segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O rádio na vida de Roberto Carlos






Rose Esquenazi


     A música Meu pequeno Cachoeiro, de Raul Sampaio, na voz de Roberto Carlos, atualmente, é o hino da cidade que fica ao sul do Espírito Santo. Foi ali que Roberto Carlos nasceu no dia 19 de abril de 1941. Ou seja, ele está com 76 anos.  Hoje vamos falar do começo artístico do menino Zunga, a criança gordinha que sempre gostou de cantar. Não vou me estender no sucesso de Roberto que, de acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Discos, foi o artista com mais álbuns vendidos na história da música popular brasileira. Nada menos do que 120 milhões de cópias.

     A letra de Meu pequeno Cachoeiro revela um passado nostálgico que fica ainda mais bonito na voz desse cantor que ainda está na ativa depois de quase 60 anos de carreira. Todos conhecem a letra:
     Meu pequeno Cachoeiro/Vivo só pensando em ti/Ai que saudade dessas terras/Entre as serras/Doce terra onde eu nasci/Recordo a casa eu morava/O muro alto, o laranjal/

Meu flamboyant na primavera,/Que bonito que ele era/Dando sombra no quintal/A minha escola, a minha rua/Os meus primeiros madrigais/Ai como o pensamento voa/Ao lembrar da terra boa/Coisas que não voltam mais.


     Foi dona Laura, mãe de Roberto Carlos, ainda guri, que o incentivou a cantar. Ela era costureira, o pai, Robertino Braga, relojoeiro. Como a maior parte das casas brasileiras, o rádio reinava soberano na sala. Era um aparelho familiar, todos ouviam juntos as atrações, principalmente, as que vinham do Rio de Janeiro. Zunga ouvia de tudo: xaxados, marchinhas carnavalescas, modas de viola, baiões, valsa, fado, foxtrote, rumba, samba. O jovem Roberto escolheu Amor y mas amor para se apresentar no Programa Infantil, da ZY-L, Rádio Cachoeiro, em 1951. Ele tinha 10 anos.  Não existe a gravação desse programa que foi ao ar em um domingo de outubro, às 9h da manhã. Não há também nenhum disco com essa gravação.  Por essas razões vamos mostrar a versão interpretada pelo porto riquenho Bobby Capo. Roberto decorou a letra, armou-se de coragem e foi à estação de rádio. O menino que adorava assobiar e cantar, não imaginava que naquele momento se iniciava uma longa carreira musical. Ouça no Youtube Amor y mas amor?


      Muitas outras histórias estão no livro Roberto Carlos em detalhes, de Paulo César Araújo, conhecido como P.C..Infelizmente, a biografia escrita em 2006 foi proibida porque o Rei teria implicado com alguns trechos. O autor, fã confesso do cantor, levou 16 anos para escrever a tal obra e chegou a entrevistar 200 pessoas. Ainda bem que eu já havia comprado um exemplar para as minhas pesquisas radiofônicas. Depois disso, houve uma grande discussão no Brasil sobre biografias e direitos autorais. As biografias foram liberadas, mas a lei ainda proíbe a venda do livro de Paulo César Araújo. Roberto Carlos prometeu aos fãs uma autobiografia, até agora, nada. E o escritor P.C. lançou mais um livro sobre o mesmo assunto: O Réu e o Rei: Minha História com Roberto Carlos, em Detalhes. 

     Mas vamos voltar ao ano de 1951, na rádio de Cachoeiro. Roberto cantou direitinho o bolero em espanhol. Segundo Paulo César, naquele dia, faltaram pessoas importantes na estação, como o locutor oficial e os músicos do Regional L-9. Assim, apenas um músico do regional, o violonista José Nogueira, acompanhou o menino cantor. Ele se saiu bem, tanto que ganhou balas, no final. O programa era patrocinado pela Fábrica de Doces Esperança. Certa vez, Roberto Carlos contou que estava muito nervoso na sua estreia e, ao mesmo tempo, contente de cantar pela primeira vez no rádio. Ele disse: “Ganhei um punhado de balas, que era como o programa premiava as crianças que lá se apresentavam. Foi um dia lindo”. 

     Se tivesse desafinado, talvez não pudesse frequentar o Programa Infantil. Roberto perguntou se era possível voltar na semana seguinte e o violonista o incentivou. “Pode, sim, quantas vezes quiser”, disse Zé Nogueira. E garantiu, de quebra, que a apresentação do candidato seria ainda melhor porque todos os integrantes do Regional estariam presentes. Dona Laura adorou a apresentação do filho, ficou entusiasmada. Mesmo que Zunga não quisesse mais seguir a carreira médica, como imaginava na época.  Assim, em outras semanas o menino voltou a interpretar músicas estrangeiras e brasileiras. Era o mais aplaudido entre todos os candidatos. Não havia sucessos adequados para jovens e crianças naquele tempo. Todas as crianças cantavam as músicas de adultos, sem maiores problemas. Vamos ouvir um ídolo de Roberto: o vaqueiro Bob Nelson, pseudônimo de Nelson Perez. Nas festas da família, Zunga cantava O boi barnabé. Vamos ouvir essa música na voz de Bob Nelson.


     Roberto Carlos sempre foi um cantor romântico, mas era tão fã de Bob Nelson, que não perdia seus programas na Rádio Nacional. Vivia andando de roupas de caubói e apontando as suas armas com espoleta pela casa.  Em um depoimento, dona Laura confessou que sentia dificuldade para convencer o filho a não ir para todos os lugares fantasiado de caubói. Apesar das apresentações familiares, o cantor lembrou que ainda era uma pessoa envergonhada. Costumava cantar atrás da porta quando havia festinhas em casa.
A Rádio Cachoeiro, seguindo a moda das antigas estações radiofônicas,  promovia caravanas pelo interior. Roberto Carlos estava no grupo dos artistas, o que lhe deu uma boa experiência. Nos anos 50, havia também grande influência das rumbas e salsas. Um dos expoentes desse tempo era o  brasileiro Rui Rei, que gravou La Bamba. O sucesso foi extraordinário. Logo Roberto Carlos se apaixonou por  Cao cao mani picao. Vamos ouvir com  Waldir Calmon y su Orquestra, em uma gravação de 1959.

     Até que chegou o momento de Roberto Carlos querer crescer na carreira. Convenceu os pais que teria que passar uma temporada na casa da tia, em Niterói. O alvo era a Rádio Nacional. Fazer sucesso ali iria garantir um futuro profissional. Insistiu com a família, e ela aceitou. Bem que Roberto tentou uma vaga no Programa Paulo Gracindo, o Domingo Alegre. Ficava esperando o animador na porta do estúdio. Pediu muito, mas não conseguiu uma oportunidade. Seguindo a recomendação da emissora mais famosa do país, Paulo Gracindo tinha que convidar a prata da casa e quase não tinha espaço  para novatos desconhecidos.

     Roberto queria ficar mais tempo no Rio e os pais foram solidários se mudando para o Rio de Janeiro. Escolheram o bairro Lins Vasconcelos,. Ficava mais fácil não precisar atravessar a Baía de Guanabara toda vez que quisesse ir à Nacional. A tendência musical começava a mudar. Apareciam Elvis Presley, Bill Halley e seus Cometas, Little Richards e Chuck Berry com outro ritmo musical: o rock’n’roll. Roberto gostou das novidades e foi através de um amigo, Arlênio Lívio, que ele conheceu a turminha da Tijuca que já amava o rock. Em 1957, no Bar do Divino, na  Rua do Matoso, o rapaz do Espírito Santo conheceu Erasmo Carlos, Jorge Ben, Tim Maia, Lafayette. Roberto aprendeu a batida do rock e passou a integrar a banda The Sputniks. Na época, ele imitava o jeito de Tim Maia tocar Long Tall Sally, de Little Richard. Querendo interpretar Hound Dog, pediu a letra para Erasmo Carlos. Resultado: os dois ficaram amigos e parceiros de toda a vida.

    A alma romântica ainda estava viva, assim, Roberto Carlos passou a se apresentar na boate Plaza, em Copacabana. Ali, ele era crooner, e cantava de tudo, de Bossa Nova ao samba-canção e músicas americanas de Chet Baker. Que grande escola ele conseguiu ter na noite do Rio. Ele também gostou de receber o convite de Carlos Imperial para cantar no programa Clube do Rock, na TV Tupi. Na época, Roberto foi chamado de “Elvis Brasileiro”, imaginem. Só em 1959, ele gravou seu primeiro compacto simples, com dois sambas João e Maria, e Fora do Tom, as duas composições de Carlos Imperial.
Verdadeira raridade, o disco revela que Roberto tentou imitar João Gilberto no começo da carreira. Depois, conseguiu lançar o primeiro álbum, o Louco por você, que não fez tanto sucesso. Aos poucos, foi se tornando conhecido com as músicas Parei na contramão, Calhambeque, É proibido fumar.

     Até que a TV Record lançou o grupo da Tijuca no programa Jovem Guarda, gravado em São Paulo. O líder era Roberto Carlos. O cantor abandonava o sonho de ser cantor de rádio, mas, a partir dos anos 60, tudo que gravava era tocado em todas as rádios brasileiras. Até hoje. A Rádio Cachoeiro, AM, ainda funciona na rua Bernardo Horta, em Cachoeiro do Itapemirim e já foi líder de audiência. Vamos terminar com Roberto Carlos cantando João e Maria, que achei no YouTube. Que sorte! No Mercado Livre, o compacto simples não custa  menos do que R$ 275. Aproveitem.






2 comentários:

  1. Mas e hoje? O que temos no Brasil?
    Fome, falta de moraria, atraso, escolas ruins, falta de hospitais, breguices políticas e culturais: concreto...
    O resto são frasinhas:

    Fez-se nadinha em 13 anos para esse mal brasileiro horroroso. Apenas propagandas e publicidades e propagandas. Frasinhas.

    O PT© pratica lavagem cerebral. Vejamos:

    Trazendo a mente algo recente na nossa política. Observe:
    Com a "Copa das Copas®" do PT® em vez de se construir hospitais, construiu-se prédios inúteis! A Copa das Copas®, do PT© e de lula®.

    Qual o poder constante da propaganda ininterrupta do PT©?
    Eis:

    Mas apenas um frio slogan, o LUGAR DE FALA do Petismo® (tal qual “Danoninho© Vale por Um Bifinho”/Ou: “Skol®: a Cerveja que desce Redondo”/Ainda: “Fiat® Touro: Brutalmente Lindo”). Apenas signos desubstancializados. Sem corporeidade.

    Aqui a superficialidade do PETISMO®:
    Apenas signos descorporificados. Sem substância. Não tem nada a ver com um projeto de Nação. Propaganda:
    Nem tudo que é legal é honesto:
    0. “Pronatec©”
    1. “Pátria Educadora™” [Buá; Buá; Buá].
    2. “Coração Valente©” (super fake)
    3. “A Copa das Copas®”
    4. “Fica Querida©”
    5. “Impeachment Sem Crime é Golpe©” [lol lol lol]
    6. “Foi Golpe®”
    7. “Fora Temer©”
    8. “Ocupa Tudo®”
    9. “Lula Livre®”
    10. “®eleição sem Lula™ é fraude” [kuá!, kuá!].
    11. “O Brasil Feliz de Novo®” (fake)
    12. “Lula é Haddad Haddad é Lula®” [kkk]
    13. “Ele não®”.
    14. “Minha Casa, Minha Vida©”
    15. “Saúde não tem preço®”
    16. “Haddad® agora é verde-amarelo®” [rsrs].
    17. “Bolsa Família®”
    18. “LUZ para todos™”(kkk).
    19. (…e agora…): “Ninguém Solta a Mão de Ninguém©”
    20. “Água para todos©” (é mesmo?)
    21. “Rede cegonha©”
    22. PT® = “Controle social da mídia” [™] (hi! hi! hi!): desejo do petismo.
    23. “Brasil Carinhoso©” [que momento açucarado].
    24. “bela, recatada e do lar®” PT é uma piada ridícula!
    25. “Mais Médicos®”
    26. “SKOL®: a Cerveja que desce RedondO”.

    PT© é vigarista e aderente ao charlatanismo.

    Vive de ótimos e CALCULADOS mitos propagandísticos.

    O PT© vive de lavagem-cerebral.

    O tal de: “me engana que eu compro”. PT® e PCdoB® são o Kitsch políticos. Nivelam tudo por baixo. A arte, a cultura e a educação. Bregas. Sobretudo a educação dos guris e gurias de todo o Brasil.

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  2. O salário mínimo valia US$ 350,00, o bujão de gás custava R$ 25,00, a gasolina estava a R$ 2,80 e o diesel a R$ 2,20. Todo mundo viajava de avião. Aeroportos lotados. Todo mundo comprando carro. Desemprego 4,5%. Brasil oitava economia do mundo. Lula deixou o governo com 87% de aprovação. O seu Bolsonaro fez o que?

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