Todo
o mundo leu na escola, inclusive eu, o livro Cazuza,
do jornalista e escritor Viriato Corrêa. O que eu não sabia é que Viriato teve
uma participação ativa no rádio brasileiro. O programa que idealizou para a
Rádio Nacional se chamava História
de Chinelo: série de interessantes curiosidades históricas, que foi ao ar
em 800 emissões, de 1952 a 1955. Nascido em 1884, em Pirapemas, no Maranhão,
Viriato morreu aos 83 anos, em 1967, no Rio de Janeiro. Ele já tinha 68 anos
quando começou a escrever os programas diários, que só não iam ao ar aos
domingos. O público alvo eram as crianças e o povo, ou seja, o grande
público. Os temas eram os mais variados e tinham muito de educação cívica.
E por
que esse título, História de
Chinelo? Segundo a
historiadora Angela de
Castro Gomes, que escreveu sobre o programa e “o ensino de história do rádio no
Brasil nos anos 50”, foi o próprio Viriato Corrêa quem fez a definição do
termo.
“História
de chinelo, como toda a gente sabe”, definiu ele, “é a história nanica, a
história das miudezas, a história das coisas particulares, das coisas íntimas,
das coisinhas curiosas da história”. Hoje, chamamos de “história das
coisas miúdas”. Muitas vezes, tratava-se de grandes temas da História do Brasil
e outros que passavam batido da academia, como histórias em quadrinhos, por
exemplo, sobre o livro Ubirajara,
de José de Alencar.
Os
estudos de Angela tinham como objetivo verificar a mudança do ensino nas
escolas a partir dos anos 50. Para quem quiser conferir, o texto que cito está
na internet. “Ao assinar o programa da Rádio Nacional”, escreveu a
historiadora, “o autor dispunha de vasta experiência como literato, teatrólogo
e como divulgador de conhecimentos históricos.”
Em
vários periódicos do Rio ele manteve colunas voltadas para o público infantil,
como o Fafazinho, na Gazeta
de Notícias. Para o público adulto, no Jornal
do Brasil, escreveu a crônica Gaveta de Sapateiro. Jáno jornal A Manhã, que pertencia ao Estado Novo, escrevia
uma coluna chamada Teatro.
Nos
anos 50, o horário da noite ainda era nobre do rádio. Assim, entre 20h e 22h,
entrava no ar parte do conteúdo que Viriato escreveu nos livros publicados pela
Companhia Editora Nacional. Seus títulos escolares eram História do Brasil para crianças, as peças históricas Tiradentes, Marquesa de
Santos, entre outros que
faziam sucesso e eram originais antes desse boom que temos hoje sobre a
história do país. Viriato também escrevia histórias para adultos, como O Brasil dos meus avós: crônicas da
história brasileira.
Havia
dois patrocinadores: o sabonete Linda Ross, com o slogan, “o menos dispendioso
dos sabonetes de qualidade” e Glostora, um produto que se usava no
cabelo. Na abertura do quadro ouvimos o texto publicitário:
“Menino,
para ser elegante e distinto, use Glostora no cabelo. Só Glostora dá aos seus
cabelos aquele brilho. Depois de 30 segundos de Glostora, você ficará mais
você. “Um blablablá danado!
Durante
três anos, o imortal, integrante da Academia de Letras desde 1938, falou, entre
outros temas, sobre a importância de Visconde de Mauá, o primeiro a escrever
contra o trabalho escravo. Falou sobre Júlio Verne e a Rua do Piolho, Rua da
Carioca, hoje. Sempre tentava ativar a capacidade de raciocínio do público. Ele
perguntava, por exemplo, “por que havia tão poucos livros no século XII?”
Como
se tratava de uma pessoa muito culta, Viriato Corrêa podia falar com
profundidade tanto sobre a história grega quanto a romana. O programa História de Chinelo tinha a locução de Floriano
Faissal e J. Rui. Em uma das histórias a que tive acesso, o historiador –
mesmo sem ser do oficio - perguntava ao público quem teria sido Joana D’Arc
(faixa 8). Uma pastora inculta, uma fanática, uma histérica, uma santa? Com
vários argumentos, o escritor mostrava que naquele momento da Idade Média, no
século V, essa personagem trouxe para a França o sentido de patriotismo de que
aquele povo precisava no momento. Vamos ouvir agora um trecho sobre Joana
D’Arc.
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