terça-feira, 7 de agosto de 2018

Patrício Teixeira : o bambo de bambu, bambu, bambu



Rose Esquenazi

Patrício Teixeira foi um grande cantor e compositor, pioneiro nas gravações do Brasil. Durante muitas décadas, também foi nome destacado na história do rádio desde o surgimento das primeiras emissoras, nos anos 20. Ouvimos no início do quadro a trechos de 'Não tenho lágrimas' e  'Sabiá laranjeira', duas das muitas composições de sucesso desse carioca. Sabiá Laranjeira teve como coautores Max Bulhões e Milton de Oliveira.
 Patrício Teixeira nasceu no dia 17 de março de 1893, na Praça Onze, e não chegou a conhecer pai e mãe. Começou a cantar fazendo serestas em Vila Isabel e no bairro do Centro, onde vivia. Foi amigo e parceiro de grandes nomes da música, como Pixinguinha, Donga, João da Baiana e outros integrantes do conjunto Oito Batutas. Era negro como eles e prova como foram os descendentes afro-brasileiros que mudaram os rumos da nossa música.
 Patrício ficou conhecido como importante professor de violão para as mocinhas da elite e da classe média, que começavam a querer entrar no mundo musical. A cantora e violonista Olga Praguer Coelho foi uma delas. Entraram na lista de alunas Aurora Miranda, irmã da Carmem, Linda Batista e, anos mais tarde, as irmãs Danuza e Nara Leão, e a atriz Maria Lúcia Dahl.
 Patrício se interessou por músicas do folclore brasileiro, aprendendo as obras de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco. Logo, ele se entusiasmou pelas gravações das companhias Odeon, Parlophon, Columbia e Victor. E acompanhou a mudança das gravações mecânicas para as elétricas. Pôde constatar como elas melhoraram de qualidade.
 A primeira apresentação  do músico aconteceu em um clube de Petrópolis, o Xadrez, em 1918. Passou a frequentar a Rádio Clube, a segunda estação fundada no Brasil.  A primeira foi a Sociedade, em 1923. Ali, era preciso enfrentar o misterioso microfone, ao vivo. Os cantores e radialistas não sabiam como a voz estava sendo recebida. Mesmo sabendo que o público era ainda rarefeito, havia a preocupação de agradar os ouvintes.
 Patrício Teixeira gostava de vários gêneros: emboladas, marchinhas, sambas, músicas sertanejas.  Ele aceitou gravar oito discos simples na Odeon, isso, em 1926, quando tinha 33 anos. Gravou o  fado-tango "Preso por um beijo", de Freire Júnior, a toada "Ranchinho desfeito", de Donga, a canção "Magnólia", de Catulo da Paixão Cearense, a embolada "Bambo, bambu", dele e de Donga. Até hoje, os cantores gravam essa música de letra muito interessante e com duplo sentido.  Ney Matogrosso e Eduardo Dusek adoram cantar essa embolada cantada muito rapidamente.

O bambo de bambu, bambu, bambu  // olha o bambo de bambu, bambulelê  //  olha o bambo de bambu, bambulalá  //  eu quero ver dizer três vezes // bambulê, bambulalá //  
Fui a um banquete na casa do Zé Pequeno  //  a mesa tava no sereno pra todo mundo caber  //  tinha de toda qualidade de talher //// tinha mais homem que mulher  //  mas só não tinha o que comer, bambu /// No tal banquete dito-cujo referido // mulher que tinha marido
não passou aperto, não  // pois as danadas, para não morrer de fome  //  cada qual comeu seu homem  //  não tiveram indigestão, bambu.///
Conheço um homem que tem 17 filhos  // que pôs tudo no desvio
pra polícia empregar // a mulher dele, de beleza ainda promete
dar a luz a dezessete  // pra depois então parar, bambu

 Da Rádio Clube, Patrício Teixeira passou pela Rádio Guanabara, Cajuti – que pertenceu ao cantor Francisco Alves -,  Rádio Sociedade e Mayrink Veiga. Algumas músicas de domínio público foram gravadas pelo cantor, como “Casinha pequenina”. Outras revelaram a qualidade de seus parceiros , como "Gavião Calçudo", de  Pixinguinha, "Xoxô", de Luperce Miranda, "Cabide de Molambo", de João da Baiana.
 Os biógrafos sempre elogiaram Patrício Teixeira como intérprete brilhante e muito popular, e gostavam de seu jeito de ser, simpático e afável.  Era mesmo querido e respeitado em uma época em que o violão ainda era instrumento de “vagabundos”. Mas ele entrava nas casas de família, que cultuavam ainda o piano.
 Em 1927, ele foi eleito  pelo jornal Correio da Manhã como patrono das provas de canto do concurso "O que é nosso". Eles escreveram assim:  "Patrício Teixeira é, sem favor,.Rendemo-lhe, pois, esta homenagem escolhendo-o para patrono das aprovas de canções”.
 Com certa abertura, as mocinhas mais modernas dos nos 30 queriam conhecer o violão, instrumento mais fácil de se aprender. Entre os sucessos de Patrício Teixeiracomo está uma deliciosa marchinha de carnaval, que também tem uma dose de duplo sentido: “Diabo sem rabo”, de Haroldo Lobo e Milton Teixeira.
 A minha fantasia de diabo //Só falta o rabo, só falta o rabo// Eu vou botar um anúncio no jornal//: Precisa-se de um rabo// Pra brincar no carnaval// Já comprei lança// Carapuça//, comprei tudo// Até o pé de pato E capa de veludo// Mas, que diabo!// Puxa, puxa, que diabo!// Depois de tudo pronto// Eu notei que falta o rabo.

 Aplaudido por diferentes públicos, Patrício Teixeira foi se impondo no mundo musical. Conseguiu alguns sucessos com o primeiro conjunto que se apresentou na Europa, os Oito Batutas, de Pixinguinha. "Xoxô" (com Luperce Miranda), "Cabide de Molambo" (com João da Baiana), "Sete Horas da Manhã".
 No livro de Rui Castro, Carmen, ele conta sobre a carreira da cantora. Na  fase em que ela está despontando, no começo de 1930, Carmen decide fazer um show no Teatro Lyrico, no Rio. E convidou a nata da cultura. Os cronistas Eugenia e Álvaro Moreyra, os atores Procópio Ferreira, Alda Garrido e Raul Roulien e os cantores Gastão Formenti e Patrício Teixeira e a Orquestra Victor. Eles também já a consideram no primeiro time, tanto que se encontravam com Carmen nas estações de rádio,onde se apresentava semanalmente. Faziam parte da nova geração que estava se impondo no cenário musical, incluindo aqui Mario Reis, Sylvio Caldas, Almirante e Carlos Galhardo.
 Esses intérpretes que se apresentavam nas estações de rádio, também davam canja em cinemas, principalmente para eventos beneficentes. No Cine Atlântico, um cinema pulgueiro que ficava na Nossa Senhora de Copacabana, Patrício Teixeira e Carmem Miranda se apresentaram em um espetáculo cuja renda foi para a Casa do Pobre.
 Não tenho lágrimas é uma de obras musicais de Patrício Teixeira. A música foi escolhida para fazer parte da trilha sonora do filme "Touro Indomável", de Martin Scorsese, de 1980, com Robert de Niro no papel.
  
 Em 1933,  Patrício Teixeira gravou com Carmen Miranda. O samba "Perdi minha mascote", de João da Bahiana, acompanhado pelo Grupo do Canhoto e Rogério Guimarães.  E não era apenas um sucesso atrás do outro que ele cantava na rádio. Ele gravava também, agora na Columbia a marcha "Nem que chova canivete", de Alberto Ribeiro e os sambas "Quem faz a Deus paga ao diabo", de João da Bahiana e "Casado na orgia" e "Não gostei dos teus modos", de Pixinguinha e João da Bahiana.
 Na Rádio Mayrink Veiga, ele se tornou artista exclusivo, título que lhe deu ainda mais reconhecimento. Era de fato a emissora mais profissional, antes da ascensão da Nacional. Tinha os melhores artistas e os melhores programas. Foi a primeira a ficar 24 horas no ar e a pioneira ao fazer uma transmissão internacional, em sintonia com a Rádio Belgrano, de Buenos Aires.
 E quem foi um desses artistas a conquistar os argentinos? O próprio Patrício Teixeira, ao lado de Carmen e Aurora, Madelou de Assis e Custódio Mesquita.
 Vamos encerrar com “Gavião Calçudo”, gravado em agosto de 1929. O samba é de Pixinguinha e Cícero de Almeida e revelava a preocupação dos homens com as mulheres que andavam de calcanhar de fora na Avenida Central, hoje Rio Branco, atraindo os perigosos gaviões. Esse samba foi regravado por Zeca Pagodinho, só que ele  fez uma releitura tirando a história do calcanhar à vista.
Chorei  //  porque fiquei sem meu amor //  O gavião malvado  //  Bateu asa foi com ela  //,  E me deixou //  Quem tiver mulher bonita  //  Esconda do gavião  //  Ele tem unha comprida  //  Deixa os marido na mão  //  Mas viva quem é solteiro!  // Não tem amor nem paixão  //  Mas vocês que são casado, //   Cuidado com o Gavião!  // Chorei, porque Fiquei sem meu amor  //  O gavião malvado //  Bateu asa foi com ela //,  E me deixou //  O culpado disso tudo // é o marido de agora //, a muié Anda na rua  //  com as canelas de fora! // Gavião tomando cheiro //,  Vem descendo sem demora  // Pega muié pelo bico,  // Bate asa e vai imbora!

 Da Rádio Clube, Patrício Teixeira passou pela Rádio Guanabara, Cajuti – que pertenceu ao cantor Francisco Alves -,  Rádio Sociedade e Mayrink Veiga. Algumas músicas de domínio público foram gravadas pelo cantor, como “Casinha pequenina”. Outras revelaram a qualidade de seus parceiros , como "Gavião Calçudo", de  Pixinguinha, "Xoxô", de Luperce Miranda, "Cabide de Molambo", de João da Baiana.
 Os biógrafos sempre elogiaram Patrício Teixeira como intérprete brilhante e muito popular, e gostavam de seu jeito de ser, simpático e afável.  Era mesmo querido e respeitado em uma época em que o violão ainda era instrumento de “vagabundos”. Mas ele entrava nas casas de família, que cultuavam ainda o piano.
 Em 1927, ele foi eleito  pelo jornal Correio da Manhã como patrono das provas de canto do concurso "O que é nosso". Eles escreveram assim:  "Patrício Teixeira é, sem favor,.Rendemo-lhe, pois, esta homenagem escolhendo-o para patrono das aprovas de canções”.
 Com certa abertura, as mocinhas mais modernas dos nos 30 queriam conhecer o violão, instrumento mais fácil de se aprender. Entre os sucessos de Patrício Teixeiracomo está uma deliciosa marchinha de carnaval, que também tem uma dose de duplo sentido: “Diabo sem rabo”, de Haroldo Lobo e Milton Teixeira.
 A minha fantasia de diabo //Só falta o rabo, só falta o rabo// Eu vou botar um anúncio no jornal//: Precisa-se de um rabo// Pra brincar no carnaval// Já comprei lança// Carapuça//, comprei tudo// Até o pé de pato E capa de veludo// Mas, que diabo!// Puxa, puxa, que diabo!// Depois de tudo pronto// Eu notei que falta o rabo.

 Aplaudido por diferentes públicos, Patrício Teixeira foi se impondo no mundo musical. Conseguiu alguns sucessos com o primeiro conjunto que se apresentou na Europa, os Oito Batutas, de Pixinguinha. "Xoxô" (com Luperce Miranda), "Cabide de Molambo" (com João da Baiana), "Sete Horas da Manhã".
 No livro de Rui Castro, Carmen, ele conta sobre a carreira da cantora. Na  fase em que ela está despontando, no começo de 1930, Carmen decide fazer um show no Teatro Lyrico, no Rio. E convidou a nata da cultura. Os cronistas Eugenia e Álvaro Moreyra, os atores Procópio Ferreira, Alda Garrido e Raul Roulien e os cantores Gastão Formenti e Patrício Teixeira e a Orquestra Victor. Eles também já a consideram no primeiro time, tanto que se encontravam com Carmen nas estações de rádio,onde se apresentava semanalmente. Faziam parte da nova geração que estava se impondo no cenário musical, incluindo aqui Mario Reis, Sylvio Caldas, Almirante e Carlos Galhardo.
 Esses intérpretes que se apresentavam nas estações de rádio, também davam canja em cinemas, principalmente para eventos beneficentes. No Cine Atlântico, um cinema pulgueiro que ficava na Nossa Senhora de Copacabana, Patrício Teixeira e Carmem Miranda se apresentaram em um espetáculo cuja renda foi para a Casa do Pobre.
 Não tenho lágrimas é uma de obras musicais de Patrício Teixeira. A música foi escolhida para fazer parte da trilha sonora do filme "Touro Indomável", de Martin Scorsese, de 1980, com Robert de Niro no papel.
  
 Em 1933,  Patrício Teixeira gravou com Carmen Miranda. O samba "Perdi minha mascote", de João da Bahiana, acompanhado pelo Grupo do Canhoto e Rogério Guimarães.  E não era apenas um sucesso atrás do outro que ele cantava na rádio. Ele gravava também, agora na Columbia a marcha "Nem que chova canivete", de Alberto Ribeiro e os sambas "Quem faz a Deus paga ao diabo", de João da Bahiana e "Casado na orgia" e "Não gostei dos teus modos", de Pixinguinha e João da Bahiana.
 Na Rádio Mayrink Veiga, ele se tornou artista exclusivo, título que lhe deu ainda mais reconhecimento. Era de fato a emissora mais profissional, antes da ascensão da Nacional. Tinha os melhores artistas e os melhores programas. Foi a primeira a ficar 24 horas no ar e a pioneira ao fazer uma transmissão internacional, em sintonia com a Rádio Belgrano, de Buenos Aires.
 E quem foi um desses artistas a conquistar os argentinos? O próprio Patrício Teixeira, ao lado de Carmen e Aurora, Madelou de Assis e Custódio Mesquita.
 Vamos encerrar com “Gavião Calçudo”, gravado em agosto de 1929. O samba é de Pixinguinha e Cícero de Almeida e revelava a preocupação dos homens com as mulheres que andavam de calcanhar de fora na Avenida Central, hoje Rio Branco, atraindo os perigosos gaviões. Esse samba foi regravado por Zeca Pagodinho, só que ele  fez uma releitura tirando a história do calcanhar à vista.
Chorei  //  porque fiquei sem meu amor //  O gavião malvado  //  Bateu asa foi com ela  //,  E me deixou //  Quem tiver mulher bonita  //  Esconda do gavião  //  Ele tem unha comprida  //  Deixa os marido na mão  //  Mas viva quem é solteiro!  // Não tem amor nem paixão  //  Mas vocês que são casado, //   Cuidado com o Gavião!  // Chorei, porque Fiquei sem meu amor  //  O gavião malvado //  Bateu asa foi com ela //,  E me deixou //  O culpado disso tudo // é o marido de agora //, a muié Anda na rua  //  com as canelas de fora! // Gavião tomando cheiro //,  Vem descendo sem demora  // Pega muié pelo bico,  // Bate asa e vai imbora!



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