Rose Esquenazi
Hoje, começo o quadro fazendo
um desafio. Quem são os autores dessa linda música chamada Gente Humilde?...Acertou quem disse que a letra
é Chico Buarque, que também interpretou essa versão. A letra, é bom que se
diga, nasceu muitos anos depois. Mas quem compôs a música? ... Alguém já ouviu falar de Aníbal Augusto
Sardinha, o Garoto? É dele de quem
vamos falar hoje. Aníbal nasceu em São Paulo, em 28 de junho de 1915 e morreu
no Rio, em 3 de maio de 1955, antes de completar 40 anos. Garoto é chamado de
“O pai do violão moderno”. Segundo o texto de Jorge Carvalho de Mello, no site
do Acervo Digital do Violão Brasileiro, na internet, sem o Garoto “não
existiriam Baden Powell, Raphael Rabello, Yamandu Costa, Paulo Bellinati”.
Todos são grandes intérpretes do instrumento que teve a sua linguagem transformada
com o tempo.
Quinto filho de
sete de um casal de imigrantes portugueses - Antônio Augusto Sardinha e
Adosinda dos Anjos Sardinha - Garoto foi o primeiro a nascer no Brasil. Desde
criança, ouvia o pai tocar guitarra portuguesa e violão. O irmão Inocêncio
tocava banjo e Batista, o outro irmão, tocava banjo, violão e guitarra
portuguesa.
É claro que esse
ambiente musical influenciou o jovem músico. Começou por fazer experimentos em
uma viola feita de pau e corda, veja só. Para ajudar nas despesas da casa, aos
11 anos de idade, começou a trabalhar em uma loja de instrumentos no bairro do
Brás, em SP. O primeiro instrumento de Garoto não foi o violão, como era de se
esperar, mas um banjo, presente do irmão, Batista. No começo da vida artística,
dedilhava o instrumento, e, depois, passou a ser violonista e cantor, segundo o
site do Dicionário Cravo Albin.
Participou, como
amador, dos conjuntos Jazz Band Universal, Regional Irmãos Armani e Grupo
Regional do Pory, entre outros. Até que, em 1928, passou a fazer parte de uma
grande orquestra, organizada por Américo Jacomino. Em 1930, em São Paulo, ganhou
um concurso na Rádio Educadora, como solista. Cinco anos depois, mudava de
estação. Na Rádio Cosmos, foi solista do grupo regional e do grupo de
jazz dessa estação paulistana.
Nessa época, teve
um excelente encontro com Sylvio Caldas, que adorou ser acompanhado por Garoto.
No início, Sylvio Caldas teve medo de um paulista desafinar no samba. Pelo
contrário, Garoto passou a acompanhá-lo na turnê de São Paulo e, devido ao grande
talento, o violonista recebeu convite para entrar na Rádio Mayrink Veiga, no
Rio de Janeiro. De volta a São Paulo, entrou para a Rádio Cruzeiro do Sul, onde
ganhou um programa só para ele chamado Garoto
e Seus Instrumentos.
Pouca gente sabe
que Garoto era uma das atrações de Carmem Miranda e o Bando da Lua quando eles
embarcaram para a grande turnê nos Estados Unidos. Sardinha ganhava mais do que
os integrantes do Bando, gravou discos de sucesso e fez até uma apresentação na
Casa Branca. Tudo parecia estar bem, até as férias de Carmem Mirandano Rio. O
violonista decidiu que não voltaria mais para os EUA. Ele era casado com
Dugenir, uma negra, e o racismo incomodava bastante nos Estados Unidos. Além disso, o novo empresário de Carmem
queria que o Garoto ganhasse menos e deixasse de ser atração especial. Logo
ele, que também era um criativo compositor.
Em 1942, começa a
fase mais importante na vida de Garoto. Foi na Rádio Nacional
que ele conheceu o maestro Radamés Gantalli, de quem ficou muito amigo. Logo
ganhou dois programas: Garoto e seus
instrumentos e Garoto e seus Solos. Como integrante da Orquestra Brasileira, ele participou
do famoso programa Um milhão de melodias,
que fez enorme sucesso. Na atração, apresentava com outros músicos as mais famosas
músicas do mundo. Depois, fez parte de outra atração da Nacional: o Nada além de dois minutos.
Garoto trabalhava bastante porque, além disso
tudo, integrou a Orquestra All Stars, comandada pelo maestro Carioca (Ivan
Paulo). Em 1944, Garoto
formou um duo com a cantora e pianista Carolina Cardoso de Menezes. Carolina
vinha da Rádio Tupi, Educadora e Mayrink Veiga e acompanhou famosos cantores da
época, desde os anos 30. Na Nacional, a música instrumental era muito admirada
e, como já dissemos outras vezes, as canções ganharam nova roupagem com os
instrumentos clássicos e os arranjos de Radamés.
Depois da Nacional, Garoto ainda
trabalhou na Rádio Guanabara e Rádio Tupi, onde ficou até 1949 participando de vários
programas, como Um fio de melodias, Hora
do Recreio, Semana do Rádio, Ritmo Louco e Diabruras do Garoto. Garoto
formou, em 1952, com outros músicos o Trio Surdina, com Chiquinho do Acordeom e Fafá Lemos. Esse também era o
nome de um programa de rádio. Os músicos lançaram o disco Trio Surdina toca Ary Barroso.
Garoto ainda trabalhou com o
humorista José de Vasconcelos, tanto na direção musical quanto na apresentação
de sua arte como multi-instrumentista. A peça Precisa-se de um presidente iria estrear em maio no Teatrinho
Jardel, mas no dia 3 de maio de 1955, Garoto passou mal. O violonista pediu que
a sua mulher desmarcasse os compromissos. Teve um infarto no miocárdio e morreu
antes de realizar seu sonho de fazer turnês nos Estados Unidos e na Europa.
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