Rose Esquenazi
Dos anos 50 aos 70, a
Rádio Nacional transmitiu um programa policial que fez muito sucesso. Escrito
por Hélio do Soveral, chamava-se Teatro
de Mistério. Hélio do Soveral Rodrigues de Oliveira Trigo nasceu em Setúbal, Portugal,
em 30
de setembro de 1918. Hélio foi um
radialista muito produtivo e criativo. Assinou 20 novelas, em diferentes estações de rádio, e adaptou inúmeros
textos. Trabalhou também na TV e no cinema, além de ser bem-sucedido escritor
infanto-juvenil. Ficou famoso e usou vários pseudônimos imponentes. Ele foi Alexeya Slovenskaia Rubenitch, Allan
Doyle, Clarence Mason, EllSov, Frank Rougler, Gedeão Maureira, Irani de Castro,
John Key, por aí vai.
Nesse episódio, eram muitos os suspeitos. Podia ser o rapaz da farmácia, a dona da vendinha, o guarda-livros Djalma, ou talvez um total desconhecido. Podemos notar pelos diálogos, as expressões e frases da época. “Causar espécie, joias que são tentação para os ladrões, álibis perfeitos etc. “Você tem certeza de que não matou ninguém?”, perguntou a nova patroa de Guiomar para o marido deprimido. Djalma já tinha passado um tempo no manicômio. Sofrendo de frequentes casos de amnésia, ficava nervoso à toa e, muitas vezes, não dava conta de seus atos. O público apontava para ele: era claro que foi o autor do crime.
Ouça o episódio O estrangulador de Laranjeiras, do Teatro de
Mistério, recuperado pelo Tropix, Núcleo de Computação Eletrônica (NCE). O endereço é: outras bossas.blogspot.com.br. Com muitos efeitos especiais, como vocês poderão
constatar, e uma direção eficiente, o programa atraía um enorme público aos
sábados pela manhã, às 9h, e nas noites de segunda-feira, em horário
alternativo.
A
atriz Carmem Dolores interpretou o papel da empregada Guiomar. Geraldo Avelar,
o papel do comissário. Neida Regina, o de Alba e Cauê Filho, Djalma. O herói era o inspetor
Marques, do Departamento de Polícia Judiciária do Rio de Janeiro. Em
outras edições do Teatro de Mistério, o inspetor Marques foi interpretado pelo famoso ator
Rodolfo Mayer e o detetive Zito por Gerdal dos Santos, que ainda hoje trabalha na Rádio Nacional.
Com a demissão de Gerdal e Rodolfo Mayer, no golpe de 64, entraram no elenco Domício Costa, como inspetor, e Cauê
Filho, como o japonês Minôro.
A trilha sonora era muito interessante e aflitiva. O clima criado
era perfeito para mais um crime recém descoberto em um bairro da Zona Sul. No
caso, o estrangulamento de uma senhora muito rica. A sonoplastia, que ficava no
fundo do estúdio, sempre foi ponto de honra da Nacional que caprichava nos
detalhes. O contrarregra estudava o roteiro como todos os atores e diretores.
Ele comandava o som dos objetos e instrumentos criados especialmente para a
“decoração sonora”, como se dizia na época. Não havia computadores ainda, é
claro.
A música também era pensada com antecedência e entrava ao
vivo. Os músicos ficavam na parte superior do estúdio. O diretor regia tudo:
músicos e atores. A um sinal, começava a música e cada intérprete saía de seu
assento no semicírculo, e se dirigia ao microfone conforme era solicitado pelo
script. Não havia plateia no estúdio. No auge da Nacional, a Divisão de
Radioteatro contava com 106 atores e atrizes, sendo seis vozes infantis. Até
meados dos anos 50, foram transmitidas 861 novelas, sendo que a primeira foi Em busca da felicidade, em 1941.
Vamos voltar ao Teatro de Mistério. Nessa edição, no bairro de Laranjeiras, três crimes
seguidos deixaram os moradores apavorados. Na história radiofônica, uma mulher
rica foi assassinada com um fio de nylon. A empregada Guiomar foi a primeira
suspeita e foi investigada, logo no começo da transmissão. Mas a trama vai
apresentando outros possíveis assassinos, como uma trama bem montada de
Sherlock Holmes ouobra escrita por
Agatha Christie. O autor Hélio do Soveral conseguia misturar a
narrativa britânica com locais e personagens tipicamente cariocas. Muito
original.
Hélio do Soveral escreveu 316 capítulos do Teatro de Mistério. Cada episódio tinha
duração aproximada de 45 minutos. Os títulos sugeriam sempre a tensão que
acompanha um caso policial. Um corpo na
banheira, Armadilhas, Assassinos de Mulheres, Onde está Marisa, Morre um
milionário, Quem matou Madame Blanchard, Retrato de um fantasma, são alguns
deles.
Nesse episódio, eram muitos os suspeitos. Podia ser o rapaz da farmácia, a dona da vendinha, o guarda-livros Djalma, ou talvez um total desconhecido. Podemos notar pelos diálogos, as expressões e frases da época. “Causar espécie, joias que são tentação para os ladrões, álibis perfeitos etc. “Você tem certeza de que não matou ninguém?”, perguntou a nova patroa de Guiomar para o marido deprimido. Djalma já tinha passado um tempo no manicômio. Sofrendo de frequentes casos de amnésia, ficava nervoso à toa e, muitas vezes, não dava conta de seus atos. O público apontava para ele: era claro que foi o autor do crime.
Ao acompanhar o raciocínio do inspetor, que fazia uma
minuciosa análise das investigações, as pessoas de casa iam mudando de opinião.
O policial mostrava a falsidade dos personagens, suas reações estranhas, os métodos de trabalho,
desconfianças. Um dos truques foi procurar notas do dinheiro roubado que
tinha numeração sequenciada. Era fundamental descobrir como o ladrão entrou na
casa, usou da violência ou não?
Os comentários dos internautas no site também são
muito interessantes. Teve gente que gravou tudo para ficar ouvindo todas as
noites e se lembrar do passado e aproveitar para matar a insônia. Outras
pessoas são fãs do mistério, suspense e do clima de investigação dos mais
estranhos crimes. No Memorial Soveral, cada episódio é acompanhado de sinopse e
ficha técnica.
Hélio do
Soveral chegou ao Brasil aos 7 anos e não fez curso superior. Segundo
Renato Murce, no livro Bastidores do
rádio (Ed. Imago), o único diploma
que possuía era o PRE-Neno, como Amigo dos Cantores Novos. A Casa Neno
vendia eletrodomésticos e patrocinava vários artistas do rádio. A vida
profissional do radialista começou na Rádio Tupi, onde escreveu a primeira
história seriada Aventuras de Lewis
Durban. Era uma espécie de novela
com capítulos semanais dirigidos por Olavo de Barros.
Hélio
entrou para o elenco do mais famoso programa de rádio dos anos 40, o
Programa Casé, na Rádio Mayrink
Veiga.Depois,se mudou para São Paulo. Fez
sucesso
escrevendo episódios do Teatro de Romance,
na PRA-5, dirigido por
Oduvaldo
Viana. Em 1941, a emissora tinha 95% da audiência no horário das
21h.
A
experiência em São Paulo foi muito rica, mas logo Hélio do Soveral estava de
volta ao
Rio. Primeiramente, em 1941, foi free-lancer da Rádio Nacional e
produtor
da Rádio Mauá. Em 1946, foi contratado pela Rádio Tupi do Rio, onde
escreveu
a série humorística Neguinho e Juracy.
Tratavam-se de esquetes que
fizeram
muito sucesso, na Rádio-Sequência G-3, da Tupi.
Hélio do
Soveral era tão eclético que chegou a escrever as primeiras novelas
musicadas.
Na Tupi, em Meu amor, escalou a
Dircinha Batista, que interpretou
uma
cigana. Em Pequetita, com Mildred dos
Santos, o público pôde ouvir a voz
de Carlos
Galhardo e músicas de Geraldo Mendonça. Como era costume, a
Tupi
atrasava os salários. Por isso, Hélio do Soveral se transferiu
definitivamente
para a Nacional, em 1949.
Não é
que, naquele tempo, atrasaram o salário de Hélio na Nacional?
Logo no primeiro
mês, ele foi reclamar com o famoso diretor Victor Costa. A
briga foi
pesada e por pouco os dois não saíram rolando pelas escadas da
emissora,
na Praça Mauá. Acertado o salário, Hélio do Soveral se transferiu
para o
programa César de Alencar, que quase que imediatamente se tornou
líder dos
auditórios. E também maior ibope em todo o país. Durante 14 anos,
ele foi produtor
de César de Alencar e seu nome era anunciado todos os
sábados
para o auditório superlotado.
trabalhador.
Foi
redator nos programas Haroldo de Andrade,
na Rádio Globo. É
pouco?
Pois, então, veja: ele também escreveu o primeiro policial na história do
cinema, O
Dominó Negro, quetinha no elenco
Elvira Pagã e Moacyr Fenelon.
Assinou
comédias, entre elas, Milagre de amor,
com Fada Santoro e Paulo
Porto, em
1951.
Criativo
e trabalhador, Hélio do Soveral escreveu
livros de bolso para a Editora
Tecnoprint, hoje Ediouro, nos anos 70. As coleções se tornaram febre no país,
principalmente
as infanto-juvenis. Preferiu usar o pseudônimo de Irani de
Castro. Hélio chegou a trabalhar na televisão. Na TV Tupi, em
1964, assinou o
programa Clube dos Mortos.
Realizou shows para a TV Rio e uma novela sobre
vampiros para a TV Excelsior, dirigida por Jacy Campos.
Desculpe, eu sei que é outro assunto, mas é que na página www.ontheshortwaves.com/history.html (em inglês) há referência a uma correspondência trocada entre uma norte-americana e a PRF5, Rádio Internacional do Brasil, na seção "1935 Reception Report", onde também há um link para um documento em pdf com a correspondência: www.ontheshortwaves.com/SWLing/Geraldine_Chandler.pdf
ResponderExcluirOuço todas as noites, como se fosse antigamente.Adoro!!!Cada noite um episódio, já estou repetindo, rsrsrs.
ResponderExcluirJá escutei todos por várias vezes e não enjôo,muito bom.
ResponderExcluirJá pensei até na possibilidade da Rede Globo comprar os direitos autorais e fazer uma série televisiva com todos os episódios,já pensou que máximo?!
Kirrê, tivemos a mesma idéia.
ExcluirJá pensei em quem adaptar os episódios.
Ninguém menos que Agnaldo Silva.
Qualquer arquivo na mão GROBOOOOOO..Será queimado ou lixo.Vcs estão doidos.Quem preserva ACERVO e o Silvio Santos.Vide algumas obras da Manchete.
ExcluirEu volto ao passado naquela época que ne todos tinham tv...já indiquei para varias pessoas...obrigado pela oportunidade de ouvirmos novamente...grande abraço a todos
ResponderExcluirEu tenho esse sonho: ver as histórias do Teatro de Misterio adaptadas por algum canal de TV. Poderiam passar às sextas feiras, à noite, como o antigo Grande Teatro Tupi, que passava n a extinta TV Tupi.
ExcluirOuço teatro de mistério até hoje pela internet, sempre à noite e 2 episódis por noite.
ResponderExcluirJá ouvi os 317 episódios disponíveis na Internet, sei a historia de cada um deles, mas sou viciada em dormir ouvindo as maravilhosas vozes dos radioatores e radiatrizes.
ExcluirEu escuto todos os dias! Saudades do Inspetor Santos e do amigo Minoro!
ResponderExcluirMuito bom! Qual o tema musical da abertura do Teatro de Mistério?
ResponderExcluirOi bom dia.....
ResponderExcluirEu estou a procura de episódios de histórias assombradas.....
Será que alguem pode me ajudar?
Algum link?
ResponderExcluirEstou a procurar histórias assombradas
ResponderExcluirprocuro mais coisas do soveral sou deficiente visual e tenho toda a série do teatro de mistérios a propósito existem mais dois episódios um corpo na banheira e o assassino do espelho por tanto são trezentos e dezoito episódios podedm serem buscados no site: www.cegosbrasil.net/radionovelas procuro também as rádio novelas os fantasmas acho que da rádio mederland e maria ninguém da rádio tupi rj 1974 foi ao ar se alguém puder mandar fico-lhes grato.
ResponderExcluira propósito meu e-mail é: evertonfandojesse@gmail.com para me enviarem os links das novelas os fantasmas e maria ninguém ou até mesmo mais materiais sobre o hélio do soveral. obrigado
ResponderExcluirhttp://outrasbossas.blogspot.com/2007/02/teatro-de-mistrio-n-01-assassino-de_19.html
ResponderExcluirhttp://www.tropix.nce.ufrj.br/teatro/
ResponderExcluirEssa sere é o máximo, me faz voltar os tempos de ouro do radio. Eu e minha esposa ouvimos todas as noites, mesmo já conhecendo todos os episódios. Muito bom mesmo.
ResponderExcluirEu quando criança adorava o teatro de mistério, então encontrei novamente todos os capítulos na net, e estou revivendo minha infância alegre e feliz.
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