domingo, 19 de outubro de 2014

“As aventuras de Fred Perkins”

“O Rádio faz história” - Rádio MEC AM

Rose Esquenazi



Francis Hallawell foi correspondente de guerra pela BBC
e autor do programa 'As aventuras de Fred Perkins"
Um novo gênero de programa radiofônico chegava ao Brasil nos anos 40: as séries de aventura sobre guerra dirigidas ao público infantojuvenil. Estavam nessa lista: “As aventuras de Fred Perkins”, interpretada por Francis Hallawell, em Londres. E também “O homem pássaro” e o “Barão Eixo”, as duas últimas feitas no Brasil.

Vou falar hoje sobre “As aventuras de Fred Perkins” porque vou pegar carona no seu programa, Marco Aurélio, para convidar você e o seu público para lançamento do meu livro “O Rádio na Segunda Guerra. No ar, Francis Hallawell, o Chico da BBC”. Vai ser na Livraria Travessa Botafogo, dia 22 de agosto, sexta-feira, a partir das 19h. A Travessa fica em frente à Estação do Metrô de Botafogo.

Antes de se tornar o correspondente Chico da BBC, o único que fazia rádio ao lado das forças brasileiras na Itália, em 1944, Francis Hallawell trabalhava em Londres. Brasileiro de família inglesa, ele nasceu em 1912 queria para o exército inglês, mas, devido à idade, foi convidado  para trabalhar no Serviço Brasileiro da BBC. Ele escreveu e apresentou diversos programas, entre eles, episódios de 28 minutos enviados em ondas curtas para o Brasil. Eram “As aventuras de Fred Perkins”, que tinham efeitos sonoros, radioatores, música. A série era gravada em acetato e, alguma depois, era enviados ao Brasil e retransmitida em diferentes estações de rádio e serviços de alto-falantes.  “As aventuras de Fred Perkins” ficaram famosas.

Infelizmente não existem, nem na Inglaterra nem no Brasil, scripts originais desses programas. Tudo bem que o prédio da BBC foi muito bombardeado pelos alemães na Segunda Guerra. O que consegui foram dois programas em áudio, uma raridade, não há dúvida.  Não se tem uma data precisa de sua criação, mas é provável que os programas tenham sido gravados em 1943.
 Consegui essas gravações na Collector’s, empresa que digitalizou os programas a pedido do próprio Hallawell, que morreu em 2004. A esposa de Francis, a belga Julienne, vive em Corrêas, Petrópolis,  também me ajudou muito.

 No primeiro episódio, o personagem Fred quer sair pelo mundo em “busca da verdade”. Tentando achar uma coerência no meio de tantas versões jornalísticas desencontradas. O repórter da ficção tinha o mesmo sentimento dos correspondentes de carne e osso. Como dizia o jornalista Rubem Braga, do Diário Carioca, correspondente de guerra na Itália que ficou amigo de Francis Hallawell:  “Não existe verdade em uma guerra”. Isso porque há várias versões sobre o mesmo fato. Além disso, a imprensa brasileira sofria três tipos de censura: a da guerra – comum em tempos de conflito, a censura dos militares brasileiros e ainda a censura do Estado Novo.

Na história infanto-juvenil, o personagem Fred Perkins monta um miniaparelho de rádio com o poder de transmitir ao vivo as suas aventuras. Tratava-se de algo inimaginável nos anos 40, antes dos satélites, transistores e chips. O personagem embarca em um avião construído por um amigo e vai até a Alemanha, onde um avião inimigo derruba seu teco-teco. Fred cai em solo alemão, é ameaçado de morte e acaba na antessala de Hitler, ouvindo seus ataques histéricos. Na prisão, Fred é salvo por uma bomba inglesa atirada de um avião da RAF. Assim ele consegue fugir.

Segundo o historiador João Baptista de Abreu, o personagem principal assemelha-se a um herói das histórias em quadrinhos, “pelo arrojo, ironia e humor na interpretação”. Depois da vinheta característica do programa, animada com o tique-taque de ponteiros de um relógio, sons de xilofone e bumbo, o correspondente de guerra se apresenta ao público.  Na época, o rádio sofria muita interferência e isso aparece nos episódios.  O contrarregra reproduz esses ruídos incômodos e o correspondente pede desculpas a cada vez que isso acontece. Com uma voz clara e espontânea, Francis Hallawell dá asas à imaginação do público.


O livro que vou lançar no dia 22 de agosto é minha dissertação de mestrado em História da Cultura que defendi na PUC-Rio, em 2013. Procurei seriados infantojuvenis da mesma época para fazer comparações.  Encontrei “O homem pássaro”, irradiado pela Rádio Nacional, diariamente, às cinco e meia da tarde. Essa série durou dois anos: de 1944 a 1946. Também falava de guerra e do nazismo.

No único disco de acetato que sobreviveu na Rádio Nacional, não há registro de data. “O homem pássaro”, narrado por César de Alencar, era super-herói arrojado e audacioso, segundo a historiadora Lia Calabre que escreveu sobre essa ficção radiofônica. Assim como a série “As aventuras de Fred Perkins”, a trilha de abertura de “O homem pássaro” era vibrante e envolvente.

No episódio “A vingança do Cérebro”, o hreói Dick está procurando “o negro Joe” na aldeia do Touro Bravo.  Passando por um perigoso despenhadeiro, ouvem-se os efeitos sonoros de cavalos trotando outros reagindo a uma pedra que despenca da montanha, além de muitos tiros.  Há suspense e tensão.

Existe ainda um terceiro seriado,  o “Barão Eixo” , que encontrei sob a forma de um anúncio no jornal “Diário Carioca”, do dia 2 de julho de 1943.  O programa ia ao ar aos domingos, às 20h45, na Rádio Nacional, mas não se sabe mais nada sobre a sua produção e conteúdo.

O que eu acho mais interessante é deixar espaço para o público pensar e imaginar, algo tão raro atualmente. O rádio sempre fez isso, mas, em qualquer ficção, o ouvinte vai além. No caso de “As aventuras de Fred Perkins”, as pessoas podiam conhecer um pouco sobre a vida dos correspondentes.  Sem querer, Francis Hallawell antecipou o seu destino que só teve início em 1944, na Itália, ao lado de outros jornalistas  brasileiros que foram para a guerra.



Trecho:

Em uma de suas primeiras falas, Fred Perkins conta que teve uma ideia. Ele diz assim no seriado: “Estou enjoado desse negócio de “fontes autorizadas informam de Berlim”, “contam fontes oficiais”, “um porta-voz militar”, depois vem outro que diz que foram 150 mil prisioneiros aqui, acolá. Daqui a pouco, não foi nada disso, ninguém fez 150 mil prisioneiros, foi outra pessoa que foi presa em um lugar muito diferente. Vocês sabem como é, não sabem? Estava eu nisso quando disse a minha mulher: e se tivéssemos um meio de saber a verdade? E ela me disse: “Pois é, Fred, e se fizessémos isso?  E, de repente, deu um estalo, e por que não, Mabel? Afinal de contas, quem nos impede de ver? Saberíamos por nós mesmos a verdade. E foi assim que começou a história toda”.



2 comentários:

  1. O ,HOMEM PÁSSARO DE 1947, NA RÁDIO TAMÕI , NO FINAL DA TARDE E ESTOU ATÉ HOJE PROCURANDO UM CAPÍTULO. A MÚSICA ERA " FINLANDIA", DE COMPOSITOR SUECO.

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  2. ACREDITO QUE O SERIADO TENHA SIDO NA RÁDIO TAMÔIO, QUE TAMBÉM TRANSMITIA TARZAN ( PATYROCINIO DA COLGATE 0 E OUTROS SERIADOS.,NESTA ÉPOCA 1947.

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