Rose Esquenazi
Patrício Teixeira foi um grande cantor e
compositor, pioneiro nas gravações do Brasil. Durante muitas décadas, também
foi nome destacado na história do rádio desde o surgimento das primeiras
emissoras, nos anos 20. Ouvimos no início do quadro a trechos de 'Não tenho
lágrimas' e 'Sabiá laranjeira', duas das muitas composições de
sucesso desse carioca. Sabiá Laranjeira teve como coautores Max Bulhões
e Milton de Oliveira.
Patrício Teixeira nasceu no dia 17 de março de
1893, na Praça Onze, e não chegou a conhecer pai e mãe. Começou a cantar
fazendo serestas em Vila Isabel e no bairro do Centro, onde vivia. Foi amigo e
parceiro de grandes nomes da música, como Pixinguinha, Donga, João da Baiana e
outros integrantes do conjunto Oito Batutas. Era negro como eles e prova como
foram os descendentes afro-brasileiros que mudaram os rumos da nossa música.
Patrício ficou conhecido como importante
professor de violão para as mocinhas da elite e da classe média, que começavam
a querer entrar no mundo musical. A cantora
e violonista Olga Praguer Coelho foi uma delas. Entraram na lista de alunas
Aurora Miranda, irmã da Carmem, Linda Batista e, anos mais
tarde, as irmãs Danuza e Nara Leão, e a atriz Maria Lúcia Dahl.
Patrício se interessou por músicas do folclore
brasileiro, aprendendo as obras de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco.
Logo, ele se entusiasmou pelas gravações das companhias Odeon, Parlophon,
Columbia e Victor. E acompanhou a mudança das gravações mecânicas para as
elétricas. Pôde constatar como elas melhoraram de qualidade.
A primeira apresentação do músico
aconteceu em um clube de Petrópolis, o Xadrez, em 1918. Passou a frequentar a
Rádio Clube, a segunda estação fundada no Brasil. A primeira foi a
Sociedade, em 1923. Ali, era preciso enfrentar o misterioso microfone, ao vivo.
Os cantores e radialistas não sabiam como a voz estava sendo recebida. Mesmo
sabendo que o público era ainda rarefeito, havia a preocupação de agradar os
ouvintes.
Patrício Teixeira gostava
de vários gêneros: emboladas, marchinhas, sambas, músicas sertanejas. Ele
aceitou gravar oito discos simples na Odeon, isso, em 1926, quando tinha 33
anos. Gravou o fado-tango "Preso por um beijo", de Freire
Júnior, a toada "Ranchinho desfeito", de Donga, a canção "Magnólia",
de Catulo da Paixão Cearense, a embolada "Bambo, bambu", dele e de
Donga. Até hoje, os cantores gravam essa música de letra muito interessante e
com duplo sentido. Ney Matogrosso e Eduardo Dusek adoram cantar essa
embolada cantada muito rapidamente.
O bambo de bambu, bambu, bambu // olha o
bambo de bambu, bambulelê // olha
o bambo de bambu, bambulalá // eu
quero ver dizer três vezes // bambulê, bambulalá //
Fui a um banquete na casa do Zé Pequeno
// a mesa tava no sereno pra todo
mundo caber // tinha de toda
qualidade de talher //// tinha mais homem que mulher // mas só não tinha o que comer, bambu /// No
tal banquete dito-cujo referido // mulher que tinha marido
não passou aperto, não // pois as danadas, para não morrer de fome // cada qual comeu seu homem // não tiveram indigestão, bambu.///
não passou aperto, não // pois as danadas, para não morrer de fome // cada qual comeu seu homem // não tiveram indigestão, bambu.///
Conheço um homem que tem 17 filhos
// que pôs tudo no desvio
pra polícia empregar // a mulher dele, de beleza ainda promete
dar a luz a dezessete // pra depois então parar, bambu
pra polícia empregar // a mulher dele, de beleza ainda promete
dar a luz a dezessete // pra depois então parar, bambu
Da Rádio Clube, Patrício Teixeira passou pela
Rádio Guanabara, Cajuti – que pertenceu ao cantor Francisco Alves -,
Rádio Sociedade e Mayrink Veiga. Algumas músicas de domínio público foram
gravadas pelo cantor, como “Casinha pequenina”. Outras revelaram a
qualidade de seus parceiros , como "Gavião
Calçudo", de Pixinguinha, "Xoxô", de Luperce Miranda,
"Cabide de Molambo", de João da Baiana.
Os biógrafos sempre elogiaram Patrício Teixeira como
intérprete brilhante e muito popular, e gostavam de seu jeito de ser, simpático
e afável. Era mesmo querido e respeitado em uma época em que o violão
ainda era instrumento de “vagabundos”. Mas ele entrava nas casas de família,
que cultuavam ainda o piano.
Em 1927, ele foi eleito pelo jornal Correio
da Manhã como patrono das provas de canto do concurso "O que é
nosso". Eles escreveram assim: "Patrício Teixeira é, sem
favor,.Rendemo-lhe, pois, esta homenagem escolhendo-o para patrono das aprovas
de canções”.
Com certa abertura, as mocinhas mais modernas
dos nos 30 queriam conhecer o violão, instrumento mais fácil de se aprender.
Entre os sucessos de Patrício Teixeiracomo está uma deliciosa marchinha de carnaval, que
também tem uma dose de duplo sentido: “Diabo
sem rabo”, de Haroldo Lobo e Milton Teixeira.
A
minha fantasia de diabo //Só falta o rabo, só falta o rabo// Eu vou botar um
anúncio no jornal//: Precisa-se de um rabo// Pra brincar no carnaval// Já
comprei lança// Carapuça//, comprei tudo// Até o pé de pato E capa de veludo//
Mas, que diabo!// Puxa, puxa, que diabo!// Depois de tudo pronto// Eu notei que
falta o rabo.
Aplaudido por diferentes públicos, Patrício
Teixeira foi se impondo no mundo musical. Conseguiu alguns sucessos com o
primeiro conjunto que se apresentou na Europa, os Oito Batutas, de Pixinguinha.
"Xoxô" (com Luperce Miranda),
"Cabide de Molambo" (com João da Baiana), "Sete Horas da
Manhã".
No livro de Rui Castro, Carmen, ele
conta sobre a carreira da cantora. Na fase em que ela está despontando,
no começo de 1930, Carmen decide fazer um show no Teatro Lyrico, no Rio. E
convidou a nata da cultura. Os cronistas Eugenia e Álvaro Moreyra, os atores
Procópio Ferreira, Alda Garrido e Raul Roulien e os cantores Gastão Formenti e
Patrício Teixeira e a Orquestra Victor. Eles também já a consideram no primeiro
time, tanto que se encontravam com Carmen nas estações de rádio,onde se
apresentava semanalmente. Faziam parte da nova geração que estava se impondo no
cenário musical, incluindo aqui Mario Reis, Sylvio Caldas, Almirante e Carlos
Galhardo.
Esses intérpretes que se apresentavam nas
estações de rádio, também davam canja em cinemas, principalmente para eventos
beneficentes. No Cine Atlântico, um cinema pulgueiro que ficava na Nossa
Senhora de Copacabana, Patrício Teixeira e Carmem Miranda se apresentaram em um
espetáculo cuja renda foi para a Casa do Pobre.
Não tenho lágrimas é uma de obras musicais de Patrício Teixeira. A
música foi escolhida para fazer parte da trilha sonora do filme "Touro
Indomável", de Martin Scorsese, de 1980, com Robert de Niro no papel.
Em 1933, Patrício Teixeira gravou com
Carmen Miranda. O samba "Perdi minha mascote", de João da Bahiana,
acompanhado pelo Grupo do Canhoto e Rogério Guimarães. E não era apenas
um sucesso atrás do outro que ele cantava na rádio. Ele gravava também, agora
na Columbia a marcha "Nem que chova canivete", de Alberto Ribeiro e
os sambas "Quem faz a Deus paga ao diabo", de João da Bahiana e
"Casado na orgia" e "Não gostei dos teus modos", de
Pixinguinha e João da Bahiana.
Na
Rádio Mayrink Veiga, ele se tornou artista exclusivo, título que lhe deu ainda
mais reconhecimento. Era de fato a emissora mais profissional, antes da
ascensão da Nacional. Tinha os melhores artistas e os melhores programas. Foi a
primeira a ficar 24 horas no ar e a pioneira ao fazer uma transmissão
internacional, em sintonia com a Rádio Belgrano, de Buenos Aires.
E quem foi um desses artistas a conquistar os
argentinos? O próprio Patrício Teixeira, ao lado de Carmen e Aurora, Madelou de
Assis e Custódio Mesquita.
Vamos encerrar com “Gavião Calçudo”,
gravado em agosto de 1929. O samba é de Pixinguinha
e Cícero de Almeida e revelava a preocupação dos homens com as mulheres que
andavam de calcanhar de fora na Avenida Central, hoje Rio Branco, atraindo os
perigosos gaviões. Esse samba foi regravado por Zeca Pagodinho, só que ele
fez uma releitura tirando a história do calcanhar à vista.
Chorei //
porque fiquei sem meu amor // O gavião malvado //
Bateu asa foi com ela //, E
me deixou // Quem tiver mulher bonita
// Esconda do gavião // Ele
tem unha comprida // Deixa os
marido na mão // Mas viva quem é solteiro! // Não tem
amor nem paixão // Mas vocês que são casado, // Cuidado
com o Gavião! // Chorei, porque Fiquei
sem meu amor // O gavião malvado
// Bateu asa foi com ela //, E me deixou // O culpado disso tudo // é o marido de agora
//, a muié Anda na rua // com as
canelas de fora! // Gavião tomando cheiro //,
Vem descendo sem demora // Pega
muié pelo bico, // Bate asa e vai
imbora!
Da Rádio Clube, Patrício Teixeira passou pela
Rádio Guanabara, Cajuti – que pertenceu ao cantor Francisco Alves -,
Rádio Sociedade e Mayrink Veiga. Algumas músicas de domínio público foram
gravadas pelo cantor, como “Casinha pequenina”. Outras revelaram a
qualidade de seus parceiros , como "Gavião
Calçudo", de Pixinguinha, "Xoxô", de Luperce Miranda,
"Cabide de Molambo", de João da Baiana.
Os biógrafos sempre elogiaram Patrício Teixeira como
intérprete brilhante e muito popular, e gostavam de seu jeito de ser, simpático
e afável. Era mesmo querido e respeitado em uma época em que o violão
ainda era instrumento de “vagabundos”. Mas ele entrava nas casas de família,
que cultuavam ainda o piano.
Em 1927, ele foi eleito pelo jornal Correio
da Manhã como patrono das provas de canto do concurso "O que é
nosso". Eles escreveram assim: "Patrício Teixeira é, sem
favor,.Rendemo-lhe, pois, esta homenagem escolhendo-o para patrono das aprovas
de canções”.
Com certa abertura, as mocinhas mais modernas
dos nos 30 queriam conhecer o violão, instrumento mais fácil de se aprender.
Entre os sucessos de Patrício Teixeiracomo está uma deliciosa marchinha de carnaval, que
também tem uma dose de duplo sentido: “Diabo
sem rabo”, de Haroldo Lobo e Milton Teixeira.
A
minha fantasia de diabo //Só falta o rabo, só falta o rabo// Eu vou botar um
anúncio no jornal//: Precisa-se de um rabo// Pra brincar no carnaval// Já
comprei lança// Carapuça//, comprei tudo// Até o pé de pato E capa de veludo//
Mas, que diabo!// Puxa, puxa, que diabo!// Depois de tudo pronto// Eu notei que
falta o rabo.
Aplaudido por diferentes públicos, Patrício
Teixeira foi se impondo no mundo musical. Conseguiu alguns sucessos com o
primeiro conjunto que se apresentou na Europa, os Oito Batutas, de Pixinguinha.
"Xoxô" (com Luperce Miranda),
"Cabide de Molambo" (com João da Baiana), "Sete Horas da
Manhã".
No livro de Rui Castro, Carmen, ele
conta sobre a carreira da cantora. Na fase em que ela está despontando,
no começo de 1930, Carmen decide fazer um show no Teatro Lyrico, no Rio. E
convidou a nata da cultura. Os cronistas Eugenia e Álvaro Moreyra, os atores
Procópio Ferreira, Alda Garrido e Raul Roulien e os cantores Gastão Formenti e
Patrício Teixeira e a Orquestra Victor. Eles também já a consideram no primeiro
time, tanto que se encontravam com Carmen nas estações de rádio,onde se
apresentava semanalmente. Faziam parte da nova geração que estava se impondo no
cenário musical, incluindo aqui Mario Reis, Sylvio Caldas, Almirante e Carlos Galhardo.
Esses intérpretes que se apresentavam nas
estações de rádio, também davam canja em cinemas, principalmente para eventos
beneficentes. No Cine Atlântico, um cinema pulgueiro que ficava na Nossa
Senhora de Copacabana, Patrício Teixeira e Carmem Miranda se apresentaram em um
espetáculo cuja renda foi para a Casa do Pobre.
Não tenho lágrimas é uma de obras musicais de Patrício Teixeira. A
música foi escolhida para fazer parte da trilha sonora do filme "Touro Indomável", de Martin Scorsese,
de 1980, com Robert de Niro no papel.
Em
1933, Patrício Teixeira gravou com Carmen Miranda. O samba "Perdi
minha mascote", de João da Bahiana, acompanhado pelo Grupo do Canhoto e
Rogério Guimarães. E não era apenas um sucesso atrás do outro que ele
cantava na rádio. Ele gravava também, agora na Columbia a marcha "Nem que
chova canivete", de Alberto Ribeiro e os sambas "Quem faz a Deus paga
ao diabo", de João da Bahiana e "Casado na orgia" e "Não
gostei dos teus modos", de Pixinguinha e João da Bahiana.
Na Rádio Mayrink Veiga, ele se tornou artista
exclusivo, título que lhe deu ainda mais reconhecimento. Era de fato a emissora
mais profissional, antes da ascensão da Nacional. Tinha os melhores artistas e
os melhores programas. Foi a primeira a ficar 24 horas no ar e a pioneira ao
fazer uma transmissão internacional, em sintonia com a Rádio Belgrano, de
Buenos Aires.
E quem foi um desses artistas a conquistar os
argentinos? O próprio Patrício Teixeira, ao lado de Carmen e Aurora, Madelou de
Assis e Custódio Mesquita.
Vamos encerrar com “Gavião Calçudo”,
gravado em agosto de 1929. O samba é de Pixinguinha e Cícero de Almeida e revelava a
preocupação dos homens com as mulheres que andavam de calcanhar de fora na
Avenida Central, hoje Rio Branco, atraindo os perigosos gaviões. Esse samba foi
regravado por Zeca Pagodinho, só que ele fez uma releitura tirando a
história do calcanhar à vista.
Chorei //
porque fiquei sem meu amor // O gavião malvado //
Bateu asa foi com ela //, E
me deixou // Quem tiver mulher bonita
// Esconda do gavião // Ele
tem unha comprida // Deixa os
marido na mão // Mas viva quem é solteiro! // Não tem
amor nem paixão // Mas vocês que são casado, //
Cuidado com o Gavião! // Chorei,
porque Fiquei sem meu amor // O
gavião malvado // Bateu asa foi com ela
//, E me deixou // O culpado disso tudo // é o marido de agora
//, a muié Anda na rua // com as
canelas de fora! // Gavião tomando cheiro //,
Vem descendo sem demora // Pega
muié pelo bico, // Bate asa e vai
imbora!
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