Para ilustrar o blog do programa, há um vídeo americano sensacional.https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/150dcd96ae91a79f?projector=1
Não é preciso dizer que o objetivo da sonoplastia que cria mesmo um clima de suspense no seriado Teatro de Mistério da Rádio Nacional, de Hélio do Soveral. A sonoplastia, que os antigos radialistas chamavam de “decoração sonora”, foi um recurso usado timidamente nos primeiros radioteatros, nos anos 30, e que depois foi crescendo de importância com a estreia das radionovelas, em 1936. A primeira de todas, Em busca da felicidade, na Rádio Nacional, fez sucesso absoluto por vários motivos. Roteiros bem escritos e adaptados ao gosto romântico da época, atores excelentes, donos de vozes diferentes e impactantes, direção bem feita, músicos que executavam os trechos escolhidos a ao vivo, e, lógico, uma eficaz sonoplastia.
Em 1940, a Rádio Nacional foi incorporada às empresas da União.
Havia uma dívida dos antigos donos e o Governo do Estado Novo, de
Getúlio Vargas, decidiu ter a sua própria estação de rádio. Assim, a
Nacional ganhou investimentos que superaram os de qualquer outra
emissora brasileira. Como era do governo, a Nacional podia importar
aparelhos, discos, contratar artistas com muita mais facilidade e
recursos. Mas dependia dos anunciantes que, nos anos 40, estavam muito interessados na grande força que a emissora conquistou ao longo da década de ouro.
Foi construída uma pequena casa no amplo estúdio de radioteatro na
Praça Mauá para abrigar todos os aparelhos, gadgets e objetos que
podiam produzir os sons a pedido de um autor ou diretor. No Estúdio
Vitor Costa, a construção ficava ao fundo e próxima aos microfones
onde os atores interpretavam os seus papéis. Havia chão de cascalho,
pedra, areia, vários tipos de campainha: da manual à elétrica. E não
só isso: estavam lá os antigos telefones, placas de metal para
reproduzir raios e trovões, gavetas, apitos, um número eclético de
invenções feitas pelos próprios funcionários da Nacional. Tudo
arrumado na casinha, caso fosse preciso recorrer aos sons que
produziam.
Contrarregras como Jorge Bico, Geraldo José e Gerdal dos Santos
recebiam o mesmo script dos atores e do diretor. A partir das
indicações, começavam a buscar os sons que teriam que
acrescentar na transmissão ao vivo. Não havia gravação de
novelas naquela época. Era mesmo tudo ao vivo, correndo todos os
riscos. E, claro, também não havia computadores que pudessem fazer
esse papel tão importante de sonoplastia.
Não eram só os ruídos de portas se fechando, escadas rangentes,
rodas de ferro, cavalos relinchando, galinhas e galos cantando, ou
vários tipos de passarinho com seus pios. Havia o som do suspense,
do amor, da raiva, do encontro e do desencontro. A música ajudava a
embalar o produto e dava um laço de ouro à transmissão. Vamos
ouvir um pouco dos sons no seriado Sombra. Produção importada
dos Estados Unidos, chamada lá de The Shadow, foi um primor de
efeitos sonoros.
Na história, o policial, interpretado por Saint Clair Lopes, no Brasil, e
Orson Welles, nos Estados Unidos, conseguia ficar transparente e
entrar em todos os recintos dos bandidos. Por isso, esse agente da lei
resolvia os casos mais escabrosos. Vocês podem ouvir primeiramente, a versão americana de 1938, que foi interpretada pelo famoso Welles.
The Shadow
https://www.youtube.com/watch?v=-scB7ndNUVQ&list=PL7nfByN4jYSM7HjwZyvGKX5RkUQR3dDwj
Agora, vamos à parte sonora de um programa sobre a Rádio Nacional em que o sonoplasta Geral dos Santos apresenta os objetos que
reproduzem os ruídos. O áudio começa com a abertura da novela Em
busca da Felicidade e acaba com a versão do Sombra de Saint Clair
Lopes.
YOUTUBE: RÁDIO NACIONAL - RADIONOVELAS - STV . De 0:19 a 1:45.
https://www.youtube.com/watch?v=SGCBIFLUq8E (não é o primeiro item da página)
Sem imagens para ver – a TV só começou no Brasil em 1950, em São Paulo, e 1951, no Rio de Janeiro - o rádio obrigava o público a usar a imaginação. Com o sucesso da primeira novela, foi-se emendando uma na outra, em vários horários. A Nacional se tornou uma fábrica de radionovelas, com gigantesco elenco de atores, diretores e sonoplastas. Só para se ter uma ideia: a Nacional transmitiu 861 novelas, ao longo de menos de duas décadas. Faziam sucesso em todo o país.
Uma novela de sucesso, como a versão da cubana O direito de nascer, de 1951, teve 260 capítulos de muito sofrimento e dor. Na sonoplastia, estavam Lourival Faissal, Gurgel de Castro e Manoel Coutinho. A protagonista solteira se apaixonou por um homem casado e deu um “mau passo”, como se dizia então. Engravidou e esse “filho do pecado”, o famoso Albertinho Limonta. O menino foi entregue para a empregada da família com o pedido que ela o criasse. Amargurada, a moça se recolheu a um convento.
Os seriados também usavam muito os recursos da sonoplastia. Jerônimo, Herói do Sertão, incluía tiros, cavalos e portas se abrindo e se fechando. Durante 14 anos e 3.276 capítulos, o seriado foi ao ar de segunda a sexta, às 18h35, e dava muito trabalho aos sonoplastas. Vamos ouvir um trechinho da obra de Moysés Weltman?
YOUTUBE: De 9: 29 a 10:46. Jerônimo, o Herói do Sertão - Radio Nacional (1958) EP 01
O humor, principalmente, Lauro Borges e Castro Barbosa capricharam no PRK 30. Eles mesmos faziam a sonoplastia. E eram geniais. PRK 30 – YOUTUBE: PRK-30 - Aula de ginástica, de 0 a 1:16. https://www.youtube.com/watch?v=6TlG8BuQK5A
Ouça mais um trecho de Gerdal dos Santos fazendo passos de mulher,
portas se abrindo e fechando na reconstituição da novela Mentira de amor, em
que antigos atores da emissora, como Daisy Lúcidi, voltaram a interpretar anos
depois da primeira irradiação.
YOUTUBE. DE 3:33 A 4:20. RÁDIO NACIONAL - RADIONOVELAS - STV
O jornalismo, durante a Segunda Guerra, precisava sensibilizar os ouvintes para a situação na Europa. As bombas lançadas em Londres, ou em alto-mar, significavam destruição, medo. Criou-se na sonoplastia esses mesmos sons, o clima de medo e apreensão mundial. O ruído de aviões reproduzia esses momentos do conflito, a milhares de quilômetros do Brasil. Vamos ouvir sinos de uma igreja comemorando o fim da guerra, no Repórter Esso, que tinha uma abertura espetacular, com sentido de urgência e atenção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário