Rose Esquenazi
Hoje,
vamos nos lembrar de mais um gênio da música carnavalesca
que ganhou destaque graças ao crescimento do rádio. Antônio Gabriel Nássara, mais conhecido como Nássara, nasceu no Rio de Janeiro, no dia 11 de novembro de 1910. Ele
morreu aos 86 anos, também no Rio de Janeiro, no dia 11 de dezembro de 1996.
Ele foi compositor, caricaturista e desenhista brasileiro. Como compositor, gravou 200 sambas e marchas de 1932 a
1970. É interessante ver como a carreira desse filho de libaneses foi tão
próxima dos grandes nomes da música como Lamartine Babo, Noel Rosa e Ary Barroso. Muitas vezes, ele venceu concursos disputando com esses
grandes talentos.
Morador
de Vila Isabel, vizinho de Noel Rosa, Nássara começou a trabalhar no rádio
muito jovem. Ele ajudou Adhemar Casé na área de criação dos primeiros
comerciais, liberados pelo governo a partir de 1932. No primeiro programa de grande
sucesso no país, o Programa Casé, na
Rádio Philips, Nássara compôs o primeiro jingle
brasileiro de que se tem notícias, o da Padaria Bragança.
Seu maior sucesso foi a marcha Alá-lá-ô, de 1941, em parceria com Haroldo Lobo. Com a obra, ele conseguia fazer uma paródia e
citava composições de sucesso em suas próprias músicas. Como revela o site Esquinas
Culturais, o folião Haroldo Lobo já tinha assinado muitas marchinhas de
carnaval. Até que pediu para Nássara terminar a música, que ele considerava despretensiosa.
Nássara pensou em uma divindade e depois
em cartão postal africano que mostrava o deserto do Saara. Haroldo gostou e arrematou
com o refrão entusiasmado foi um pulo: “Alá lá ôôô, mas que calor, ôôô…”.
Pixinguinha caprichou nos arranjos e na orquestração. Nas
palavras de Nássara: “Pixinguinha tinha dividido a melodia em compassos
marcantes, saltitantes, brejeiros, originais, vestindo-a com roupagem da alma
popular. E eu tive uma sorte danada porque “Alá lá ô” ficou sendo uma das
músicas mais tocadas no Carnaval. Até hoje a música faz sucesso”, disse Nássara.
O compositor estreou na imprensa
carioca no jornal O Globo, em 1927, com um desenho que acompanhou a
reportagem de Eduardo Bahout sobre a travessia do Atlântico realizada pelo
hidroavião Jahú. Euricles de Matos, redator-chefe do jornal, encorajou o jovem
Nássara a continuar na carreira, o que ocorreu alguns anos depois. Nássara
começou a estudar arquitetura na Escola de Bellas Artes, mas não se formou.
Levou paralelamente e com muita criatividade a carreira de desenhista e
cartunista. Um dos primeiros empregos, foi o de retocador de fotografias na
seção de desenho do jornal A Crítica. Em 1929, publicou alguns
trabalhos no jornal A Noite e fundou o Conjunto musical da
Escola de Bellas Artes, a Enba. Com os músicos Jota Rui, Barata Ribeiro,
Manuelito Xavier, Jaci Rosas e Luis Barbosa, Nássara compôs músicas e se
apresentou as primeiras marchas na Rádio Club do Brasil. Nássara se dividiu entre a faculdade, com
pouco empenho, e a música, com muita animação.
Costumava frequentar o Café Nice
e a boemia. Todo esse grupo de músicas está sempre nas estações de rádio, cada
vez mais populares na cidade. Um dos maiores sucessos de 1932 é de Nássara e se
chama Formosa. No ano seguinte, Mário
Reis (1907 - 1981) e Francisco Alves (1898 - 1952) gravaram esse samba também de
autoria de J.Rui. Formosa fez
sucesso no carnaval carioca de 1933. É bom dizer que as
marchinhas de Carnaval dos anos 30 eram bem diferentes das que foram gravadas
na década seguinte. Havia algo de tristeza, contaminando todos os foliões, que
passaram a cantar os versos: “Foi Deus quem te fez formosa, formosa, ô formosa,
porém este mundo te tornou presunçosa, presunçosa…”
A carreira nos jornais estava chamando Nássara com
novas oportunidades. Desde 1931, o jovem já tinha abandonado o curso de
arquitetura, para desgosto do pai. Passou
a trabalhar como paginador no jornal A Esquerda, no
qual publicou diversas caricaturas. Desenhou muitas
vezes a imagem tão peculiar de Noel Rosa, que tinha um grave defeito no queixo.
Entre as 53 caricaturas inspiradas no compositor da Vila, Nássara criou, anos
mais tarde à morte de Noel, a capa de um disco histórico que apresentava as
músicas da mais famosa polêmica musical dos anos 30, entre o Poeta da Vila e Wilson
Batista. Com Noel Rosa, Nássara compôs Retiro
da saudade. com Carmem Miranda e Francisco Alves. Vamos ouvir a música que
começa assim:
Quando por
amor suspiro / A saudade vem, então / Encontrar o seu retiro / Encontrar o seu
retiro / Dentro do meu coração.
Como notou o jornalista Millôr Fernandes (1923), Nássara é o "Mondrian
do portrait-charge”. Ele corrigia a natureza fazendo com que as
personagens acabem se parecendo com a caricatura". Sabendo que a música
não dava camisa a ninguém, deixou suas marcas também nos jornais Carioca, Vamos Ler, A Noite, Diretrizes, O Cruzeiro, Mundo Ilustrado, Flan, Última
Hora e Pasquim.
Nássara emprestou o seu humor à musica Periquitinho Verde. A marcha
foi composta em 1938, por ele e o professor de desenho Sá Róris. A letra
revelava os casamentos sob o ponto de vista da mulher, que diz que não atura
“mamãe eu quero mamar”. Nássara era amigo do ventríloquo Batista Júnior, pai
das irmãs Batista. E foi cantando Periquitinho
Verde, que Dircinha Batista, ainda uma menina de 8 anos, se lançou no
programa de rádio de Francisco Alves, na Rádio Cajuti, nos anos 30. Começava ali uma nova
carreira musical que acabou influenciando a irmã, Linda Batista.
Antes de o Brasil se decidir ir para a guerra, Nássara e Eratóstenes Frazão criaram uma
marchinha que falava sobre a índole pacífica do povo brasileiro. Calma no Brasil, interpretada por
Dircinha Batista, dizia assim:
"Neste
Brasil, é bem pacata a mocidade, não anda armada nem sequer de canivete /
Enquanto os outros têm batalhas de verdade, nossas batalhas são batalhas de
confete / Nós vivemos no melhor pedaço da Terra, calma no Brasil que a Europa
está em guerra".
O bom humor de
Nássara e Wilson Batista pode ser constatado na música Balzaqueana que valorizava as mulheres com
mais de 30 anos. Aquele em um tempo em que havia uma explosão de canções
valorizando os brotinhos, adolescentes que desabrochavam. Nássara começou a
sofrer de surdez muito jovem, nos anos 40. E. por isso, ele se distanciou da
música para mergulhar totalmente nas
caricaturas. Em 1974 e até 1983, trabalhou no semanário O Pasquim, ao
lado de Jaguar, Ziraldo e Millôr Fernandes. Em 1996, um mês antes de
falecer, concluiu sua última obra, 30 desenhos para o livro
infantil, Moça Perfumosa, Rapaz Pimpão, escrito por Daniela
Chindler.
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