sexta-feira, 24 de julho de 2015

Circuito da Gávea - primeira parte


 Rose Esquenazi





 Muito antes da Fórmula-1, existia uma corrida de carros muito famosa no Rio; era o Circuito da Gávea. A corrida começou em 1933 e terminou em 1953, mas teve interrupções devido à Segunda Guerra. Era um acontecimento que agitava a cidade. Os carros, ou melhor, as Alfas Romeos, Maserattis e Studebakers, saíam da Rua Marquês de São Vicente, na Gávea, passavam pela Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon. Depois, subiam a área onde hoje está localizada a Rocinha e voltavam pela Marquês de S. Vicente. Os pilotos atraíam milhares de pessoas que adoravam a velocidade e as baratinhas. Muitas vezes, os carros se chocavam em acidentes fatais devido aos precipícios, derrapagens e batidas. Na época, o público ficava muito perto dos carros, sem guard-rail como proteção. Só eram afastados pelos agentes da Polícia Especial.
As corridas conquistaram o rádio imediatamente. Os speakers, os locutores da atualidade, se especializavam em narrar as emoções da corrida perigosíssima, tal qual os Galvões Buenos da atualidade.  Existe ainda a narração da corrida do dia 20 de abril de 1947, chamada de 8ª Corrida do Trampolim do Diabo. Com 15 voltas, cinco a menos do tempo em que começou, em 1933, foi transmitida pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em cadeia com a Rádio Guanabara.
Na apresentação estava Jorge Curi e no comando os radialistas Mário Mansur, em uma posição privilegiada da Rua Marquês de São Vicente, no alto da Casa de Saúde da Gávea, e o colega Antonio Cordeiro, no Hotel Leblon. Havia também o comentário técnico de Renato Murce, um pioneiro do rádio no Brasil. Ele disse que o carro de Jaburu era a grande promessa da corrida, “um dos melhores para aquele circuito”, segundo suas palavras. Com a sua voz e calma, Renato Murce quis lembrar dos nomes dos pilotos corajosos que já haviam corrido e que foram vítimas do Circuito da Gávea. A lista era grande e assustadora.  Deixaram saudades Irineu Corrêa, Moraes Sarmento, Nascimento Junior, Dante Palombo, Benedito Lopes.
O programa da Nacional tinha o patrocínio da Pan American Airways, com desconto de 20% nas passagens para os Estados Unidos.  “Experiência sem par”. E também do Café Pre-di-le-to, símbolo de pureza segundo o speaker comercial.
A narração a que tivemos acesso no Museu da Imagem e do Som, com a ajuda de Luiz Antônio de Almeida. O trecho mostra os preparativos da corrida. É possível ouvir o ronco dos motores e a emoção na voz do speaker Mário Mansur usando todos os erres e os esses. Ele conversou com o piloto Osmar Lage, que ele chamou de Vovô, a bordo de uma Maseratti. Pediu até que diminuísse na aceleração do motor para poder ouvi-lo melhor.
Como o tempo estava ruim, chovendo muito, o técnico Walter Ramos fez ranhuras transversais com serrotes, na banda de rodagem dos pneus do Vovô. Tudo isso para dar melhor escoamento da água no carro. “Farei tudo para honrar o nome do Brasil”, declarou Osmar Lage. Mário Mansur fez questão de apertar a mão de Chico Landi, que pilotava um Alfa Romeo. Comentou sobre os óculos de proteção do piloto Chico Landi que se parecia com uma máscara de super-herói da época. Citou Rubens Abrunhosa, a bordo de um Studebaker.  E desejou boa sorte a todos, em nome dele, da Rádio Nacional e dos ouvintes. O volante paulista Jaburu também estava na pista com a sua nova Maseratti.

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