segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Brandão: o primo pobre. Primeira Parte






Rose Esquenazi

Os mais famosos programas humorísticos da Rádio Nacional foram o PRK 30 e o Balança mas não cai.  Marco Aurélio Carvalho já citou várias vezes essas atrações no quadro 'O rádio faz história'.

      Na semana passada, começamos a falar sobre Brandão Filho e um personagem famoso vivido por ele no programa 'Balança, mas não cai': o Primo Pobre. Ele era peça importante da dupla que fazia com Paulo Gracindo, o Primo Rico.

      Nesta segunda parte do especial sobre Brandão Filho, vamos ouvir a abertura de outro programa humorístico que fez muito sucesso na Rádio Nacional: Tancredo e Trancado. Escrito por Ghiaroni, tinha no elenco os radioatores Brandão Filho e Apolo Correia. Brandão Filho fazia o papel de Tancredo, já Apolo, o de Trancado. Era uma radionovela humorística que ia ao ar na Nacional aos domingos. No YouTube, há uma gravação original, de 13 de setembro de 1953.

     A recriação dos estudantes da Universidade de Santo Amaro está no YouTube e foi produzida em 2010. É muito inetressante a iniciativa da professora de rádio em oferecer aos alunos o roteiro original e dar a eles a oportunidade de interpretar e gravar o episódio  “Departamento Nacional de más notícias.  Aqui, fala o Urubu Rei”, nos estúdios da universidade. Para quem quiser ouvir é só colocar o título do programa: Tancredo e Trancado.

     Outra coisa que devemos observar é a abertura muito bem estruturada,  com trilha correta. A abertura incluía também - como era comum naquele tempo – o patrocinadpr, no caso, as Pílulas de Vida do Dr. Ross. Vocês ouviram, não é? Ele diz assim: “pequeninas, mas resolvem”. Isso é: qualquer problema do fígado e órgãos adjacentes (ninguém diferenciava a visícula, estômago ou intestino, era tudo figado!) tinha cura imediata com as pequenas pílulas.

      Mas vamos voltar ao programa Balança Mas Não Cai, no qual Brandão Filho brilhou ao lado de Paulo Gracindo. No diálogo entre os primos, havia muitas doses de humor negro. Em certo programa, escrito por Max Nunes, que também recebia colaborações de Paulo Gracindo, o Primo Pobre relata que os filhos estão passando fome em casa. A situação chegou a tal ponto que os meninos pretendiam matar a galinha Ximbica, o bichinho de estimação da família. O Primo Rico intervém: não, eles não podem matar o animal. Seria um crime horrível. No encerramento do quadro, Primo Rico tem uma ideia genial. Entrega duas caixas vazias de charuto. E para que serviriam as caixinhas? Para os filhos do Primo Pobre brincarem. Assim, não precisariam matar a Ximbica! Ou seja, o dinheiro fundamental para comprar comida era devidamente esquecido. A patrocinadora do Balança Mas Não Cai,  a Perfumaria Myrta, fazia publicidade do famoso sabonete e também do talco e da pasta de dente Eucalol.

    No elenco do Balança da Rádio Nacional original, havia um excelente grupo de radioatores que depois se mudou para a televisão, como a genial Ema D’Ávila. Foi o que aconteceu com Brandão Filho. Ele passou do rádio à TV, no caso, Tupi, em  1954, e, depois se transferiu para a TV Globo.

     Brilhava como tantos outros na primeira versão da 'Escolinha do professor Raimundo'. Anos mais tarde, Chico Anysio continuou a recrutar esses atores que não tinham mais espaço nem no rádio nem na TV. Chico adorava quando Brandão repetia o bordão: “Primo, você é ótimo”. Mas na Escolinha, Brandão era Sandoval Quaresma. Sua característica era a seguinte: sempre começava a responder direitinho as perguntas do professor e depois se enrolava todo. Do bordão “Opa. Tá na ponta da língua”, passava para “Agora que me estrepo” e depois, se lamentando, dizia: “Eu estava indo tão bem!”

     Brandão atuou em várias novelas e, na década de 70, fez outro sucesso. Ele era o avô do seriado
 'A grande família', de Oduvaldo Vianna Filho, na TV Globo. Em uma família de classe média cheia de tensão, totalmente disfuncional. O velhinho ficava ali encostado, como tantos idosos. Mas sabia interferir com frases inteligentes e engraçadas nos diálogos da filha, netos e genro.

     Para os que sentem saudades desse ator, podem vê-lo em um sucesso cinematográfico: o filme Romance de empregada, de Bruno Barreto, de 1988. Não era mais o ator careteiro, Primo Pobre ou Sandoval, mas o Zé da Placa, um carregador mulherengo, uma figuraça.


     Para encerrar, vamos ouvir a abertura do 'Balança, mas não cai' do dia 7 de setembro de 1952, com um trecho da edição original do quadro 'Primo pobre, primo rico' na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Pode ser ouvida no YouTube.

     

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