidade a essa febre de rock n’ roll.  

No Brasil, o rádio seria o primeiro meio de comunicação a estimular a onda musical. Waldir Pinotti estreou  A Hora da Broadway, diariamente, das 17h às 18h, na Rádio Metropolitana. Waldir tinha um conhecido na embaixada americana que lhe fornecia um audiotape do programa You Make Believe Ballroom, com os 50 primeiros lugares da parada de sucessos, a Cash Box. Segundo Albert Pavão, no livro Rock brasileiro 1955-1965 (Edicon, 1989), “Waldir tirava a voz do locutor em inglês e anunciava os sucessos de Chuck Berry, Carl Perkins, Fats Domino e The Platters”.

Erasmo Carlos e muitos outros jovens enlouqueceram ao ouvir o ritmo novo e descobriram que havia muita gente fazendo rock n’ roll, além de Bill Halley.  Antes de conhecer Erasmo, Roberto Carlos, aos 16 anos, foi convidado para fazer uma participação no programa Clube do Rock na TV Tupi. Lá, ele cantou Jailhouse rock, de Elvis Presley.  Não existe gravação, pelo que sei, dessa gravação de Roberto Carlos. Vamos ouvir um pedaço do original: (https://www.youtube.com/watch?v=gj0Rz-uP4Mk). (opcional)
Mas é engraçado saber que o Rei imitou Elvis um dia na vida.

Voltando ao Rádio, outro jovem amante do rock Carlos Imperial criou na Rádio Guanabara um programa dedicado ao gênero: Os brotos comandam.  Foi Imperial quem também fazia o programa na TV Tupi e que levou Roberto Carlos a gravar o primeiro disco, com a música João e Maria.  Nada a ver com rock e sim com a Bossa Nova, que também estava surgindo.
A mania foi se espalhando, Jair de Taumaturgo, considerado um coroa, chamou Isaac Zeltman para apresentar o programa Alô, brotos,em 1961, que se tornou o maior sucesso na cidade. Os jovens cantores iam ao programa, se fantasiavam como os artistas estrangeiros ou criavam personagens diferentes para se mostrar para a plateia do pequeno auditório do rádio.

A cantora Sonia Delfino começou a fazer sucesso no Rio reagindo ao grande nome do rock que apareceu pouco antes e que vinha de São Paulo, Cely Campelo. Ela gravou Estúpido Cupido, versão de Stupid Cupid, em 1959.  Ela apareceu no cenário musical junto com o irmão Tony Campelo, mas acabou largando a música para se casar!


Até o palhaço Carequinha teve um programa na Rádio Carioca, das 10h da manhã até as 21h30, que só tocava rock. O próprio Carequinha chegou a interpretar rock n’ roll, o Rock do Ratinho e o Rock da Alegria, por exemplo. 
https://www.youtube.com/watch?v=Lqe0Tyjns9U   Rock do Ratinho, de 1961.
Na Rádio Globo, Chacrinha passou a apresentar  A parada é do Rock. Luiz de Carvalho era o dono do programa a Revista do Rock no ar.  Surgiram várias revistas de papel também dedicadas ao gênero, como a Revista do Rock e Baby Face.

A sociedade estava dividida: havia pais conservadores que achavam que os filhos se perderiam para sempre ao ouvir o rock; outros aceitaram melhor. Na Revista do Rádio, do começo dos anos 50, até D. Helder Câmara, bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, deu a sua opinião sobre a grande polêmica: “Nessa época em que tudo é a jato, temos que seguir o seu caminho. Não vejo maldade no rock, quando colocado em terreno puro”.

Já era tempo dos Beatles, que explodiram em 1962. Três anos mais tarde, e começa a era da Jovem Guarda, que ganhou um programa especial na TV Record, em São Paulo.  O rei se tornou Roberto Carlos, que comandava a turma dos roqueiros e brotinhos brasileiros.


Para acabar essa participação, queria mostrar que o cantor Agostinho dos Santos (mais tarde, um cantor romântico), entrou nessa onda do rock, ao gravar Até logo, jacaré, uma versão muito engraçada e ridícula de See you later, aligator, também de Bill Haley & seus cometas. ( Faixa 2, do CD.) Ridículo porque a versão não faz jus à expressão em inglês que rima bem: “See you later, aligátor, in while, crocodile”.

Um comentário:

  1. Faltou o programa Hoje é dia de rock ,no rádio e na televisão.Isaac Zaltiman e Jair de Taumaturgo.Até o Caubi lançou rock

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