terça-feira, 7 de agosto de 2018

A Rádio Nacional na Copa de 50



Rose Esquenazi


     Na última crônica, contei um pouco a história da primeira transmissão radiofônica transoceânica de um campeonato de futebol, durante a Copa de 1938, diretamente da França. Foi um marco, sem dúvida. Mas os áudios do rádio não foram preservados e, por isso, tivemos que usar os dos radialistas franceses que registaram jogos brasileiros.
Bem próximos da Copa da Rússia, que começa no dia 14 de junho de 2018, os ouvintes vão gostar de recordar um pouco sobre a Copa de 50, mesmo com a derrota cruel e inesquecível contra o Uruguai. Ficamos com o vice-campeonato, mas o resultado não foi suficiente para alegrar os brasileiros que já tinham comprado aparelhos de rádio e que, assim, puderam acompanhar os jogos ao vivo. Eles também compareceram ao Maracanã e em outros estádios que foram construídos no país. Tivemos partidas no Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Curitiba e São Paulo. Notícia boa: existem áudios preservados dessas partidas!

     Ouviremos agora a voz de Antônio Cordeiro, que narrava no jogo na Rádio Nacional, da linha de meio de campo para a esquerda das cabines de rádio. Jorge Curi, narrada os lances que aconteciam na outra metade do campo; o lado direito das cabines. Dois momentos do narrador Antônio Cordeiro: na euforia da torcida, minutos antes de a bola rolar, e no trágico minuto final, com a vitória dos uruguaios.

     Ouvimos, então, dois trechos da histórica transmissão da Rádio Nacional do Rio de Janeiro durante a Quarta Copa do Mundo FIFA de Futebol que ocorreu entre 24 de junho e 16 de julho de 1950.  Antônio Cordeiro era chamado de “speaker cronista”, e foi um dos grandes locutores da Nacional. Na emissora, ele criou o programa 'No mundo da bola', noticiário que ia ao ar de segunda a sexta, às 18h. Já Jorge Curi, natural de Caxambu, foi contratado pela Nacional em 1943, depois de um teste bem-sucedido. Entre os oito irmãos, existiam outros dois famosos: o cantor Ivon Curi e o também radialista Alberto Curi. Também tinha uma bela voz.
     
     Nas pesquisas que fiz na internet, encontrei um radialista da Jovem Pan chamado Thiago Uberreich. Desde jovem ele é obcecado pela Copa de 50. A mania começou com o pai dele, que acompanhou os jogos pelo rádio, quando tinha 10 anos, na pequena cidade de Águas de São Pedro.

     Em 1999, na conclusão do curso de jornalismo na PUC de São Paulo, Thiago realizou um documentário sobre esse tema. E continuou a pesquisar obsessivamente durante 17 anos até que, com muita dificuldade, encontrou todos os áudios dos jogos de 50.
Agora uma Breaking News: No dia 12 de junho, ele vai lançar o livro “Biografia das Copas. O maior espetáculo da Terra no rádio, na TV e nos jornais”, na Livraria Cultura de São Paulo. Estão todos convidados!

     Thiago Uberreich é apresentador do Jornal da Manhã, da Rádio Pan, que vai ao ar diariamente, das 6 às 10h. Na entrevista que fiz com ele, sábado, Thiago me disse que a Museu da Imagem e do Som do Rio o ajudou bastante nessa busca dos jogos de 1950. O mesmo não pôde dizer sobre a Cinemateca Brasileira e sobre colecionadores que cobraram alto sobre um patrimônio que é, afinal, de propriedade de todos os brasileiros.
Depois da verdadeira batalha para conseguir as partidas, além da enciclopédia que escreveu, Thiago colocou as transmissões no YouTube e no Museu do Futebol em São Paulo, nas dependências do estádio do Pacaembu. Os apaixonados pelo futebol e pelo rádio vão adorar. Ouça um trecho do jogo do Brasil e México, 4 x 0, na Copa de 50.

     Segundo o jornalista Thiago Uberreich, na Copa de 50, aconteceu a primeira comoção pública muito motivada pelo rádio. Em 1938, parece que uma pessoa passou mal quando soube que o Brasil havia perdido para a Itália. Mas nada foi parecido com o que ocorreu no Maracanã no jogo contra o Uruguai. Por sorte, o jornalista entrevistou os jogadores Barbosa, Zizinho, Bauer, e o técnico Flávio Costa, que morreu dias depois  da conversa.
Os quase 200 mil torcedores que lotaram o Maracanã estavam cheios de esperança, mas saíram tristes e decepcionados. Muita gente comparou a derrota do Brasil de 1950 com a de 2014. As duas Copas de fato ocorreram no Brasil, mas, pelo visto, foram bem diferentes. Acho que o 7 a 1 contra a Alemanha foi mais humilhante.


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