quinta-feira, 7 de julho de 2016

José de Vasconcelos: humorista politicamente incorreto



Rose Esquenazi



     Hoje vamos falar de José Thomaz da Cunha Vasconcellos Neto, um comediante que fez muito sucesso no rádio e na TV. José de Vasconcelos nasceu no dia 20 de março de 1926, em Rio Branco, no Acre, e morreu aos 85 anos em São Paulo, em 11/10/2011, na sua casa em Itatiba. Ele começou no rádio, em 1941, no programa Papel Carbono, de Renato Murce. No programa, os calouros tentavam imitar a voz e a interpretação de cantores, animadores e locutores de futebol. Aos 18 anos, imitando a estranha e esganiçada voz de Ary Barroso, José de Vasconcelos conseguiu seu lugar na galeria do humor. Foi aprovado. Ary era politicamente incorreto nos campos de futebol dos anos 30, sempre torcendo pelo Flamengo abertamente. Esse posicionamento vai contra a tentativa de neutralidade que um profissional deve ter. Só para situar, Renato Murce foi um pioneiro do rádio e seguindo a onda dos programas de calouros, lançou o dele querendo descobrir talentos. Muitos achavam que precisariam copiar as grandes vozes de cantores e cantoras da época de ouro. Mas Murce disse que foi mal compreendido, ele só queria novatos talentosos.


     Anos mais tarde, Ary e José ficaram amigos e se divertiram muito juntos no rádio. No documentário Ele É o Espetáculo, de Jean Carlo Szepilovski, o próprio José contou que os dois juntos fizeram misérias juntos. Mas era tudo por amor porque gostavam mesmo do trabalho que faziam. José de Vasconcelos também copiava a voz de outros personagens do rádio, como Theófilo de Vasconcelos, locutor de turfe pela Rádio Jornal do Brasil. Imitava a famosa dupla da Rádio Nacional, os humoristas Lauro Borges e Castro Barbosa, da PRK-30, e locutores sérios de vozes graves, como o Luiz Jatobá. Vamos ouvir o humorista José de Vasconcelos imitando a voz de Ary Barroso.
De 0:48 a 1:40

     José de Vasconcelos não tinha vergonha de dizer que era bom profissional e muito bagunceiro também. Tirava graça de tudo e mesmo quem não pudesse ver as suas expressões que ele fazia, tipo caretas à la Jerry Lewis, se divertia com ele. José sabia se fazer entender pelas ondas radiofônicas. No documentário Ele É o Espetáculo, de 2009, Vasconcelos contou que trabalhou na Rádio MEC durante 15 anos, onde fez de tudo. Foi produtor, contrarregra, ator, roteirista. Foi a sua verdadeira escola de rádio. Trabalhou também na Rádio Nacional no programa Rádio Revista, em 1948. Para ele, a Rádio Nacional foi estupenda, segundo suas palavras “que loucura foi aquilo!”

     O humorista Chico Anysio contou que foi José de Vasconcelos quem o incentivou no dia de seu teste no rádio. Chico ainda era tímido na época e o veterano teve paciência para que ele perdesse o medo e enfrentasse o microfone. O produtor, ator e comediante Manoel da Nóbrega também lhe abriu as portas. Mas não era muito difícil não reconhecer o seu talento e sua maneira histriônica de ser. Jô Soares também deu um depoimento no documentário sobre José de Vasconcelos. E sempre aparecia emocionado quando o comediante aparecia em seu programa de TV. Para todos esses craques, Zé era um pioneiro do humor de comédia.

     Além de radialista, José de Vasconcelos foi também ator, diretor, produtor e compositor. Seus companheiros consideram que ele foi o primeiro o primeiro a fazer o gênero humorístico que faz muito sucesso atualmente: o stand up comedy. Em uma época em que o politicamente correto ainda não existia, José de Vasconcelos gostava de irradiar um jogo como se fosse gago. Ouvimos um trecho desse quadro no início do programa.

     Seu primeiro filme foi Este Mundo É um Pandeiro, em 1947, e teve a sorte de produzir e atuar no primeiro programa humorístico da TV brasileira, A Toca do Zé, que foi ao ar na TV Tupi de São Paulo, em 1952.

     Durante muitos anos, o comediante viajou pelo Brasil e descobriu o filão de gravar discos. Em 1960, pela Odeon, lançou um LP que daria, anos mais tarde, o título do documentário Eu Sou o Espetáculo. Ele foi o primeiro humorista a vender mais de 100 mil cópias de um LP do gênero. O disco tinha a duração de 55 minutos, o mais longo LP de humor já feito no país.  Vasconcelos tentou repetir o sucesso em outros seis LPs, mas não conseguiu o mesmo resultado. O mundo alegre de Zé Vasconcellos, A hora e a vez de José Vasconcellos, froam alguns deles. O que acho interessante é que o humor do disco se oarece com o do rádio que ele aprendeu na prática, na vivência do dia a dia.
Eclético, em 1961, começou a pruzir para o teatro de revista. JV no País dos Bilhetinhos ridiculariza a mania do presidente Jânio Quadros de anunciar decisões e medidas através de bilhetes. Outros grandes nomes do humor estavam nesse elenco: como Otelo Zeloni, Maria Fernanda e Walter D’Ávila. Outro grande sucesso.

     Compôs com o músico Garoto algumas músicas, a mais famosa foi Nick Bar, de 1951. Era um bar em São Paulo onde os artistas se encontravam para se divertir e encontrar parceiros. Vamos ouvir uma versão interpretada por Dick Farney e Emílio Santiago.
  https://www.youtube.com/watch?v=izz6AwDk-tA

     José Vasconcellos teve uma grande ideia que acabou se revelando um fracasso. Nos anos 60, ao voltar dos EUA, decidiu construir um parque temático em uma área de um milhão de metros quadrados, no município de Guarulhos. Investiu todo o dinheito, pediu ajuda da prefeitura, mas não recebeu um tostão. Acabou quase falido no fim dessa história.
 José Vasconcellos pode ter largado o rádio, mas trabalhou em praticamente todas as estações de TV. Alpem da TV Tupi, passou pela TV Rio, Excelsior, Band, SBT e Rede Globo, onde fez Satiricon, em 1972, com Jô Soares e  Escolinha do Professor Raimundo, no papel do gago Rui Barbosa Sa-Silva na, com Chico Anysio. Apresentou em casas de espetáculos por todo o Brasil. Ao todo, trabalhou em 10 filmes, sendo um dos primeiros Os maridos traem e as mulheres Sub Traem. Em 204, foi o padre no filme Romeu e Julieta e seu último personagem no cinema foi Barbosa, no filme Bom Dia, Eternidade (2009). Afastado da televisão devido ao mal de Alzheimer.
Vamos ouvir a escalação no programa do Jô feita por José Vasconcellos.

 https://www.youtube.com/watch?v=diGveZC8vwc
De 1:22 a 4:00

Um comentário:

  1. Eterno José Vasconcelos, sou e serei seu fan, muito bom.
    Homoristas não morrem , apenas encerra o Chow.

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