quinta-feira, 7 de julho de 2016

Elizeth Moreira Cardoso – A Divina



Rose Esquenazi


Com o conjunto do Época de Ouro e Jacob do Bandolim

     Elizeth Moreira Cardoso nasceu no Rio de Janeiro, no dia  16 de julho de 1920 e morreu no dia 7 de maio de 1990, aos 69 anos. Ficou conhecida como A Divina, por sua voz maravilhosa, belo timbre e interpretação cheia de personalidade. Tornou-se uma das mais importantes intérpretes da música brasileira.

     A cantora ganhou outros apelidos na vida, como “A Noiva do Samba-Canção”, “Lady do Samba”, “Machado de Assis da Seresta”, “Mulata Maior”, “A Magnífica” (apelido dado por Mister Eco), a “Enluarada” (por Hermínio Bello de Carvalho). De todos, o apelido dado por Haroldo Costa, “A Divina”, foi o que mais ficou associado ao DNA da cantora.

      Elizeth nasceu na Rua Ceará, em um cortiço, no bairro de São Francisco Xavier, perto do Morro da Mangueira. Como muitas outras jovens de origem humilde, tinha o sonho de ser cantora. O pai, Jaime Moreira Cardoso, que era seresteiro e tocava violão, costumava levá-la para cantar nos bairros da Zona Norte. Cobrava um ingresso de 10 tostões. Na época, Elizeth gostava de cantar os sucessos de Vicente Celestino, mas também ponderava se podia ser atriz. A família toda era musical porque a mãe Maria José Pilar também cantava em casa para os filhos. Além de Elizeth, havia outras cinco crianças na casa: Jaimira, Enedina, Nininha, Diva e Antônio.

     A cantora também convivia com os músicos e religiosos que frequentavam a casa da tia Ciata, na Cidade Nova. Mas a família era pobre e todos tinham que ajudar nas despesas. Depois de terminar o primário, aos 10 anos, foi trabalhar como balconista, depois foi contratada em uma fábrica de sabão e mais tarde trabalhou como cabeleireira.

      A vida começou a melhorar aos 16 anos quando ela conheceu, em uma festa, os músicos Pixinguinha, Dilermando Reis e Jacob do Bandolim. Mesmo muito tímida, cantou para esses grandes músicos que ficaram impressionados com a voz da mocinha, que já parecia profissional. Foi então convidada por Jacob para fazer um teste na Rádio Guanabara, no Centro do Rio. No dia seguinte, o dono da estação aprovou Elizeth que passou na prova eliminando as outras concorrentes, ficando em primeiro lugar. Foi a primeira rádio na sua biografia, outras viriam depois. Embora fossem ligados na música, os pais eram conservadores e não queriam que ela se expusesse demais no mundo radiofônico. Mas não teve jeito: Elizeth insistiu e seguiu a carreira. Em 1936, no Programa Suburbano, se apresentou ao lado de Vicente Celestino, Araci de Almeida, Moreira da Silva, Noel Rosa e Marília Batista. Sua carreira se consolidava, na semana seguinte, ganhou um programa semanal no rádio na Rádio Guanabara.

     Elizeth passou pela Rádio Educadora, onde se apresentava no programa Samba e Outras Coisas. Na época, os salários eram baixos, por isso, no começo de 1939, Elizeth começou a fazer shows em circos, clubes e cinemas, apresentando o quadro Boneca de piche (Ari Barroso e Luís Iglesias), com Grande Otelo. Eles trabalharam juntos durante quase dez anos. A cantora passou a se apresentar como sambista em uma companhia de revista, onde conheceu Ari Valdez, com quem se casou no final de 1939. A união não deu certo e depois da separação, ela passou a trabalhar em boates como taxi-girl, as moças que dançam com fregueses cobrando uma taxa. Em 1941, tornou-se crooner de orquestras, chegando a ser uma das atrações do dancing Avenida, que deixou em 1945. Elizeth se mudou para São Paulo onde foi contratada para se apresentar na Rádio Cruzeiro do Sul, no programa Pescando Humoristas.

     Em 1946 , Elizeth estava de volta ao Rio, onde passou a se apresentar como crooner da orquestra de Dedé, com quem rompeu rapidamente, passando a cantar em outros dancings. Em 1948, foi contratada pela Rádio Mauá para o programa Alvorada da Alegria. Logo a seguir voltou para a Rádio Guanabara.

     Em 1950, graças a Ataulfo Alves, Elizeth gravou na gravadora Star a música Braços vazios (Acir Alves e Edgard G. Alves) e Mensageiro da saudade (Ataulfo Alves e José Batista),  mas não teve repercussão.  Já o segundo disco foi muito bem sucedido.  Elizeth gravou Canção de amor, de Chocolate e Elano de Paulo. Para quem não está associando o nome à pessoa, Elano era irmão do humorista Chico Anysio. Estudante de engenharia, ganhava algum dinheiro fazendo um bico na Rádio Guanabara. Vamos ouvir um trecho de Canção de amor ?

https://www.youtube.com/watch?v=OSNAewAjabg


     A Rádio Tupi não perdeu a chance de convidá-la e logo a seguir a TV Tupi fez o mesmo no primeiro programa de televisão no Rio de Janeiro, em 1951. Agora, A Divina chegava ao cinema, nos filmes Coração materno, de Gilda de Abreu, e É fogo na roupa, de Watson Macedo. Mas a trajetória radiofônica de Elizeth continou e, em 1951, foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga e pela boate Vogue. Nessa época, gravou um dos seus maiores sucessos, Barracão se zinco (Luís Antônio e Oldemar Magalhães), que ouvimos no começo do quadro.

     Em 1953 participou do show Feitiço da Vila, na boate Casablanca, no Rio. Mudou-se para São Paulo r, na cidade, foi contratada pela Rádio e TV Record. Na ponte Rio-São Paulo, assinou contrato com a TV Rio. Na Rádio Tamoio, no programa A boate do Chacrinha, Abelardo Barbosa  gostava de tocar os sucessos de Elizeth. Mesmo com o jogo proibido no Brasil em 1946, o apresentador fingia haver ali um cassino de verdade graças a uma sonoplastia maluca que fazia por conta própria.  Elizeth cantou em muitas boates, como conta Ruy Castro no livro A noite do meu bem, recém-lançado. Ao lado de Linda Baptista e outros cantores famosos, Elizeth cantou no Vogue, no Sacha e no Plaza, boates conhecidas de Copacabana, muitas vezes sem hora para fechar. Elizeth tb deu canja no Clube da Chave, boate exclusiva em que todos os sócios tinham a chave para entrar e se divertir à vontade, sem a presença de pessoas indesejadas.

     Em 1953, Elizeth e Silvio Caldas participaram do show Feitiço da Vila, dirigido por Carlos Machado, na boate Casablanca. Outro sucesso da cantora interpretando as mais lindas músicas de Noel. Vamos ouvir Último desejo.


      Ao lado de Dalva de Oliveira e Angela Maria, Elizeth costumava cantar também no Clube da Aeronáutica, nos bailes de fim de semana. Ela estava no primeiro time nos anos 50. Em 1954, ocorreram dois suicídios que marcaram o mundo artístico, o de Getulio Vargas e de Evaldo Ruy, que havia três anos mantinha um caso com Elizeth. A cantora queria que ele assumisse a relação e a esposa legítima exigia uma definição. Isso tudo com doses extras de álcool e uma forte depressão acabou em uma tragédia.
Elizeth fazia muito sucesso na boate Sacha. Para facilitar a ida e vinda de sua casa em Bonsucesso para a boate, que ficava no Leme, a cantora alugou um apartamento no mesmo prédio da boate. Inexplicavelmente no dia 14/8/1954, ela havia dormido em Bonsucesso quando soube, pelo rádio, que a boate tinha pegado fogo. Ela podia ser uma vítima.

     Durante a gravação de seu disco Canção do amor demais, música de Tom e Vinicius, um jovem violonista acompanhou a cantora e se sobressaiu na faixa de Chega de saudade. Era João Gilberto que experimentava uma nova batida. Logo foi reconhecido como um dos baluartes da Bossa Nova, que, meses depois, estabelecia como um novo ritmo musical. Segundo Ruy Castro, o disco continha um repertório perfeito. Vinicius se apaixonou por Elizeth, mas a cantora fugiu bastante do assédio. Vamos ouvir Canção do amor demais, de Vinícius de Moraes e Tom Jobim.


     Em 1959, Elizeth dublou a voz da americana Marpessa Dawn, no papel de Eurídice, no filme Orfeu do Carnaval, dirigido pelo francês Marcel Camus. O filme baseado na obra teatral de Tom e Vinicius ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Mas o nome da nossa cantora não apareceu nos créditos, infelizmente. Em fevereiro de 1960, após o lançar o disco Magnifica, foi contratada pela Rádio Nacional, no programa Cantando pelos Caminhos.


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