sexta-feira, 24 de julho de 2015

Big Boy, um caso de amor com os Beatles



Rose Esquenazi
  

Newton Alvarenga Duarte, o Big Boy, nasceu no dia 1º de junho de 1943, no Rio de Janeiro, e morreu no dia 7 de março de 1977.  Foi vítima, aos 33 anos, de um forte ataque de asma e talvez também pela agitação louca de sua vida. Big Boy se tornou o disc-jóquei mais famoso do rádio brasileiro. Lançou muitas novidades, como usar a linguagem descontraída, tocar rock de todas as vertentes, foi o primeiro profissional multimídia do rádio. Ele era um rapaz baixinho e gordinho, por isso, era tão engraçado o seu apelido de Big Boy.

Newton, o Big Boy, era apaixonado por música, ou melhor, pelo rock e pelas novidades que estavam surgindo nos anos 60. Tanto que, ainda muito menino, ia escondido dos pais, do Rio para São Paulo para comprar discos que apareciam primeiro por lá. Na época, eram LPs e singles de bandas estrangeiras. Aos amigos que viajavam para o exterior, ele fazia encomendas especiais. A paixão de Newton, desde criança, era ouvir o programa Hoje é Dia de Rock, de Jair de Taumaturgo, na Rádio Mayrink Veiga, a PRA-9.

Jair já era um conhecido radialista e comandava o programa Peça bis ao telefone. Aos 42 anos, aceitou a sugestão de Isaac Zaltman e lançou, em 1960, o programa Hoje é dia de rock. O sucesso foi explosivo. As meninas, ou melhor, os brotinhos aderiram imediatamente. Os rapazes, que já tinham assistido, em 1957, ao filme Ao balanço das horas (Rock around the clock), nos cinemas do Rio, também aprovaram. 

Certa vez, no programa, um convidado especial chamou a atenção do público: o americano Neil Sedaka. A visita encheu muitas páginas da Revista do Rádio.  Foi Taumaturgo também quem mudou o nome do grupo Bacaninhas do Rock da Piedade para Renato e seus Blue Caps. E por que digo isso tudo? Porque o grupo dos irmãos Barros – Renato, Paulo Cezar e Edson - também amavam o rock’n roll e os Beatles, como vou falar daqui a pouco.

Voltando ao Big Boy. Ele foi convidado para trazer para a Rádio Mundial os seus próprios discos e, durante 10 minutos, fazer a sua participação. Acabou criando um slogan que atraiu o público jovem: “Hello, crazy people. Big Boy rides again”. Tradução livre: “Olá, gente maluca. Big Boy de novo com vocês”. A sua participação ia crescendo ao deixar a fala dura e empolada dos outros locutores e apresentadores para se dirigir diretamente aos ouvintes. Usava gírias e toda a irreverência possível. Como ouvimos no começo do programa. 

Aos poucos, além de apresentador, Big Boy se tornou programador, captando sempre o gosto do público. Apaixonado pela música contemporânea, ele seguia os vários movimentos mundiais, e, claro, os Beatles, que estavam fazendo uma revolução na música.  Nos anos 60 e 70, época da repressão e de censura, da ditadura militar e do AI-5, a música era o único oásis de liberdade que os jovens tinham acesso. Assim, todos levavam o radinho de pilha para todo o lado, principalmente, para a praia, parques e estádios. Todo o mundo conhecia o Big Boy, falava como ele, repetia as suas expressões. Amavam o estilo prafrentex, que chegava em primeiro lugar pelas ondas sonoras. Os mais velhos podiam olhar com desconfiança aquela invasão alienígena, mas os jovens amavam o que ouviam. 

No dia 1º de junho de 1967, Big Boy tocou, pela primeira vez, em uma rádio brasileira, o álbum Sgt. Pepper Hearts Club Band. Os antenados foram correndo para as lojas de discos importados fazer a encomenda do álbum. As coisas funcionavam dessa maneira: sem internet, computador, CDs e cassete, tudo girava em torno dos discos comprados a preço salgado nas lojas de discos importados que, praticamente, não existem mais. Vamos ouvir um trecho de Sgt. Peppers?

Em 1970, em Londres, Big Boy conseguiu, com a ajuda de um amigo, entrar no estúdio da Apple, onde os Beatles gravavam a música Let it Be. Com um mini gravador escondido na roupa, ele gravou a música. Mas teve que sair correndo, quando os funcionários descobriram o que Big Boy tinha acabado de fazer. De volta ao Brasil, tocou em primeira mão no mundo, a música Let it Be. Os fãs enlouqueceram.


            Na Rádio Mundial, ele tinha um programa de 15h às 16h, e depois de 18h às 19h, de segunda a sexta. Aos sábados, ele comandava outro grande sucesso, o Cavern Club, só para tocar Beatles. Para quem não é da época, é bom esclarecer que o Cavern Club foi a boate especializada em rock em Liverpool, onde os Beatles começaram a tocar, em 1961. Em dois anos, até 1963, eles fizeram 292 shows. Foi lá que o empresário Brian Epstein conheceu o grupo, passando a administrá-los de maneira profissional. 

Trabalhador, Big Boy passou pela Rádio Record, em São Paulo, onde tinha o programa Papo Pop, para lançar grupos brasileiros de vanguarda. No Rio, trabalhou também na Rádio Tamoio e Tupi. Acabou chegando à TV Globo, no Jornal Hoje.  Seu quadro Hello Crazy People era semanal e, lógico, fazia sucesso. Big Boy mantinha uma coluna musical chamada Papo Pop, na Revista Amiga, da Editora Bloch, e Top Jovem, no jornal O Globo.

O disc-jóquei também apresentava os clips de maiores sucessos seguindo as listas internacionais. O público votava, pelo telefone, nas famosas “discotecas” do rádio. As mais votadas voltavam, no fim do dia, na nova ordem sugerida pelo público. 

Voltando aos Beatles, enquanto os LPs não eram lançados oficialmente no país, os grupos da Jovem Guarda decidiam fazer covers, ou seja, cantavam como o grupo original. Mais tarde, faziam versões da música em português. Costumavam lançar as novidades em programas jovens, como Hoje é dia de Rock, na TV Rio. O grupo Renato e Seus Blue Caps gravaram Feche os Olhos, nada mais, nada menos, do que a versão de Renato Barros para All my loving, de John e Paul McCartney. Outras versões fizeram sucesso, como a música Dona do meu coração, inspirada em Run for you life, de Lennon & McCartney. Vamos comparar o original e a cópia?

Em 1971, a Rádio Eldorado do Rio, foi a primeira emissora do país a investir no FM e, em 1974, passou a se chamar Eldo Pop. O que estava na moda naquele instante era o rock progressivo, faixas comandadas por Big Boy. Sem anúncios e com uma qualidade sonora muito maior, a FM visava a contemplar um público especializado, amante da música, nesse caso, o de vanguarda.

Ao morrer prematuramente, Big Boy tinha um acervo de 20 mil títulos, entre LPs e compactos, grande parte importado. Ia de rockjazzsoul musicrock progressivomúsica francesatrilhas sonoras de filmes, orquestrais. Ele também lançou seus próprios discos que tinham  lista das mais tocadas. Gostava de animar shows de jovens no subúrbio carioca. Curiosamente, fez participações como ator no programa de Chico Anysio, na TV Globo, na novela cômica Linguinha, de 1970.

Para terminar, vamos ouvir outro trecho do programa de Big Boy :
https://i.ytimg.com/vi/z7E3jeNPG_Q/mqdefault.jpg
https://ssl.gstatic.com/docs/doclist/images/mediatype/icon_2_youtube_x16.png

https://i.ytimg.com/vi/KMMcEpxa_as/mqdefault.jpg

3 comentários:

  1. Gostei. Participei dos programas dá rádio. Ele não era baixinho. Acima de 1.70 de altura. Sou mais baixo.
    Muito amigável. Me emprestou discos importados dá programação sem eu pedir! Pessoa tranquila e equilibrada. Era tudo teatro ao microfone! Inventava estórias.

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  2. Essa era a minha infância... Cavern Club (Big Boy), Creedence, entre outros mais. Tenho agora 65, e o bom gosto musical continua o mesmo! Rock, muito rock!

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