Rose Esquenazi
Com o
conjunto do Época de Ouro e Jacob do Bandolim
Elizeth
Moreira Cardoso
nasceu no Rio
de Janeiro,
no dia 16 de julho de 1920 e morreu no dia 7 de maio de 1990,
aos 69 anos.
Ficou conhecida como A Divina, por sua voz maravilhosa, belo timbre e interpretação
cheia de personalidade. Tornou-se uma das mais importantes intérpretes da música
brasileira.
A cantora ganhou outros apelidos na vida, como “A Noiva do Samba-Canção”, “Lady do Samba”,
“Machado de Assis da Seresta”, “Mulata Maior”, “A Magnífica” (apelido dado por
Mister Eco), a “Enluarada” (por Hermínio Bello de Carvalho). De todos, o
apelido dado por Haroldo Costa, “A Divina”, foi o que mais ficou associado ao
DNA da cantora.
Elizeth nasceu na Rua Ceará, em um cortiço, no
bairro de São Francisco Xavier, perto do Morro da Mangueira. Como muitas outras
jovens de origem humilde, tinha o sonho de ser cantora. O pai, Jaime Moreira
Cardoso, que era seresteiro e tocava violão, costumava levá-la para cantar nos
bairros da Zona Norte. Cobrava um ingresso de 10 tostões. Na época, Elizeth
gostava de cantar os sucessos de Vicente Celestino, mas também ponderava se
podia ser atriz. A família toda era musical porque a mãe Maria José Pilar
também cantava em casa para os filhos. Além de Elizeth, havia outras cinco
crianças na casa: Jaimira,
Enedina, Nininha, Diva e Antônio.
A cantora também convivia com os músicos e religiosos que frequentavam a casa da tia
Ciata, na Cidade Nova. Mas a família era pobre e todos tinham que ajudar nas
despesas. Depois de terminar o primário, aos 10 anos, foi trabalhar como balconista,
depois foi contratada em uma fábrica de sabão e mais tarde trabalhou como cabeleireira.
A vida começou a melhorar aos 16 anos quando ela
conheceu, em uma festa, os músicos Pixinguinha, Dilermando Reis e Jacob do
Bandolim. Mesmo muito tímida, cantou para esses grandes músicos que ficaram
impressionados com a voz da mocinha, que já parecia profissional. Foi então convidada
por Jacob para fazer um teste na Rádio Guanabara, no Centro do Rio. No dia
seguinte, o dono da estação aprovou Elizeth que passou na prova eliminando as
outras concorrentes, ficando em primeiro lugar. Foi a primeira rádio na sua
biografia, outras viriam depois. Embora fossem ligados na música, os pais eram
conservadores e não queriam que ela se expusesse demais no mundo radiofônico.
Mas não teve jeito: Elizeth insistiu e seguiu a carreira. Em 1936, no Programa Suburbano, se apresentou ao
lado de Vicente Celestino, Araci de Almeida, Moreira da Silva, Noel Rosa e Marília Batista. Sua carreira se consolidava, na
semana seguinte, ganhou um programa semanal no rádio na Rádio Guanabara.
Elizeth
passou pela Rádio Educadora, onde se apresentava no programa Samba e Outras Coisas. Na época, os
salários eram baixos, por isso, no começo de 1939, Elizeth começou a fazer
shows em circos, clubes e cinemas, apresentando o quadro Boneca de piche (Ari Barroso e Luís Iglesias), com Grande Otelo.
Eles trabalharam juntos durante quase dez anos. A cantora passou a se
apresentar como sambista em uma companhia de revista, onde conheceu Ari Valdez,
com quem se casou no final de 1939. A união não deu certo e depois da
separação, ela passou a trabalhar em boates como taxi-girl, as moças que dançam
com fregueses cobrando uma taxa. Em 1941, tornou-se crooner de orquestras, chegando a ser uma das atrações do dancing
Avenida, que deixou em 1945. Elizeth se mudou para São Paulo onde foi
contratada para se apresentar na Rádio Cruzeiro do Sul, no programa Pescando Humoristas.
Em
1946 , Elizeth estava de volta ao Rio, onde passou a se apresentar como crooner da orquestra de Dedé, com quem
rompeu rapidamente, passando a cantar em outros dancings. Em 1948, foi
contratada pela Rádio Mauá para o programa Alvorada
da Alegria. Logo a seguir voltou para a Rádio Guanabara.
Em
1950, graças a Ataulfo Alves, Elizeth gravou na gravadora Star a música Braços vazios (Acir Alves e Edgard G.
Alves) e Mensageiro da saudade (Ataulfo Alves e José Batista), mas não teve repercussão. Já o segundo disco foi muito bem sucedido. Elizeth gravou Canção de amor, de Chocolate e Elano de Paulo. Para quem não está
associando o nome à pessoa, Elano era irmão do humorista Chico Anysio. Estudante
de engenharia, ganhava algum dinheiro fazendo um bico na Rádio Guanabara. Vamos
ouvir um trecho de Canção de amor ?
https://www.youtube.com/watch?v=OSNAewAjabg
A
Rádio Tupi não perdeu a chance de convidá-la e logo a seguir a TV Tupi fez o
mesmo no primeiro programa de televisão no Rio de Janeiro, em 1951. Agora, A
Divina chegava ao cinema, nos filmes Coração
materno, de Gilda de Abreu, e É fogo
na roupa, de Watson Macedo. Mas a trajetória radiofônica de Elizeth
continou e, em 1951, foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga e pela boate Vogue.
Nessa época, gravou um dos seus maiores sucessos, Barracão se zinco (Luís Antônio e Oldemar Magalhães), que ouvimos
no começo do quadro.
Em
1953 participou do show Feitiço da Vila,
na boate Casablanca, no Rio. Mudou-se para São Paulo r, na cidade, foi
contratada pela Rádio e TV Record. Na ponte Rio-São Paulo, assinou contrato com
a TV Rio. Na Rádio
Tamoio, no programa A boate do Chacrinha, Abelardo Barbosa gostava de tocar os sucessos de Elizeth.
Mesmo com o jogo proibido no Brasil em 1946, o apresentador fingia haver ali um
cassino de verdade graças a uma sonoplastia maluca que fazia por conta própria.
Elizeth cantou em muitas boates, como
conta Ruy Castro no livro A noite do meu
bem, recém-lançado. Ao lado de Linda Baptista e outros cantores famosos,
Elizeth cantou no Vogue, no Sacha e no Plaza, boates conhecidas de Copacabana,
muitas vezes sem hora para fechar. Elizeth tb deu canja no Clube da Chave,
boate exclusiva em que todos os sócios tinham a chave para entrar e se divertir
à vontade, sem a presença de pessoas indesejadas.
Em 1953,
Elizeth e Silvio Caldas participaram do show Feitiço da Vila, dirigido por Carlos Machado, na boate Casablanca.
Outro sucesso da cantora interpretando as mais lindas músicas de Noel. Vamos
ouvir Último desejo.
Ao lado
de Dalva de Oliveira e Angela Maria, Elizeth costumava cantar também no Clube
da Aeronáutica, nos bailes de fim de semana. Ela estava no primeiro time nos
anos 50. Em 1954, ocorreram dois suicídios que marcaram o mundo artístico, o de
Getulio Vargas e de Evaldo Ruy, que havia três anos mantinha um caso com
Elizeth. A cantora queria que ele assumisse a relação e a esposa legítima
exigia uma definição. Isso tudo com doses extras de álcool e uma forte
depressão acabou em uma tragédia.
Elizeth
fazia muito sucesso na boate Sacha. Para facilitar a ida e vinda de sua casa em
Bonsucesso para a boate, que ficava no Leme, a cantora alugou um apartamento no
mesmo prédio da boate. Inexplicavelmente no dia 14/8/1954, ela havia dormido em
Bonsucesso quando soube, pelo rádio, que a boate tinha pegado fogo. Ela podia
ser uma vítima.
Durante a
gravação de seu disco Canção do amor
demais, música de Tom e Vinicius, um jovem violonista acompanhou a cantora
e se sobressaiu na faixa de Chega de
saudade. Era João Gilberto que experimentava uma nova batida. Logo foi
reconhecido como um dos baluartes da Bossa Nova, que, meses depois, estabelecia
como um novo ritmo musical. Segundo Ruy Castro, o disco continha um repertório
perfeito. Vinicius se apaixonou por Elizeth, mas a cantora fugiu bastante do
assédio. Vamos ouvir Canção do amor
demais, de Vinícius de Moraes
e Tom Jobim.
Em 1959,
Elizeth dublou a voz da americana Marpessa Dawn, no papel de Eurídice, no filme
Orfeu do Carnaval, dirigido pelo
francês Marcel Camus. O filme baseado na obra teatral de Tom e Vinicius ganhou
a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Mas o nome da nossa cantora não apareceu
nos créditos, infelizmente. Em fevereiro de 1960, após o lançar o disco
Magnifica, foi contratada pela Rádio Nacional, no programa Cantando pelos Caminhos.
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