segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Garoto: Pai do violão moderno





Rose Esquenazi

     Hoje, começo o quadro fazendo um desafio. Quem são os autores dessa linda música chamada Gente Humilde?...Acertou quem disse que a letra é Chico Buarque, que também interpretou essa versão. A letra, é bom que se diga, nasceu muitos anos depois. Mas quem compôs a música? ...  Alguém já ouviu falar de Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto?   É dele de quem vamos falar hoje. Aníbal nasceu em São Paulo, em 28 de junho de 1915 e morreu no Rio, em 3 de maio de 1955, antes de completar 40 anos. Garoto é chamado de “O pai do violão moderno”. Segundo o texto de Jorge Carvalho de Mello, no site do Acervo Digital do Violão Brasileiro, na internet, sem o Garoto “não existiriam Baden Powell, Raphael Rabello, Yamandu Costa, Paulo Bellinati”. Todos são grandes intérpretes do instrumento que teve a sua linguagem transformada com o tempo.


     Quinto filho de sete de um casal de imigrantes portugueses - Antônio Augusto Sardinha e Adosinda dos Anjos Sardinha - Garoto foi o primeiro a nascer no Brasil. Desde criança, ouvia o pai tocar guitarra portuguesa e violão. O irmão Inocêncio tocava banjo e Batista, o outro irmão, tocava banjo, violão e guitarra portuguesa.

     É claro que esse ambiente musical influenciou o jovem músico. Começou por fazer experimentos em uma viola feita de pau e corda, veja só. Para ajudar nas despesas da casa, aos 11 anos de idade, começou a trabalhar em uma loja de instrumentos no bairro do Brás, em SP. O primeiro instrumento de Garoto não foi o violão, como era de se esperar, mas um banjo, presente do irmão, Batista. No começo da vida artística, dedilhava o instrumento, e, depois, passou a ser violonista e cantor, segundo o site do Dicionário Cravo Albin.

     Participou, como amador, dos conjuntos Jazz Band Universal, Regional Irmãos Armani e Grupo Regional do Pory, entre outros. Até que, em 1928, passou a fazer parte de uma grande orquestra, organizada por Américo Jacomino. Em 1930, em São Paulo, ganhou um concurso na Rádio Educadora, como solista. Cinco anos depois, mudava de estação. Na Rádio Cosmos, foi solista do grupo regional e do grupo de jazz dessa estação paulistana. 

     Nessa época, teve um excelente encontro com Sylvio Caldas, que adorou ser acompanhado por Garoto. No início, Sylvio Caldas teve medo de um paulista desafinar no samba. Pelo contrário, Garoto passou a acompanhá-lo na turnê de São Paulo e, devido ao grande talento, o violonista recebeu convite para entrar na Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. De volta a São Paulo, entrou para a Rádio Cruzeiro do Sul, onde ganhou um programa só para ele chamado Garoto e Seus Instrumentos.

     Pouca gente sabe que Garoto era uma das atrações de Carmem Miranda e o Bando da Lua quando eles embarcaram para a grande turnê nos Estados Unidos. Sardinha ganhava mais do que os integrantes do Bando, gravou discos de sucesso e fez até uma apresentação na Casa Branca. Tudo parecia estar bem, até as férias de Carmem Mirandano Rio. O violonista decidiu que não voltaria mais para os EUA. Ele era casado com Dugenir, uma negra, e o racismo incomodava bastante nos Estados Unidos.  Além disso, o novo empresário de Carmem queria que o Garoto ganhasse menos e deixasse de ser atração especial. Logo ele, que também era um criativo compositor.

     Em 1942, começa a fase mais importante na vida de Garoto. Foi na Rádio Nacional que ele conheceu o maestro Radamés Gantalli, de quem ficou muito amigo. Logo ganhou dois programas: Garoto e seus instrumentos e Garoto e seus Solos.  Como integrante da Orquestra Brasileira, ele participou do famoso programa Um milhão de melodias, que fez enorme sucesso. Na atração, apresentava com outros músicos as mais famosas músicas do mundo. Depois, fez parte de outra atração da Nacional: o Nada além de dois minutos.   

     Garoto trabalhava bastante porque, além disso tudo, integrou a Orquestra All Stars, comandada pelo maestro Carioca (Ivan Paulo). Em 1944, Garoto formou um duo com a cantora e pianista Carolina Cardoso de Menezes. Carolina vinha da Rádio Tupi, Educadora e Mayrink Veiga e acompanhou famosos cantores da época, desde os anos 30. Na Nacional, a música instrumental era muito admirada e, como já dissemos outras vezes, as canções ganharam nova roupagem com os instrumentos clássicos e os arranjos de Radamés.

     Depois da Nacional, Garoto ainda trabalhou na Rádio Guanabara e Rádio Tupi, onde ficou até 1949 participando de vários programas, como Um fio de melodias, Hora do Recreio, Semana do Rádio, Ritmo Louco e Diabruras do Garoto.  Garoto formou, em 1952, com outros músicos o Trio Surdina, com Chiquinho do Acordeom e Fafá Lemos. Esse também era o nome de um programa de rádio. Os músicos lançaram o disco Trio Surdina toca Ary Barroso.

     Garoto ainda trabalhou com o humorista José de Vasconcelos, tanto na direção musical quanto na apresentação de sua arte como multi-instrumentista. A peça Precisa-se de um presidente iria estrear em maio no Teatrinho Jardel, mas no dia 3 de maio de 1955, Garoto passou mal. O violonista pediu que a sua mulher desmarcasse os compromissos. Teve um infarto no miocárdio e morreu antes de realizar seu sonho de fazer turnês nos Estados Unidos e na Europa.

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