segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Teatro de Mistério: Hélio de Soveral




Rose Esquenazi

   Dos anos 50 aos 70, a Rádio Nacional transmitiu um programa policial que fez muito sucesso. Escrito por Hélio do Soveral, chamava-se Teatro de Mistério. Hélio do Soveral Rodrigues de Oliveira Trigo nasceu em Setúbal, Portugal, em 30 de setembro de 1918. Hélio foi um radialista muito produtivo e criativo. Assinou 20 novelas, em diferentes estações de rádio, e adaptou inúmeros textos. Trabalhou também na TV e no cinema, além de ser bem-sucedido escritor infanto-juvenil. Ficou famoso e usou vários pseudônimos imponentes. Ele foi Alexeya Slovenskaia Rubenitch, Allan Doyle, Clarence Mason, EllSov, Frank Rougler, Gedeão Maureira, Irani de Castro, John Key, por aí vai.

 Ouça o episódio O estrangulador de Laranjeiras, do Teatro de Mistério, recuperado pelo Tropix, Núcleo de Computação Eletrônica (NCE). O endereço é: outras bossas.blogspot.com.br.  Com muitos efeitos especiais, como vocês poderão constatar, e uma direção eficiente, o programa atraía um enorme público aos sábados pela manhã, às 9h, e nas noites de segunda-feira, em horário alternativo. 

    A atriz Carmem Dolores interpretou o papel da empregada Guiomar. Geraldo Avelar, o papel do comissário. Neida Regina, o de Alba e Cauê Filho, Djalma. O herói era o inspetor Marques, do Departamento de Polícia Judiciária do Rio de Janeiro. Em outras edições do Teatro de Mistério, o inspetor Marques foi interpretado pelo famoso ator Rodolfo Mayer e o detetive Zito por Gerdal dos Santos, que ainda hoje trabalha na Rádio Nacional. Com a demissão de Gerdal e Rodolfo Mayer, no golpe de 64, entraram no elenco Domício Costa, como inspetor, e Cauê Filho, como o japonês Minôro.

     A trilha sonora era muito interessante e aflitiva. O clima criado era perfeito para mais um crime recém descoberto em um bairro da Zona Sul. No caso, o estrangulamento de uma senhora muito rica. A sonoplastia, que ficava no fundo do estúdio, sempre foi ponto de honra da Nacional que caprichava nos detalhes. O contrarregra estudava o roteiro como todos os atores e diretores. Ele comandava o som dos objetos e instrumentos criados especialmente para a “decoração sonora”, como se dizia na época. Não havia computadores ainda, é claro.

     A música também era pensada com antecedência e entrava ao vivo. Os músicos ficavam na parte superior do estúdio. O diretor regia tudo: músicos e atores. A um sinal, começava a música e cada intérprete saía de seu assento no semicírculo, e se dirigia ao microfone conforme era solicitado pelo script. Não havia plateia no estúdio. No auge da Nacional, a Divisão de Radioteatro contava com 106 atores e atrizes, sendo seis vozes infantis. Até meados dos anos 50, foram transmitidas 861 novelas, sendo que a primeira foi Em busca da felicidade, em 1941.

    Vamos voltar ao Teatro de Mistério. Nessa edição, no bairro de Laranjeiras, três crimes seguidos deixaram os moradores apavorados. Na história radiofônica, uma mulher rica foi assassinada com um fio de nylon. A empregada Guiomar foi a primeira suspeita e foi investigada, logo no começo da transmissão. Mas a trama vai apresentando outros possíveis assassinos, como uma trama bem montada de Sherlock Holmes ouobra  escrita por Agatha Christie. O autor Hélio do Soveral conseguia misturar a narrativa britânica com locais e personagens tipicamente cariocas. Muito original.

    Hélio do Soveral escreveu 316 capítulos do Teatro de Mistério. Cada episódio tinha duração aproximada de 45 minutos. Os títulos sugeriam sempre a tensão que acompanha um caso policial. Um corpo na banheira, Armadilhas, Assassinos de Mulheres, Onde está Marisa, Morre um milionário, Quem matou Madame Blanchard, Retrato de um fantasma, são alguns deles.

    Nesse episódio, eram muitos os suspeitos. Podia ser o rapaz da farmácia, a dona da vendinha, o guarda-livros Djalma, ou talvez um total desconhecido. Podemos notar pelos diálogos, as expressões e frases da época. “Causar espécie, joias que são tentação para os ladrões, álibis perfeitos etc. “Você tem certeza de que não matou ninguém?”, perguntou a nova patroa de Guiomar para o marido deprimido. Djalma já tinha passado um tempo no manicômio. Sofrendo de frequentes casos de amnésia, ficava nervoso à toa e, muitas vezes, não dava conta de seus atos. O público apontava para ele: era claro que foi o autor do crime.

     Ao acompanhar o raciocínio do inspetor, que fazia uma minuciosa análise das investigações, as pessoas de casa iam mudando de opinião. O policial mostrava a falsidade dos personagens, suas  reações estranhas, os métodos de trabalho, desconfianças. Um dos truques foi procurar notas do dinheiro roubado que tinha numeração sequenciada. Era fundamental descobrir como o ladrão entrou na casa, usou da violência ou não?

     Os comentários dos internautas no site também são muito interessantes. Teve gente que gravou tudo para ficar ouvindo todas as noites e se lembrar do passado e aproveitar para matar a insônia. Outras pessoas são fãs do mistério, suspense e do clima de investigação dos mais estranhos crimes. No Memorial Soveral, cada episódio é acompanhado de sinopse e ficha técnica. 

     Hélio do Soveral chegou ao Brasil aos 7 anos e não fez curso superior. Segundo Renato Murce, no livro Bastidores do rádio (Ed. Imago), o único diploma que possuía era o PRE-Neno, como Amigo dos Cantores Novos.  Casa Neno vendia eletrodomésticos e patrocinava vários artistas do rádio. A vida profissional do radialista começou na Rádio Tupi, onde escreveu a primeira história seriada Aventuras de Lewis Durban. Era uma espécie de novela com capítulos semanais dirigidos por Olavo de Barros.

     Hélio entrou para o elenco do mais famoso programa de rádio dos anos 40, o
Programa Casé, na Rádio Mayrink Veiga.Depois,se mudou para São Paulo. Fez
sucesso escrevendo episódios do Teatro de Romance, na PRA-5, dirigido por
Oduvaldo Viana. Em 1941, a emissora tinha 95% da audiência no horário das
21h.

     A experiência em São Paulo foi muito rica, mas logo Hélio do Soveral estava de
volta ao Rio. Primeiramente, em 1941, foi free-lancer da Rádio Nacional e
produtor da Rádio Mauá. Em 1946, foi contratado pela Rádio Tupi do Rio, onde
escreveu a série humorística Neguinho e Juracy. Tratavam-se de esquetes que
fizeram muito sucesso, na Rádio-Sequência G-3, da Tupi.

     Hélio do Soveral era tão eclético que chegou a escrever as primeiras novelas
musicadas. Na Tupi, em Meu amor, escalou a Dircinha Batista, que interpretou
uma cigana. Em Pequetita, com Mildred dos Santos, o público pôde ouvir a voz
de Carlos Galhardo e músicas de Geraldo Mendonça. Como era costume, a
Tupi atrasava os salários. Por isso, Hélio do Soveral se transferiu
definitivamente para a Nacional, em 1949.

     Não é que, naquele tempo, atrasaram o salário de Hélio na Nacional?
Logo no primeiro mês, ele foi reclamar com o famoso diretor Victor Costa. A
briga foi pesada e por pouco os dois não saíram rolando pelas escadas da
emissora, na Praça Mauá. Acertado o salário, Hélio do Soveral se transferiu
para o programa César de Alencar, que quase que imediatamente se tornou
líder dos auditórios. E também maior ibope em todo o país. Durante 14 anos,
ele foi produtor de César de Alencar e seu nome era anunciado todos os
sábados para o auditório superlotado.

     Mais tarde, na Rádio Mauá, Hélio do Soveral apostou no Teatro experimental do
trabalhador.  Foi redator nos programas Haroldo de Andrade, na Rádio Globo. É
pouco? Pois, então, veja: ele também escreveu o primeiro policial na história do
cinema, O Dominó Negro, quetinha no elenco Elvira Pagã e Moacyr Fenelon.
Assinou comédias, entre elas, Milagre de amor, com Fada Santoro e Paulo
Porto, em 1951.

    Criativo e trabalhador, Hélio do Soveral escreveu livros de bolso para a Editora
Tecnoprint, hoje Ediouro, nos anos 70. As coleções se tornaram febre no país,
principalmente as infanto-juvenis. Preferiu usar o pseudônimo de Irani de
Castro. Hélio chegou a trabalhar na televisão. Na TV Tupi, em 1964, assinou o
programa Clube dos Mortos. Realizou shows para a TV Rio e uma novela sobre
vampiros para a TV Excelsior, dirigida por Jacy Campos.



21 comentários:

  1. Desculpe, eu sei que é outro assunto, mas é que na página www.ontheshortwaves.com/history.html (em inglês) há referência a uma correspondência trocada entre uma norte-americana e a PRF5, Rádio Internacional do Brasil, na seção "1935 Reception Report", onde também há um link para um documento em pdf com a correspondência: www.ontheshortwaves.com/SWLing/Geraldine_Chandler.pdf

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  2. Foi uma grande surpresa encontrar todos os episódios do teatro de mistério. Sou um ouvinte assíduo aqui em Edmonton Canada. Como brasileiro que a muito, vivo no exterior. Eu me sinto como se estivesse na minha cidade do Rio de Janeiro ouvindo os nomes das ruas como aquelas da Praça Saenz Peña.
    Um grande abraço

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    1. Oi bom dia.....
      Eu estou a procura de episódios de histórias assombradas.....
      Será que alguem pode me ajudar?

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    2. http://outrasbossas.blogspot.com/2007/02/teatro-de-mistrio-n-01-assassino-de_19.html

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    3. http://www.tropix.nce.ufrj.br/teatro/

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  3. Ouço todas as noites, como se fosse antigamente.Adoro!!!Cada noite um episódio, já estou repetindo, rsrsrs.

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  4. Já escutei todos por várias vezes e não enjôo,muito bom.
    Já pensei até na possibilidade da Rede Globo comprar os direitos autorais e fazer uma série televisiva com todos os episódios,já pensou que máximo?!

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    1. Kirrê, tivemos a mesma idéia.
      Já pensei em quem adaptar os episódios.
      Ninguém menos que Agnaldo Silva.

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    2. Qualquer arquivo na mão GROBOOOOOO..Será queimado ou lixo.Vcs estão doidos.Quem preserva ACERVO e o Silvio Santos.Vide algumas obras da Manchete.

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  5. Eu volto ao passado naquela época que ne todos tinham tv...já indiquei para varias pessoas...obrigado pela oportunidade de ouvirmos novamente...grande abraço a todos

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    1. Eu tenho esse sonho: ver as histórias do Teatro de Misterio adaptadas por algum canal de TV. Poderiam passar às sextas feiras, à noite, como o antigo Grande Teatro Tupi, que passava n a extinta TV Tupi.

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  6. Ouço teatro de mistério até hoje pela internet, sempre à noite e 2 episódis por noite.

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    1. Já ouvi os 317 episódios disponíveis na Internet, sei a historia de cada um deles, mas sou viciada em dormir ouvindo as maravilhosas vozes dos radioatores e radiatrizes.

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  7. Eu escuto todos os dias! Saudades do Inspetor Santos e do amigo Minoro!

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  8. Muito bom! Qual o tema musical da abertura do Teatro de Mistério?

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  9. Estou a procurar histórias assombradas

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  10. procuro mais coisas do soveral sou deficiente visual e tenho toda a série do teatro de mistérios a propósito existem mais dois episódios um corpo na banheira e o assassino do espelho por tanto são trezentos e dezoito episódios podedm serem buscados no site: www.cegosbrasil.net/radionovelas procuro também as rádio novelas os fantasmas acho que da rádio mederland e maria ninguém da rádio tupi rj 1974 foi ao ar se alguém puder mandar fico-lhes grato.

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  11. a propósito meu e-mail é: evertonfandojesse@gmail.com para me enviarem os links das novelas os fantasmas e maria ninguém ou até mesmo mais materiais sobre o hélio do soveral. obrigado

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  12. Essa sere é o máximo, me faz voltar os tempos de ouro do radio. Eu e minha esposa ouvimos todas as noites, mesmo já conhecendo todos os episódios. Muito bom mesmo.

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  13. Eu quando criança adorava o teatro de mistério, então encontrei novamente todos os capítulos na net, e estou revivendo minha infância alegre e feliz.

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