Rose Esquenazi
Na última crônica, contei um pouco a história da primeira
transmissão radiofônica transoceânica de um campeonato de futebol, durante a
Copa de 1938, diretamente da França. Foi um marco, sem dúvida. Mas os áudios do
rádio não foram preservados e, por isso, tivemos que usar os dos radialistas
franceses que registaram jogos brasileiros.
Bem
próximos da Copa da Rússia, que começa no dia 14 de junho de 2018, os ouvintes vão
gostar de recordar um pouco sobre a Copa de 50, mesmo com a derrota cruel e
inesquecível contra o Uruguai. Ficamos com o vice-campeonato, mas o resultado
não foi suficiente para alegrar os brasileiros que já tinham comprado aparelhos
de rádio e que, assim, puderam acompanhar os jogos ao vivo. Eles também
compareceram ao Maracanã e em outros estádios que foram construídos no país.
Tivemos partidas no Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Curitiba e São
Paulo. Notícia boa: existem áudios preservados dessas partidas!
Ouviremos
agora a voz de Antônio Cordeiro, que narrava no jogo na Rádio Nacional, da
linha de meio de campo para a esquerda das cabines de rádio. Jorge Curi,
narrada os lances que aconteciam na outra metade do campo; o lado direito das
cabines. Dois momentos do
narrador Antônio Cordeiro: na euforia da torcida, minutos antes de a bola
rolar, e no trágico minuto final, com a vitória dos uruguaios.
Ouvimos,
então, dois trechos da histórica transmissão da Rádio Nacional do Rio de
Janeiro durante a Quarta Copa do Mundo FIFA de Futebol que ocorreu entre 24 de
junho e 16 de julho de 1950. Antônio
Cordeiro era chamado de “speaker cronista”, e foi um dos grandes locutores da
Nacional. Na emissora, ele criou o programa 'No mundo da bola', noticiário que
ia ao ar de segunda a sexta, às 18h. Já Jorge Curi, natural de Caxambu, foi
contratado pela Nacional em 1943, depois de um teste bem-sucedido. Entre os
oito irmãos, existiam outros dois famosos: o cantor Ivon Curi e o também
radialista Alberto Curi. Também tinha uma bela voz.
Nas
pesquisas que fiz na internet, encontrei um radialista da Jovem Pan chamado
Thiago Uberreich. Desde
jovem ele é obcecado pela Copa de 50. A mania começou com o pai dele, que
acompanhou os jogos pelo rádio, quando tinha 10 anos, na pequena cidade de
Águas de São Pedro.
Em
1999, na conclusão do curso de jornalismo na PUC de São Paulo, Thiago realizou
um documentário sobre esse tema. E continuou a pesquisar obsessivamente durante
17 anos até que, com muita dificuldade, encontrou todos os áudios dos jogos de
50.
Agora
uma Breaking News: No dia 12 de
junho, ele vai lançar o livro “Biografia das Copas. O maior espetáculo da Terra
no rádio, na TV e nos jornais”, na Livraria Cultura de São Paulo. Estão todos
convidados!
Thiago
Uberreich é apresentador do Jornal da Manhã, da Rádio Pan, que vai ao ar
diariamente, das 6 às 10h. Na entrevista que fiz com ele, sábado, Thiago me
disse que a Museu da Imagem e do Som do Rio o ajudou bastante nessa busca dos
jogos de 1950. O mesmo não pôde dizer sobre a Cinemateca Brasileira e sobre
colecionadores que cobraram alto sobre um patrimônio que é, afinal, de
propriedade de todos os brasileiros.
Depois
da verdadeira batalha para conseguir as partidas, além da enciclopédia que
escreveu, Thiago colocou as transmissões no YouTube e no Museu do Futebol em
São Paulo, nas dependências
do estádio do Pacaembu. Os apaixonados pelo
futebol e pelo rádio vão adorar. Ouça um trecho do jogo do Brasil e México,
4 x 0, na Copa de 50.
Segundo o jornalista Thiago Uberreich, na Copa de 50,
aconteceu a primeira comoção pública muito motivada pelo rádio. Em 1938, parece
que uma pessoa passou mal quando soube que o Brasil havia perdido para a
Itália. Mas nada foi parecido com o que ocorreu no Maracanã no jogo contra o
Uruguai. Por sorte, o jornalista entrevistou os jogadores Barbosa, Zizinho,
Bauer, e o técnico Flávio Costa, que morreu dias depois da conversa.
Os
quase 200 mil torcedores que lotaram o Maracanã estavam cheios de esperança,
mas saíram tristes e decepcionados. Muita gente comparou a derrota do Brasil de 1950 com a de 2014. As
duas Copas de fato ocorreram no Brasil, mas, pelo visto, foram bem diferentes.
Acho que o 7 a 1 contra a Alemanha foi mais humilhante.
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