Rose Esquenazi
Alberto Ribeiro, compositor de mão de cheia, foi fiel parceiro de João de
Barro, o Braguinha, que todo mundo sabe quem é. Alberto conheceu João de Barro
em 1935, através do editor Mangione e juntos criaram uma grande amizade e
sintonia musical. A música Yes, nós temos banana, que acabamos de
ouvir é dessa dupla criativa e afinada que compôs grandes sucessos na MPB. Ao
morrer em 10 de novembro de 1971, aos 69 anos, Alberto deixou para nós nada
menos do que 400 composições.
Vou começar contando
como nasceu a marchinha de carnaval Yes,
nós temos banana. Em 1923, nos Estados Unidos, os compositores Frank Silver
e Irving Cohn morreram de rir ao ouvir um grego, dono de uma quitanda, dizer
para um freguês: “Yes, we have no
bananas”. Ou seja, “Sim, não temos bananas”. Criaram a musica Yes, we have no bananas que estourou por
lá. Segundo o pesquisador Jairo Severiano, que contou essa história no livro A canção no tempo, volume 1, 15 anos depois,
Braguinha e Alberto Ribeiro lançaram a versão nacional da música, um pouco para
criticar a postura dos americanos que costumavam chamar o Brasil de República
das Bananas. A voz que interpreta esse grande sucesso já foi de Almirante e
tantos outros cantores, mas ouvimos aqui a versão de Ney Matogrosso. Aliás,
temos que tirar o chapéu para Ney que comemora 40 anos de carreira artística.
Vamos começar pelo início.
Alberto Ribeiro da Vinha nasceu no bairro da Cidade Nova, no Rio de Janeiro, em
27 de agosto de 1902. O carioca começou a compor músicas para o bloco
carnavalesco Só de Tanga. A
primeira criação de que se tem notícias é Água de coco, com Antônio
Vertulo, em 1923. Ou seja, tinha apenas 21 anos. Depois, foi morar no bairro do
Estácio e lá conheceu um grande compositor, o Bide, Alcebíades Barcelos, e
passou a compor com ele. Chegou a gravar dois discos em 1930 com o Grupo dos
Enfezados, do qual fez parte.
Como muitos jovens ainda
hoje, Alberto ficou na dúvida que carreira seguir. Tentou engenharia, passou
para a medicina, formando-se em 1931. Escolheu a homeopatia como especialização.
O consultório ficava na Rua
Senador Dantas, 20, e ele não costumava cobrar muito alto. Sabia que nem sempre
o povo podia pagar.
Apesar de seguir a carreira
médica e, muitas vezes, tratar das pessoas gratuitamente, era na música que ele
dedicava a sua criatividade. Vamos ouvir
alguns sucessos que ele criou sozinho, como Casar não é comigo, com a cantora Zezé Fonseca, gravada em
1933. Prestem atenção na letra que diz “casar não é pra mim”, apesar de o
compositor ter se casado em 1926. Ouça a marcha no Youtube.
O encontro com João de Barros
foi decisivo. Os anos 30,
considerados a Época de Ouro da Música Popular Brasileira, foi também o tempo
de crescimento das emissoras de rádio, principalmente no Rio de Janeiro.
Estavam em pleno vapor a Rádio Philips, a Mayrink Veiga, a Rádio Clube do
Brasil, a Rádio Educadora, só para citar as principais. A Nacional só iria se
tornar verdadeiramente popular a partir de 1940. O rádio atraía todas as
atenções e, pensando nisso, o americano Wallace Downey chegou ao Brasil querendo investir em filmes musicais. Já
que não havia televisão ainda, o cinema seria a maneira de ver os ídolos dos
rádios na tela grande.
Perspicaz, Wallace convidou dois
grandes compositores, João de Barro e Alberto Ribeiro para argumentistas e
também responsáveis pela trilha sonora, dos filmes Alô, alô, Brasil!, Estudantes,
os dois de 1935, e Alô, alô carnaval!, de 1936. Foram
grandes sucessos, mas, infelizmente, sobrou pouco dessas três produções geradas
na Cinédia de Ademar Gonzaga que tentava industrializar o nosso cinema. É
possível assistir a alguns trechos no YouTube.
Divertido e crítico, o médico Alberto
Ribeiro, sozinho, decidiu puxar a orelha dos poetas e compositores que viviam
falando da lua no momento em que escreviam versos apaixonados. Assim, criou Deixa
a lua sossegada, que
vamos ouvir na voz de Almirante. Na letra, ele diz:
“Se
não houvesse lua eu asseguro// O mundo no escuro// Seria muito bom// Um beijo
começava em Realengo// Esquentava no Flamengo// E acabava no Leblon//,
Alberto Ribeiro se referia ao namoro
recatado que começava no subúrbio, em Realengo, passava para o Flamengo, na
Zona Sul, e, já mais quente, acabava no Leblon, onde existia o único motel da
cidade. Interessante, não é? Como já disse, João de Barro e Alberto
Ribeiro combinavam muito bem no momento de compor. Em 1936, para mostrar a
presença marcante do rádio em todas as casas, os dois compositores e mais
Lamartine Babo lançaram Os cantores do
rádio, interpretada pelas irmãs
Aurora e Carmem Miranda no filme Alô,
alô, Carnaval.
Em 1938, eles se inscreveram em um
concurso da Prefeitura com a música Touradas
em Madri. A marcha ganhou em primeiro lugar, na frente de Pastorinhas, Sereia e Camisa Listrada. Só que os organizadores do concurso implicaram com Touradas em Madri, alegando que era em ritmo estrangeiro chamado paso doble, e desclassificaram a música.
Venceu, então, o segundo lugar
Pastorinhas, que também era de Braguinha e de Noel Rosa, que já havia
morrido. A história dessa música também é curiosa. Escrita em meia hora, em um
bar da cidade, chamava-se Linda morena,
que não fez sucesso. Braguinha trocou a palavra moreninhas por pastorinhas e
inscreveu também no concurso. Até hoje as duas músicas fazem grande sucesso no
Carnaval. Ouça Touradas em Madri,
com Almirante, gravada em 1938.
Gosto muito da marcha As brabuletas, interpretada pelo próprio
Alberto Ribeiro e gravada em 1933. Mas existem pequenas obras-primas do
compositor como a clássica das festas juninas, Noites de Junho. Tem uma linda interpretação de Emilinha Borba, de
1958. A música Sonho de papel, também com João de
Barro, fazia parte dessa lista de canções do meio do ano. Podemos citar muitos
outros sucessos, como Pirulito, Onde o céu é mais azul, considerada
samba de exaltação, de um tempo em que os compositores decidiram puxar a
sardinha para o governo brasileiro.
Alberto Ribeiro e Braguinha lançaram em
1946, Copacabana, interpretada com
brilhantismo pelo cantor Dick Farney. A música estourou no mundo todo e foi
considerada a precursora da Bossa Nova. O trabalho talentoso e tão brasileiro
de Alberto Ribeiro, sozinho ou ao lado de Braguinha, faz muita falta no cenário
brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário