Rose Esquenazi
Todo o mundo sabe que Festa de Arromba, de Erasmo e Roberto
Carlos, interpretada por Erasmo, é uma das músicas ícones da Jovem Guarda. Nessa
época, anos 60, estávamos vivendo o tempo da transição do rádio para a TV. O
que estou descobrindo, Marco Aurélio, é que a Jovem Guarda está de volta nas
estações de rádio digitais. Em uma rápida pesquisa, ouvi a Rádio Jovem Guarda,
da Paraíba, a Rádio Calhambeque e a Rádio Vitrola da Saudade, as duas com sede
em São Paulo! Isso, sem contar com os canais no YouTube dedicados a artistas
desse movimento da Jovem Guarda e outros sucessos internacionais dos anos 60.
Nesses canais, os fãs são
ativos e muito agradecidos aos comunicadores, experientes ou não, que se
dedicam a deixar intacta a memória desses ritmos. Foram muitos nos dials daquele tempo: vão desde originais
italianos, latinos, franceses e americanos. Podem ter tido versões para o
português, e, claro, o filé mignon que foram as músicas brasileiras tendo à
frente Roberto e Erasmo Carlos, a Bossa Nova e o samba-canção que ganhou novas
formas.
Inspirado pelo movimento da
Jovem Guarda, anda fazendo muito sucesso no Teatro Net Rio o documentário musical
Wanderléa, 60, Festa de Arromba, a que
eu assisti e gostei muito. Parece que voltamos no tempo. O boca a boca fez com
que a temporada fosse estendida até o dia 26/3/2017. Estou fazendo propaganda
gratuita, mas vale a pena. São 24 cantores e bailarinos
maravilhosos, 10 músicos, 350 figurinos, 20 cenários e 110 canções com arranjos
criativos e surpreendentes. O ponto alto do espetáculo é a entrada triunfal de
Wanderlea, ela própria, em ótima forma e cantando alguns de seus maiores
sucessos.
É bom saber que esses ídolos são
bem tratados e não foram esquecidos. Recentemente, a notícia da internação de Jerry
Adriani comoveu os fãs. Parece que está bem melhor. Mas vamos
voltar para a história do rádio. Antes da existência da Jovem Guarda, nos anos
50, Roberto Carlos, ainda criança, cantava na Rádio Cachoeira, no Espírito
Santo. Ele brilhava no Programa Infantil.
Mas ainda era o tempo dos boleros e dos tangos. O menino Zunga, seu apelido,
também gostava da canção country nacional interpretada pelo cantor Bob Nelson, estrela
da Rádio Nacional.
Ao se mudar
para o Rio com a família, Roberto Carlos conheceu Tim Maia e outros músicos da
Tijuca – como Arlênio Lívio e Wellington Conceição - que gostavam de rock
n’roll. Juntos, criaram o conjunto The Sputniks, em 1957.Mas como
aparecer, como dar o primeiro passo no mundo da música? O rádio era a saída,
mesmo que, na imprensa, existisse uma campanha acusando o rock de fazer mal aos
jovens.
Carlos Imperial criou, na Rádio Guanabara, um programa dedicado ao gênero. Mais
tarde, passou para a TV Tupi.
A mania foi se espalhando.
Jair de Taumaturgo, um dos principais
radialistas da Rádio Mayrink Veiga, tinha um programa chamado Alô Brotos, de 1961, onde os
cantores jovens tocavam rock. Por isso, Taumaturgo
é considerado muito importante para o desenvolvimento da Jovem
Guarda.
Carlos
Imperial concorria
com Jair de Taumaturgo com o programa Brotos no 7. Na TV Rio, ele apresentou o programa Hoje é Dia de Rock com
jovens cantores e grupos que passavam a se conhecer
no estúdio. Um dos grupos de destaque era Renato e seus Blue Caps (nomeados por Jair). Estavam tentando a sorte também os jovens Wilson
Simonal e Erasmo
Carlos. Vamos
ouvir Feche os olhos, versão de All my loving, dos Beatles, com o grupo
Renato e seus Blue Caps.
Jair de Taumaturgo teve
grande influência na carreira de Roberto Carlos e de outros músicos da mesma
geração. Mas ele foi considerado coroa, e, por isso, convidou Isaac Zaltman
para apresentar o programa Alô, brotos, na Mayrink Veiga. A atração se
tornou o maior sucesso na cidade. Os jovens cantores iam ao programa, se
fantasiavam como os artistas estrangeiros ou criavam personagens diferentes
para se mostrar para a plateia de rádio. Na Rádio Carioca, das 10h da manhã e
até as 21h30, só se tocava rock. Até o palhaço Carequinha interpretou rock n’
roll: o Rock do Ratinho e o Rock da Alegria. Essa também
era uma porta de entrada dos jovens na cena musical.
Na
Rádio Globo, Chacrinha passou a apresentar A parada é do Rock e com Luiz de Carvalho havia mais
uma atração: a Revista
do Rock no ar. Surgiram vários magazines
também dedicadas ao gênero, como a Revista
do Rock e Baby Face.
De São Paulo, apareceram
outros nomes que seriam importantes para o rádio jovem. Wanderley Cardoso
começou a cantar aos 13 anos. O primeiro sucesso foi Preste atenção e, realmente, chamou atenção. Tratava-se da versão
da música Fais Attention, de Jean
Loup Chauby e Bob de Pac. Jerry Adriani, ou melhor, Jair Alves de Souza, também
é de São Paulo, e começou a carreira em 1964 com a música Italianíssimo.
No segundo disco, Credi a me, Jerry ficou ainda mais
conhecido.
Wanderléa nasceu em Minas,
em Governador Valadares, e veio com a família para o Rio quando tinha 9 anos. Aos
10 anos, já se apresentava nas rádios nos programas de calouros. A música
serviria para ela se libertar dos pais e irmãos, muito conservadores. Dali a
alguns anos, Wanderléa começou a gravar, conheceu Roberto Carlos, com quem
namorou, e foi com a turma do Rio se juntar à de São Paulo.
O convite partiu da TV
Record que perdeu o direito de transmitir as partidas de futebol aos domingos. Com
um buraco na programação, a agência de propaganda Magaldi, Maia e Prosperi foi
contratada e escolheu o nome Jovem Guarda inspirada em uma frase de Lenin. O
político russo dizia: “O futuro pertence à jovem guarda porque a velha está
ultrapassada”. Até nos figurinos, calças
boca-de-sino, minissaias, adereços, cabelões faziam parte da estratégia da
agência de publicidade. Isso, sem contar com as gírias: papo-firme, é uma brasa,
mora, broto etc
Segundo
o trabalho acadêmico de Silvio Antonio Luiz Anaz, “as canções da Jovem Guarda construíram,
reproduziram e compartilharam um peculiar imaginário do amor romântico”. Para o
pesquisador, a amostra representativa dos maiores sucessos da Jovem Guarda, compostos
por Erasmo Carlos e Roberto Carlos, revela a figura do playboy como “herói do
amor romântico”.
O
que eu quero destacar é que o rádio dos anos 60 tocava continuamente muitos
ritmos sendo que o público costumava levar seus radinhos de pilha para a praia ou
ficava em casa acompanhando a Parada de
Sucessos da Rádio Mundial e Tamoio. A concorrência era enorme e o rádio era eclético disputando a atenção com a
TV. Ouça no YouTube um sucesso de
Wanderléa, a Ternurinha: Foi
assim, de Jota Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário