domingo, 26 de julho de 2015

Cantor. Compositor. Radialista. Paulo Tapajós Gomes.

Rose Esquenazi
    



   Existem  radialistas fabulosos, contemporâneos ao Haroldo e responsáveis pelo deslumbramento que o rádio proporcionou ao público na Época Dourada, anos 40 e 50. Paulo Tapajós dedicou toda a sua vida ao rádio e à música, e precisa ser lembrado. Se estivesse vivo, faria 101 anos de idade. Ele foi cantor, compositor, radialista, pesquisador e divulgador da música popular brasileira.  
     Paulo nasceu e morreu no Rio de Janeiro, em 1990, aos 77 anos. 

Ele era  filho de Manoel Tapajós Gomes,  jornalista, escritor e poeta. Muito jovem, começou a estudar violão e piano, com maestro Lorenzo Fernandes. Tinha uma voz doce e maravilhosa. Paulo formou com os irmãos  mais novos, Oswaldo e Haroldo, o Trio Tapajós. Com a saída de Oswaldo, os outros dois formaram uma dupla. Paulo tinha 15 anos e Haroldo, 13.  A partir de 1927, eles fizeram muito sucesso na Rádio Sociedade (em 1936, a estação se tornaria a Rádio MEC).

     Em 1932, Paulo estudou desenho na Escola de Belas Artes e trabalhou na Cia Siderúrgica Nacional e no Departamento de Aeronáutica. Interpretou  músicas como Loura ou morena, de seu irmão Haroldo e que teve a primeira letra escrita por Vinícius de Moraes. Vamos ouvir um trecho?
https://www.youtube.com/watch?v=op-ry2Manaw. Uma delícia esse fox trote.

     Em 1942, a dupla Tapajós acabou e Paulo começou na carreira solo. Ele criou e dirigiu a Turma do Sereno, conjunto brasileiro de serenata formado por Abel Ferreira (clarinete), João de Deus (flauta), Irani Pinto (violino), Sandoval Dias (clarone), Rubem Bergman (violão), Carlos Lentini (violão) e Waldemar de Melo (cavaquinho).

      Trabalhou na Rádio Nacional mais de uma vez até 1974. Ao lado de José Mauro e Haroldo Barbosa, produziu em Um milhão de melodias Quando os maestros se encontram. Produziu também os  programas "Turma do sereno", "O assunto é música", "A pausa que refresca" e "Quando canta o Brasil".
 De 1946 a 1958, trabalhou para a Rádio Tupi, como artista e diretor artístico.

     Tapajós participou de muitas dublagens de desenhos animados de Walt Disney. Uma delas marcou a nossa infância, que foi Grilo Falante (When you wish upon a star), do filme Pinóquio. No original, foi cantada por Cliff Edwards, em 1940.  Até hoje eu me emociono com essa canção.  Vamos ouvir? https://www.youtube.com/watch?v=Jrj44R1878I

     Ele também interpretou a canção-tema de Alice no país das maravilhas e Branca de Neve e os sete anões.  Nos anos 50, Paulo Tapajós deixou a sua grande marca de qualidade, profissionalismo e doçura  nas cantigas de roda e histórias infantis. Ele criou os arranjos, fez a produção e a regência da série de discos o selo Carrousell. Todas as crianças sabiam de  cor as músicas do folclore, como Ciranda cirandinha/Meu limão, meu limoeiro, Teresinha de Jesus/Capelinha de melão, Onde está a margarida?/Nesta rua tem um bosque, O cravo brigou com a rosa/Eu fui no tororó, Pirulito que bate bate/Atirei um pau no gato etc.

     Em 1958, ele passou a ter outra atividade, passou a organizar e dirigir Festivais de Música Popular Brasileira, com artistas e orquestra da Rádio Nacional, dirigida pelo maestro Radamés Gnattali. Foram grandes concertos realizados no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.

     Como sempre se dedicou ao estudo e pesquisa da música popular brasileira, foi convidado para fazer parte do Conselho de Música Popular, do Conselho de Rádio do Museu da Imagem e do Som e da Associação Brasileira de Propaganda. Foi sócio fundador e secretário geral da Academia Brasileira de Música Popular.

     Tal como outro pioneiro, o Almirante (Henrique Foréis Domingues), ele reuniu um acervo de documentos, partituras, discos, livros, revistas, recortes, impressos e alguns manuscritos originais, em viagens realizadas por todo o Brasil . Era tudo sobre a música brasileira. Esse vasto material até hoje é consultado por pesquisadores.

      Em vida, Paulo Tapajós recebeu muitas homenagens e premiações. Entre elas, a Medalha de Prata do Centro Brasileiro de Rádio Educativo por ter trabalhado durante 55 anos de Rádio sem interrupção no microfone. Recebeu também a Placa de Prata pelos 62 anos de trabalho pela preservação e divulgação da Música Popular Brasileira. Paulo produziu, em 1986, um LP gravado pelos seresteiros da cidade de Conservatória. Dois anos depois, a Collector's Editora Ltda. lançou o LP Paulo Tapajós, vol. XV da série Os ídolos do rádio, contendo uma coletânea de suas gravações. No disco, o cantor interpreta seis músicas acompanhado por Pixinguinha e o Regional de Benedito Lacerda e outras seis com a Orquestra da Rádio Nacional ou a Turma do Sereno.

     Em 1973, voltou à  Rádio Ministério da Educação e Cultura, tendo sido responsável pela produção dos programas Histórias de engambelar, Coisas da província, MPB ao cair da tarde, Antologia do choro e O assunto é Noel, além do programa O nosso domingo musical, do Projeto Minerva, que permaneceu no ar até sua morte, em 1990.

     
Em 1975, colaborou na fundação da Associação Brasileira de Música Popular. Ainda nesse ano, participou, como cantor, do programa MPB-100, ao vivo, veiculado pelo Projeto Minerva, e gravado em LP. Ainda como produtor de discos, foi responsável pelos LPs Carlos Galhardo: Fascinação (EMI/Odeon), 40 anos da Rádio Nacional (Philips), A modinha (Companhia Internacional de Seguros), 80 anos de música carioca (Companhia Nacional de Tecidos Nova América).

Ele foi pai da cantora Dorinha, que fez parte do Quarteto em Cy,  e dos grandes compositores Paulinho e Maurício Tapajós, que herdaram o talento do pai.





   

Um comentário:

  1. Olá. Você poderia me informar a ancestralidade de sua família? Era indígena? Viera do Norte? Poderia me indicar um livro sobre a vida e a obra dele?

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