domingo, 19 de outubro de 2014

Haroldo Barbosa: Multiartista da Era do Rádio

"O rádio faz história." - Rádio MEC AM

Rose Esquenazi



Um milhão de melodias
Haroldo Barbosa: talento nacional


Haroldo Barbosa é mais um exemplo dos gênios do rádio. Nascido em Laranjeiras, em 21 de março de 1915 (morreu em 6 de setembro de 1979), ele exerceu inúmeras profissões. Foi produtor, compositor, speaker, contrarregra, humorista jornalista.

Mudou-se com a família para Vila Isabel, onde ficou amigo de Hélio Rosa, irmão mais novo de Noel Rosa. Todos estudaram no mesmo colégio, o São Bento. Haroldo se interessou pela música e formou com Hélio um grupo musical que animava as festinhas e frequentava a Rádio Educadora.  Começou a ganhar cachê, que achava uma fortuna, embora fosse irrisório! De acordo com o seu depoimento para a Collector’s, ele não era bom instrumentista, mas dava para o gasto.

Evaldo Barbosa, seu irmão mais velho, já era contrarregra do Programa Casé, na Rádio Philips. Estava decidido a deixar o programa quando, um dia, bebeu demais e pediu para Haroldo fazer o trabalho dele. O irmão mais novo não decepcionou Casé, embora o dono do horário não tenha gostado do comportamento de Evaldo.  Cuidadoso e muito curioso, de auxiliar, Haroldo passou à contrarregra oficial do programa, mesmo depois de Casé sair da Philips. Haroldo foi contratado como  contrarregra, speaker e arquivista.

Ele passou por diversas rádios: Rádio Cruzeiro do Sul, Rádio Clube, Transmissora, onde foi auxiliar do speaker esportivo Oduvaldo Cozzi. Participou da transmissão do Circuito da Gávea, na condição de operador de amplificador que pesava 40 quilos.  Era um problema transmitir qualquer evento externo naquela época, mas era uma grande emoção. Desde 1941, com um novo gravador que chegou à Nacional, ele começou a recolher depoimentos na rua. Haroldo também auxiliava na reportagem esportiva e era speaker.

Foi depois para a Rádio Nacional contratado como discotecário e redator de publicidade. No começo, como ele mesmo lembra, não havia muita audiência na Nacional, que fazia uma programação de alto nível.  Em 1939, porém, aconteceu uma reviravolta e o governo incorporou várias empresas que estavam devendo impostos. Entre elas, a Nacional. Com a entrada de Gilberto de Andrade como diretor, a emissora se transformou, se popularizou, se equipou e ficou à frente de seu tempo.

Começava a era das novelas e de muitos programas musicais. Haroldo estava à frente de muitas dessas iniciativas e, ao lado de José Mauro, criou Cavalgada da Alegria, para lançar o Melhoral no Brasil. O programa precedeu outras grandes atrações do gênero, que movimentavam todo o cast da Rádio Nacional com melhores maestros e atores.

Haroldo também participou da adaptação da música O luar do sertão (Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco) para prefixo da Nacional. Lançado primeiramente em ondas curtas, o prefixo foi usado depois na emissora principal. Ajudou a criar o prefixo do Repórter Esso, usando as gravações de  fanfarras que existiam na emissora.


Veio a seguir o lançamento da Coca Cola no Brasil, em 1943. Haroldo e José Mauro, outro gênio da radiofonia brasileira  (1916-2004), foram chamados para criar uma nova atração e assim nasceu Um milhão de Melodias, o mais famoso programa musical da Nacional.  Ficou no ar durante sete anos, teve uma interrupção e depois voltou em 1951, com grandes artistas brasileiros e o comando do maestro Radamés Gnatalli e a Orquestra Brasileira. Entrava na programação às quartas,  às 20h30.

Para Um milhão de Melodias, ele escreveu mais de 500 versões de músicas estrangeiras e, por isso, foi muito criticado. Ele justificou alegando que queria uma maior circulação musical dentro da rádio e não seria bom ouvir Emilinha Borba cantando um sucesso em alemão!

Nessa mesma época (início da década de 1940), Haroldo Barbosa começou a escrever no Diário da Noite uma coluna sobre turfe chamada Pangaré. Na década de 1950, a coluna foi transferida para o jornal O Globo.

Em uma determinada época, o radialista fazia oito programas por semana: Às segundas, Canção romântica, com Francisco Alves e arranjos do maestro Lyrio Panicali, e o Rádio Almanaque Kolynos (Também com José Mauro). Às terças, Calouros da Orquestra. Às quartas, Um milhão de melodias. Às quintas, Espetáculos Gessy. Às sextas, Nas asas de um Clipper. Aos sábados, Casa da Sogra e, aos domingos, Rádio semana. Todas as atrações eram um sucesso e tinham características bem diversas.

Haroldo Barbosa abriu espaço para gente de talento, segundo ele, mas que não tinha muita chance antes. Ele firmou a carreira de José Vasconcellos e de Chico Anysio, por exemplo. Nos anos 50, passou a escrever peças radiofônicas para Renata Fronzi, que era casada com o radialista César Ladeira. Chamaram-se Vai de Valsa, Adorei Milhões, Botos em 3D e Brasil 3 Mil.  
 
Foi compositor de sucesso: compôs Barnabé, que criticava o funcionalismo público. “Ai, ai, ai, ai Barnabé/Funcionário letra E”. *Até hoje, o termo é sinônimo de funcionário público em alguns dicionários brasileiros. Escreveu também Mesa de Bar, Isso não se Aprende na Escola e De Conversa em Conversa. Escreveu muitas letras de música para a grande cantora da época, Linda Batista, que tinha um contrato para os shows do Cassino da Urca.

Além da Rádio Nacional, passou também pela Rádio Tupi, onde escreveu várias radionovelas, e pela Rádio Mayrink Veiga onde criou a Escolinha do Professor Raymundo, com Chico Anysio. Foi demitido da Nacional depois que compôs Adeus, América, em 1948, considerada subversiva pela emissora. Ele falava que foi aos Estados Unidos, gostou, mas que preferia o Brasil do samba. Nada demais.

Passou por várias emissoras de TV, a partir  Rio, em 1957. Depois, trabalhou na TV Excelsior, Rede Globo. Fez parte da equipe de criação de famosos programas humorísticos, como Chico Anísio Show, Noites Cariocas, O Riso É o Limite, A Cidade se Diverte, Times Square, Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricom e O Planeta dos Homens.
Ele era pai da escritora e roteirista Maria Carmem Barbosa,


Um milhão de melodias YouTube, 23’: https://www.youtube.com/watch?v=xPDC7nElb3Q  

Prefixo da Rádio Nacional: https://www.youtube.com/watch?v=vkNg2P8T40E
Adeus, América
Barnabé – letra da marchinha composta por Haroldo Barbosa e Antonio Almeida (gravada por Emilinha Borba, carnaval de 1948): YouTube: de 2:41 a 5:22

·        Barnabé o funcionário
Quadro extra numerário
Ganha só o necessário
Pro cigarro e pro café
Quando acaba seu dinheiro
Sempre apela pro bicheiro
Pega o grupo do carneiro
Já desfaz do jacaré
O dinheiro adiantado
Todo mês é descontado
Vive sempre pendurado
Não sai desse terere
Todo mundo fala fala
Do salário do operário
Ninguém lembra o solitário
Funcionário Barnabé
Ai Ai Barnabé
Ai Ai funcionário
Ai Ai Barnabé
Todo mundo anda de bonde
Só você anda a pé...



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