Rose Esquenazi
Hoje vamos falar de José Thomaz da Cunha
Vasconcellos Neto, um comediante que fez muito sucesso no rádio e na TV. José
de Vasconcelos nasceu no dia 20 de março de 1926, em Rio Branco, no Acre, e
morreu aos 85 anos em São Paulo, em 11/10/2011, na sua casa em Itatiba. Ele
começou no rádio, em 1941, no programa Papel
Carbono, de Renato Murce. No programa, os calouros tentavam imitar a voz e
a interpretação de cantores, animadores e locutores de futebol. Aos 18 anos, imitando
a estranha e esganiçada voz de Ary Barroso, José de Vasconcelos conseguiu seu
lugar na galeria do humor. Foi aprovado. Ary era politicamente incorreto nos
campos de futebol dos anos 30, sempre torcendo pelo Flamengo abertamente. Esse
posicionamento vai contra a tentativa de neutralidade que um profissional deve
ter. Só para situar, Renato Murce foi um pioneiro do rádio e seguindo a onda
dos programas de calouros, lançou o dele querendo descobrir talentos. Muitos
achavam que precisariam copiar as grandes vozes de cantores e cantoras da época
de ouro. Mas Murce disse que foi mal compreendido, ele só queria novatos
talentosos.
Anos mais tarde, Ary e José ficaram amigos
e se divertiram muito juntos no rádio. No documentário Ele É o Espetáculo, de Jean
Carlo Szepilovski, o próprio José
contou que os dois juntos fizeram misérias juntos. Mas era tudo por amor porque
gostavam mesmo do trabalho que faziam. José de
Vasconcelos também copiava a voz de outros personagens do rádio, como Theófilo
de Vasconcelos, locutor de turfe pela Rádio Jornal do Brasil. Imitava a famosa
dupla da Rádio Nacional, os humoristas Lauro Borges e Castro Barbosa, da
PRK-30, e locutores sérios de vozes graves, como o Luiz Jatobá. Vamos ouvir o
humorista José de Vasconcelos imitando a voz de Ary Barroso.
De 0:48 a 1:40
José de Vasconcelos não tinha vergonha de dizer que era bom profissional e muito bagunceiro também. Tirava graça de tudo e mesmo quem não pudesse ver as suas expressões que ele fazia, tipo caretas à la Jerry Lewis, se divertia com ele. José sabia se fazer entender pelas ondas radiofônicas. No documentário Ele É o Espetáculo, de 2009, Vasconcelos contou que trabalhou na Rádio MEC durante 15 anos, onde fez de tudo. Foi produtor, contrarregra, ator, roteirista. Foi a sua verdadeira escola de rádio. Trabalhou também na Rádio Nacional no programa Rádio Revista, em 1948. Para ele, a Rádio Nacional foi estupenda, segundo suas palavras “que loucura foi aquilo!”
O
humorista Chico Anysio contou que foi José de Vasconcelos quem o incentivou no
dia de seu teste no rádio. Chico ainda era tímido na época e o veterano teve
paciência para que ele perdesse o medo e enfrentasse o microfone. O
produtor, ator e comediante Manoel da Nóbrega também lhe abriu as portas. Mas
não era muito difícil não reconhecer o seu talento e sua maneira histriônica de
ser. Jô Soares também deu um
depoimento no documentário sobre José de Vasconcelos. E sempre aparecia
emocionado quando o comediante aparecia em seu programa de TV. Para todos esses
craques, Zé era um pioneiro do humor de comédia.
Além de radialista, José de Vasconcelos
foi também ator, diretor, produtor e compositor. Seus companheiros consideram
que ele foi o primeiro o primeiro a fazer o gênero humorístico que faz muito
sucesso atualmente: o stand up comedy.
Em
uma época em que o politicamente correto ainda não existia, José de Vasconcelos
gostava de irradiar um jogo como se fosse gago. Ouvimos um trecho desse quadro no
início do programa.
Seu primeiro filme foi Este Mundo É um Pandeiro, em 1947, e teve a sorte de produzir e
atuar no primeiro programa humorístico
da TV brasileira, A Toca do Zé, que foi ao ar na TV Tupi de São Paulo, em
1952.
Durante
muitos anos, o comediante viajou pelo Brasil e descobriu o filão de gravar
discos. Em 1960, pela Odeon, lançou um LP que daria, anos mais tarde, o título
do documentário Eu Sou o Espetáculo. Ele foi o primeiro humorista a
vender mais de 100 mil cópias de um LP do gênero. O disco tinha a duração de 55
minutos, o mais longo LP de humor já feito no país. Vasconcelos tentou repetir o sucesso em outros
seis LPs, mas não conseguiu o mesmo resultado. O mundo alegre de Zé Vasconcellos, A hora e a vez de José Vasconcellos, froam alguns deles. O que acho
interessante é que o humor do disco se oarece com o do rádio que ele aprendeu
na prática, na vivência do dia a dia.
Eclético,
em 1961, começou a pruzir para o teatro de revista. JV no País dos
Bilhetinhos ridiculariza a mania do presidente Jânio Quadros de anunciar
decisões e medidas através de bilhetes. Outros grandes nomes do humor estavam
nesse elenco: como Otelo Zeloni, Maria Fernanda e Walter D’Ávila. Outro grande
sucesso.
Compôs
com o músico Garoto algumas músicas, a mais famosa foi Nick Bar, de 1951. Era um bar em São Paulo onde os artistas se
encontravam para se divertir e encontrar parceiros. Vamos ouvir uma versão
interpretada por Dick Farney e Emílio Santiago.
https://www.youtube.com/watch?v=izz6AwDk-tA
José
Vasconcellos teve uma grande ideia que acabou se revelando um fracasso. Nos
anos 60, ao voltar dos EUA, decidiu construir um parque temático em uma área de
um milhão de metros quadrados, no município de Guarulhos. Investiu todo o
dinheito, pediu ajuda da prefeitura, mas não recebeu um tostão. Acabou quase
falido no fim dessa história.
José Vasconcellos pode ter largado o rádio,
mas trabalhou em praticamente todas as estações de TV. Alpem da TV Tupi, passou
pela TV Rio, Excelsior, Band, SBT e Rede Globo, onde fez Satiricon, em 1972, com Jô Soares e Escolinha do Professor Raimundo,
no papel do gago Rui
Barbosa Sa-Silva na, com Chico Anysio. Apresentou em casas de espetáculos por
todo o Brasil. Ao todo, trabalhou em 10 filmes, sendo um dos primeiros Os maridos traem e as mulheres Sub Traem.
Em 204, foi o padre no filme Romeu e
Julieta e seu último personagem no cinema foi Barbosa, no filme Bom Dia,
Eternidade (2009). Afastado da televisão devido ao mal de Alzheimer.
Vamos
ouvir a escalação no programa do Jô feita por José Vasconcellos.
https://www.youtube.com/watch?v=diGveZC8vwc
De 1:22 a 4:00
Eterno José Vasconcelos, sou e serei seu fan, muito bom.
ResponderExcluirHomoristas não morrem , apenas encerra o Chow.