segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

História de Chinelo: programas para crianças



Rose Esquenazi


Viriato Corrêa já era um grande escritor quando começou a escrever para o rádio


 
Todo o mundo leu na escola, inclusive eu, o livro Cazuza, do jornalista e escritor Viriato Corrêa. O que eu não sabia é que Viriato teve uma participação ativa no rádio brasileiro. O programa que idealizou para a Rádio Nacional se chamava História de Chinelo: série de interessantes curiosidades históricas, que foi ao ar em 800 emissões, de 1952 a 1955. Nascido em 1884, em Pirapemas, no Maranhão, Viriato morreu aos 83 anos, em 1967, no Rio de Janeiro. Ele já tinha 68 anos quando começou a escrever os programas diários, que só não iam ao ar aos domingos.  O público alvo eram as crianças e o povo, ou seja, o grande público. Os temas eram os mais variados e tinham muito de educação cívica.
E por que esse título, História de Chinelo? Segundo a historiadora Angela de Castro Gomes, que escreveu sobre o programa e “o ensino de história do rádio no Brasil nos anos 50”, foi o próprio Viriato Corrêa quem fez a definição do termo.
“História de chinelo, como toda a gente sabe”, definiu ele, “é a história nanica, a história das miudezas, a história das coisas particulares, das coisas íntimas, das coisinhas curiosas da história”.  Hoje, chamamos de “história das coisas miúdas”. Muitas vezes, tratava-se de grandes temas da História do Brasil e outros que passavam batido da academia, como histórias em quadrinhos, por exemplo, sobre o livro Ubirajara, de José de Alencar.
Os estudos de Angela tinham como objetivo verificar a mudança do ensino nas escolas a partir dos anos 50. Para quem quiser conferir, o texto que cito está na internet. “Ao assinar o programa da Rádio Nacional”, escreveu a historiadora, “o autor dispunha de vasta experiência como literato, teatrólogo e como divulgador de conhecimentos históricos.”
Em vários periódicos do Rio ele manteve colunas voltadas para o público infantil, como o Fafazinho, na Gazeta de Notícias. Para o público adulto, no Jornal do Brasil, escreveu a crônica Gaveta de Sapateiro. Jáno jornal A Manhã, que pertencia ao Estado Novo, escrevia uma coluna chamada Teatro.
Nos anos 50, o horário da noite ainda era nobre do rádio. Assim, entre 20h e 22h, entrava no ar parte do conteúdo que Viriato escreveu nos livros publicados pela Companhia Editora Nacional. Seus títulos escolares eram História do Brasil para crianças, as peças históricas Tiradentes, Marquesa de Santos, entre outros que faziam sucesso e eram originais antes desse boom que temos hoje sobre a história do país.  Viriato também escrevia histórias para adultos, como O Brasil dos meus avós: crônicas da história brasileira.
Havia dois patrocinadores: o sabonete Linda Ross, com o slogan, “o menos dispendioso dos sabonetes de qualidade” e Glostora,  um produto que se usava no cabelo. Na abertura do quadro ouvimos o texto publicitário:
“Menino, para ser elegante e distinto, use Glostora no cabelo. Só Glostora dá aos seus cabelos aquele brilho. Depois de 30 segundos de Glostora, você ficará mais você. “Um blablablá danado!
Durante três anos, o imortal, integrante da Academia de Letras desde 1938, falou, entre outros temas, sobre a importância de Visconde de Mauá, o primeiro a escrever contra o trabalho escravo. Falou sobre Júlio Verne e a Rua do Piolho, Rua da Carioca, hoje. Sempre tentava ativar a capacidade de raciocínio do público. Ele perguntava, por exemplo, “por que havia tão poucos livros no século XII?”
Como se tratava de uma pessoa muito culta, Viriato Corrêa podia falar com profundidade tanto sobre a história grega quanto a romana. O programa História de Chinelo tinha a locução de Floriano Faissal e J. Rui.  Em uma das histórias a que tive acesso, o historiador – mesmo sem ser do oficio - perguntava ao público quem teria sido Joana D’Arc (faixa 8). Uma pastora inculta, uma fanática, uma histérica, uma santa? Com vários argumentos, o escritor mostrava que naquele momento da Idade Média, no século V, essa personagem trouxe para a França o sentido de patriotismo de que aquele povo precisava no momento.  Vamos ouvir agora um trecho sobre Joana D’Arc.

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