Rose Esquenazi
Adelaide Chiozzo é instrumentista,
cantora e atriz talentosa que tem muitas marcas no rádio e no cinema
brasileiro. Nascida no dia 8 de maio de 1931, no bairro do Brás, em São Paulo, foi criada
dentro da colônia italiana. Desde os oito
anos, ela revelou seu talento musical. O pai, Geraldo Chiozzo, era
mestre-entalhador e marceneiro, seguindo nessa profissão durante toda a vida. Mas
também era músico e tocava violão. Certa vez, a vida lhe deu presente
inesperado. Não tendo como receber a conta de um serviço feito para a loja de
música, Casa Gianninni, o dono sugeriu que ele levasse um instrumento como
pagamento. Escolheu um acordeão alemão mas não sabia o que fazer com ele.
Acabou trancando no armário.
A filha Adelaide descobriu o tesouro e
pediu para a mãe segurar as alças para ela. Muito menina, não conseguia fazer
isso sozinha. Mesmo ralhando com a filha, a mãe segurou as alças, Adelaide
abriu o acordeão e, em minutos, estava tocando a valsa Saudade do matão. A mãe não acreditou e chegou a cair no chão, quase
desmaiada, dizendo que aquilo era um milagre de Deus. Sem precisar de professor, a menina conseguiu
tocar sozinha e assim, sempre que o pai saía, a mãe deixava que ela pegasse no
acordeão.
Na
família do marceneiro, o que não faltava era gente talentosa. Mas, de todos,
Adelaidinha tinha ainda outro ótimo atributo: era muito bonita. Aos 11 anos,
tomou coragem e foi fazer teste na Rádio Bandeirantes de São Paulo, no programa
de Vicente Leporace. Solou no acordeão duas músicas, cumpriu as quatro etapas
dos novatos e ganhou o primeiro prêmio almejado por todos os iniciantes. O
melhor de tudo: depois de vencer os concorrentes, foi convidada a participar do
programa sertanejo Na Serra da
Mantiqueira, uma atração da rádio Bandeirante que ia ao todos os dias, às
8h da manhã. Com medo do ambiente do
rádio, mais livre e talvez perigoso para uma jovem, o pai mandou que o filho,
Afonso, levasse também um acordeão para o rádio. Assim nascia o duo Os Irmãos
Chiozzo.
Como
era comum naquele tempo, sucesso no rádio era sinônimo de excursões pelo Brasil
afora. Nem todos os brasileiros tinham a felicidade de morar no Rio e m São
Paulo, onde podiam assistir ao vivo aos shows dos artistas dentro de uma
emissora de rádio. É bom que se lembre de que não havia ainda a televisão, o
que surge no Brasil só a partir de 1950. Quando estava se apresentando na
cidade mineira de Andradas, em 1945, uma cena marcou muito a jovem Adelaide.
Assim que o rádio noticiou o fim da Segunda Guerra, os artistas e o povo saíram
às ruas para cantar com alegria e alívio.
Ouvimos
no início do quadro o baião Sabiá na Gaiola, com Adelaide Chiozzo e Eliana Macedo. A música de Hervê Cordovil e
Mário Vieira, foi gravada em 1950. Agora, vamos ouvir um trecho de outro
sucesso de Adelaide Chiozzo, a valsa Beijinho
doce, de Nhô Pai, de 1951.
Talvez também tenha sido o destino que fez com
que o pai de Adelaide Chiozzo decidisse se mudar com a família para Niterói. Lá
ele abriu uma pequena fábrica de móveis. A família passou a escutar as rádios
cariocas. No programa da Rádio Clube do Brasil, Papel Carbono, de Renato Murce, os candidatos precisavam imitar um
artista de talento para vencer o prêmio do apresentador.
Adelaide foi indicada pelo compositor Irani de Oliveira e juntos decidiram que ela
deveria imitar a figura gauchesca do cantor e acordeonista Pedro
Raimundo, cantando a sua conhecida música Adeus
Mariana. Mais uma vez, todos ficaram
encantados com a jovem e, além do prêmio, Adelaide passou a fazer parte do
Regional de Dante Santoro, um dos mais conhecidos do Brasil. Nesse grupo, ela
pôde provar que podia também cantar e não só tocar acordeão.
Adelaide Chiozzo se transformou em uma atriz muito cultuada
na Atlântida Cinematográfica. Tanto que
participou de 23 filmes, alguns deles musicais com atores consagrados como
Oscarito e Grande Otelo. Em 1946, estreou no cinema atuando na comédia Segura esta mulher, contracenando com o
pai, Afonso Chiozzo. Esses dois filmes foram dirigidos por Watson Macedo. No
cinema, ela contracenou algumas vezes com a maior atriz brasileira, Eliana Macedo,
que foi casada com Renato Murce, pioneiro do rádio no Brasil.
Em 1947, mais uma vez, o pai atuou com
Adelaide na comédia Esse mundo é um
pandeiro, de Watson Macedo. Já no
ano de 1948, dois convites celebraram a maturidade de Adelaide: além de filmar É com esse que eu vou, de José Carlos Burle, ela ganhou um contrato
com a Rádio Nacional, onde ficou durante 27 anos. Seus programas mais
conhecidos na Nacional foram Alma do
sertão e Gente que brilha.
A
TV não demorou para reconhecer os talentos de instrumentista, cantora e atriz. Adelaide
trabalhou também em novelas,como Feijão Maravilha e Deus nos Acuda, em 1992. Mesmo tendo gravado muitos discos e de
ter feito shows em todo o país, Adelaide denunciou em 2009, no Senado Federal, ao
lado de outros artistas, a situação precária em que vivem os antigos talentos
do rádio. Na época, aos 78 anos, disse que ainda precisava trabalhar para
viver. A aposentadoria de R$1.247 mal dava para pagar os remédios. Assim,
carregando ainda o acordeão que pesa mais de 14 quilos, a cantora seguia se apresentando
ao lado do marido e dos netos. Para a Comissão de Educação, Cultura e Esporte, a
cantora pedia mais respeito aos direitos autorais, queria regulamentação da
profissão e seguro desemprego para a categoria. Quem quiser saber mais
histórias de Adelaide deve ir ao blog do médico Iderval Reginaldo Tenório, que
faz espontaneamente uma homenagem aos músicos brasileiros.
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