terça-feira, 7 de agosto de 2018

Agnaldo Rayol: Luar em Paquetá





Rose Esquenazi

     Escute no Youtube a música 'Estrada do sol', gravação de 1959, com interpretação de Agnaldo Coniglio Rayol. Aos 79 anos, em dezembro de 2017, o cantor mora em São Paulo e ainda possui uma voz potente e fãs fieis. 
     Agnaldo nasceu no Rio de Janeiro, no dia 3 de maio de 1938. Com três anos de idade, em 1941, durante o período da Segunda Guerra, gravou um disquinho de acetato colorido em uma agência dos Correios e Telégrafos. Na época, havia estúdios com microfones “jacaré”, forrados de chita. O tio Edgar e avó Anésia quiseram fazer uma surpresa para os pais de Agnaldo e, sem querer, deram início à carreira do garoto. 
     Logo, estreou como talento mirim na Rádio Clube e depois na Nacional, durante o programa 'Papel Carbono', de Renato Murce. Agnaldo tinha apenas cinco anos de idade quando cantou na Clube. Foi considerado prodígio. Estreou cedo também no cinema.  Assim que chegou a Natal, onde foi morar com os pais, Agnaldo recebeu um convite para participar do filme 'Maior que o ódio', no Rio de Janeiro. O diretor José Carlos Burle rodava o filme policial e convenceu Agnaldo a fazer o papel de Jorge Dória quando criança. 
     Ainda muito jovem, fez parte do elenco de 'Também Somos Irmãos'. De volta a Natal, onde morou durante seis anos, Agnaldo foi trabalhar na REN, Rádio Educadora de Natal. Graças ao blog de Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto, soube que, anos antes, a pequena população da cidade sequer tinha um aparelho de rádio em casa. Nos anos 50, essa situação mudou. Dos amplificadores de som instalados nas praças, que irradiavam os programas, os  natalenses passaram a ter seus próprios receptores para ouvir a Rádio Poti, o novo nome que a REN passou a ter ao fazer parte da taba de emissoras de nomes indígenas de Assis Chateaubriand. 
     Agnaldo Rayol foi discotecário e sonoplasta justamente nessa época quando a voz dele mudava. Ele mesmo contou sobre essa fase da vida, abre aspas: "Dos 14 aos 16, fiquei fazendo sonoplastia e trabalhando no rádio. Quando a voz melhorou, entrei como solista para o trio Puracy, cantando com Perci e Pajeú. Quem deu o nome foi o Luiz da Câmara Cascudo, especialista em cultura popular brasileira. Puracy quer dizer na língua indígena barulho de vozes. Na verdade, era um barulho mesmo!", brinca Agnaldo, que chegou a viajar de ônibus para São Paulo para gravar uma música de carnaval num disco de 78 rotações.  "Meu irmão Reinaldo vendia de porta em porta. Mais tarde virou compositor", contou Agnaldo. 
     De volta ao Rio de Janeiro, em 1956, não quis dar mais continuidade à carreira de rádio ator. Ganhava pouco, não tinha muito destaque.  Decidiu procurar emprego na TV, no programa Festival de Vozes. Curiosamente, cantava escondido a música Ave Maria, de Vicente Paiva. 
    O público gostou e ficou curioso: quem era aquele cantor?  Ele iria aparecer no programa da semana seguinte, cantando 'Aquarela do Brasil' para Teresinha Morango, eleita Miss Brasil e segundo lugar no concurso de Miss Universo.  
      Agnaldo entrou na Rádio Tupi em 1956 e, em 1958, foi convidado a gravar o primeiro disco, pela Gravadora Copacabana. O jornal Correio da Manhã estampou um ”ótimo” ao descrever o primeiro disco de 78 rotações, com as músicas 'Prece' e 'Se todos fossem iguais a você'. Com seu vozeirão, Agnaldo Rayol dava continuidade à geração de cantores de vozes fortes e potentes, como Francisco Alves e Vicente Celestino. Chegou a cantar para o presidente Juscelino Kubitschek e passou a ganhar vários prêmios. Ele conseguiu colocar a voz no seguro, o maior bem de sua vida. Impressionou tanto ao cantar 'Ave Maria' que, durante muitos anos, dezenas de noivas pagavam caro para tê-lo na igreja entoando a canção. 
     Na Rádio Nacional, Agnaldo era o cantor que ficava de stand by, quando os nomes mais famosos não apareciam por algum motivo, ele era chamado a assumir o microfone. Os programas eram os mais famosos da época, comandados por Manoel Barcelos e Paulo Gracindo. 
     Agnaldo sempre manteve as duas carreiras unidas, a de ator e cantor.  Em 1959, interpretou a música Luar de Paquetá, ao  lado de Nelly Martins, no filme Garota enxuta. O bairro carioca, que volta a estar na moda atualmente, era, nos anos 50 o destino certo para namorados e crianças em férias. Agnaldo ficou amigo de Angela Maria, que estava fazendo grande sucesso, ganhando todos os troféus e títulos promovidos pelas revistas especializadas no mundo do rádio. Muitas vezes, os sucessos de Angela e de Agnaldo coincidiam, como no caso da música 'A noiva'. Os críticos achavam brega a letra, mas o público gostava mesmo assim. No caso, a noiva estava se casando com uma pessoa de que ela não gostava! A letra diz assim:
Branca e radiante vai a noiva  // Logo a seguir, o noivo amado  //  Quando se unirem os corações // Vão destruir ilusões ///// Aos pés do altar, está chorando  // Todos dirão que é de alegria  //  Dentro, sua alma está gritando ‘Ave Maria’.  
     A carreira de Agnaldo Rayol estourou mesmo nos anos 60, ao receber convites da antiga TV Record para ter seus próprios programas de televisão. Ao lado do humorista Renato Corte Real, o cantor apresentou 'Agnaldo RayoI Show' e 'Corte RayoI Show'.  Curiosamente, durante uma época, também integrou a turma da Jovem Guarda, ao lado de Roberto, Erasmo e Wanderléa. No cinema, fez parte do filme 'Perigo à vista', de 1969.

     Não negou os convites para atrabalhar em novelas, a partir de 1964: 'Mãe''O Caminho das Estrelas' (1965), 'A Última Testemunha' (1968), 'As Pupilas do Senhor Reitor' (1970) e 'Os Imigrantes' (1981). Marcou a novela 'Rainha da Sucata' cantando Ave Maria. 

     São muitos os filmes e novelas em que trabalhou como ator e cantor. Em homenagem aos soldados brasileiros, anos depois de eles terem voltado da guerra, foi composta 'Mia Gioconda'.  Agnaldo cantou novamente essa música  para a novela 'O rei do gado', em 1996. Em 2012, a vida do cantor virou musical: 'Agnaldo Rayol – A alma do Brasil'. O último CD, 'Agnaldo Rayol e amigos', foi gravado em quatro dias de cruzeiro. estavam a seu lado os amigos de toda a vida, como Jerry Adriani e Angela Maria.   





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