terça-feira, 7 de agosto de 2018

Programa radiofônico Céu do Brasil





Rose Esquenazi

     Hoje vamos falar de um programa chamado Céu do Brasil, apresentado pela Rádio MEC, de novembro de 1978 a junho de 1979. O idealizador foi o astrônomo Ronaldo de Freitas Mourão, que fundou, em 1984, o Museu de Astronomia e Ciências Afins, em São Cristóvão, Rio de Janeiro. Ronaldo era doutor em Astronomia pela Universidade de Paris e amava o que fazia acima de tudo. Eu me lembro de vê-lo na redação do Jornal do Brasil, onde tinha coluna de astronomia para falar sobre o assunto que poucas pessoas conhecem, mas muito se interessam. Ele também escreveu para os jornais Folha de São Paulo, O Globo e Correio Braziliense. Ronaldo investia na curiosidade dos brasileiros e lançou 60 livros em vida.

     Desde outubro de 2015, no nosso Todas as Vozes, nas quartas-feiras, às 9h10, pesquisadores do Observatório Nacional apresentam temas - na maioria das vezes, ligados à astronomia - no quadro ‘Ciência no Rádio: fenômenos no ar’. É mais uma contribuição da Rádio MEC para os admiradores da astronomia.

     Agora, vamos ouvir um trecho do Céu do Brasil, que foi ao ar no dia 10 de fevereiro de 1979. O roteiro inclui dois locutores e um sonoplasta. Mourão citou trechos de poemas de escritores famosos, o que deu leveza e poesia à atração.  A origem desse programa foi o Projeto Minerva, um marco na programação da MEC. Apesar de os tempos bicudos, durante a ditadura militar, o Minerva produziu conteúdo da mais alta qualidade. Ao todo, foram 30 programas da série ‘Céu do Brasil’ e alguns deles contaram com a locução do jornalista Eliakim Araújo. 

     Atualmente, cariocas continuam observando o céu de vários pontos da cidade.  Podemos citar o Planetário da Gávea, que é municipal, do Museu de Astronomia, instituição federal em São Cristóvão, e do novo point dos astrônomos diletantes: o Istituto Europeo di Design (IED), na Urca. No dia 23/4/2018, a jornalista Simone Cândida, do jornal O Globo, fez uma reportagem sobre esses curiosos que costumam ir à Urca para descobrir os mistérios do Universo. Segundo Simone, eles chegam carregados de telescópios, planisférios de papel e modernos aplicativos de celular. Naquele prédio onde funcionou o Cassino da Urca e, mais tarde, a TV Tupi, é possível ver as estrelas porque ali se tem um ponto   excelente, segundo o presidente do Clube de Astronomia, o astrônomo amador Carlos Ayres. Segundo ele, existem hoje 40 sócios. Na década de 80, eram 600. Ou seja, ainda há lugar para novos associados.

     O Clube de Astronomia, que reúne donas de casa, estudantes, professores e geógrafos, também foi fundado por Ronaldo de Freitas Mourão, em 1970.Mas vamos voltar ao programa Céu do Brasil.  Em uma das primeiras falas, o narrador diz: “As estrelas parecem faróis que no oceano da noite indicam os caminhos aos navegantes do espaço”.  Bastante poético, não é? Consegui o roteiro original do programa e achei curiosas as observações dadas para a técnica da Rádio MEC: “Música com efeito de estrelas cintilando”. Como será isso, Marcus Aurélio? Ronaldo de Freitas Mourão, recolheu outros poemas clássicos, como o de Fernando Pessoa, que diz: “Estrelas que pestanejam frio / Impossível de contar / O coração pulsa alheio / Impossível de escutar”. Bonito, não é?  

     O Planetário da Gávea acaba de reformar a sua cúpula e o público pode visitá-la, a partir das 18h, para fazer a observação do céu. A data da próxima visita será dia 23 de maio, mas haverá outras.  No museu, aberto aos sábados, domingos e feriados, às 16h, tem sessão para as crianças. Às 17h, o filme é para jovens e adultos.  A observação do céu é gratuita, mas essas outras atividades são pagas. O público deve acessar o site do Planetário. Eu mesma fui lá conferir a cúpula reformada no Planetário da Gávea e adorei ver as crateras da lua crescente!

     O Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), em São Cristóvão, mantém uma agenda variada para os admiradores da matéria. Há observação do céu, palestras e farto material na página do museu. Tem também oficinas, como ASTROmania, com o objetivo de falar sobre os animais e objetos que cruzam os céus. Segundo o site, o tema ‘Voa ou não voa?’ mostra a diferença entre os foguetes que voam e os que apenas atravessam o céu. Com filtros e protetores especiais, os visitantes também podem fazer a Observação do Solde forma segura. É bom saber que as atividades do Museu de Astronomia e Ciências Afins, que fica na Rua General Bruce, 586, são gratuitas. Os que querem levar mais a sério o assunto, podem procurar o grupo chamado Espaço Ciência Viva, NGC-51, que tem sede no bairro da Tijuca.
     Vamos ouvir a voz do professor Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, que deu um depoimento ao Programa Um Passeio pelo Céu Especial. Nascido em 1935, no Rio de Janeiro, ele foi o maior astrônomo que o Brasil já teve, ou pelo menos, o seu maior divulgador, deixando um grande legado.  Ele começou a ver as estrelas ainda criança, acompanhando o pai na Praia de Copacabana. Os primeiros artigos de divulgação científica foram publicados na revista Ciência Popular, em 1952. O astrônomo cursou a Universidade do Estado da Guanabara, atual UERJ, e se tornou Bacharel e Licenciado em Física pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras. Em Paris, ganhou a menção "Très Honorables", sendo que os estudos se concentraram nas estrelas duplas e em corpos distantes do Sistema Solar.  
    Mourão não acreditava em Ufologia e sempre se manifestava contrário às crenças dos ufólogos. Reconhecido por seus pares, ele morreu no dia 25 de julho de 2014, aos 79 anos. Aqui, vamos sair um pouco do rádio para ouvir o programa ‘Um passeio pelo céu’, com apresentação e roteiro de Marcelo Oliveira Souza, disponível no YouTube.


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