Rose Esquenazi
Vamos falar um pouco sobre a história da Rádio
Tupi. Assis Chateaubriand já era grande empresário, dono de vários jornais,
como O Jornal, e a maior revista da
época, O Cruzeiro, quando decidiu
entrar no negócio do rádio. Outros empresários, como o Conde Pereira Carneiro,
do Jornal do Brasil, estavam fazendo
o mesmo. Era uma nova política atirar
para vários lados, eles achavam uma mídia alimentaria a outra.
Os críticos achavam que
os empresários da imprensa, ao inaugurar estações de rádio, podiam estar dando
um tiro no pé. Ou seja, iriam esvaziar o conteúdo de seus jornais e revistas
trocando pelo noticiário do rádio, que iria dominar tudo. Chatô respondeu
assim: “Sou um homem da imprensa de papel e estou convencido de que a ideia que
forma opinião tem que estar impressa em letra de fôrma. O rádio pode ser mais abrangente,
e certamente é mais subversivo que o jornal, mas o que mexe com o tutano do
freguês é o jornal. Nem a revista, mas o jornal diário”.
A data oficial da inauguração da Tupi aconteceu no dia
25 de setembro de 1935. Oito dias antes, houve uma pré-inauguração da Tupi do
Rio. No dia 15 de setembro, o famoso maestro Heitor Villa-Lobos regeu um
espetáculo musical, com um coro de 120 professores. Eles cantaram o Hino
Nacional, e deve ter sido impressionante. Além dessa apresentação, a Orquestra
Dajos Bella, o Conjunto Benedicto Lacerda, a Orquestra Tupi, que teve a
regência de Leonidas Autuori, se apresentou com as cantoras Elsie Houston e
Olga Praquer Coelho.
Em seu discurso,
o diretor da Rádio Tupi, Dario Magalhães, garantiu que os motivos nacionais representavam a empresa. É importante lembrar aqui
que ainda não existia a Rádio Nacional, que nasceu um ano depois, em 1936. Mas
no Rio de Janeiro funcionavam as Rádios Sociedade, Philips, Rádio Club do
Brasil, Educadora do Brasil, Ipanema e Rádio Fluminense. Ouvimos, no começo do
quadro, a soprano brasileira Elsie Houston cantando Puxa o Melão Sabiá, música folclórica, adaptada por Luciano Gallet.
Ela se apresentava pela primeira vez no rádio. Anos depois, quando foi morar no
exterior, Elsie ganhou o apelido de Embaixadora da Música Brasileira.
Na Rua Santo Cristo, 148, a Tupi, ou PRG-3, se tornava
o primeiro empreendimento radiofônico das
Emissoras e Diários Associados. Mais tarde, nos anos 40, a emissora é
transferida para a Rua Venezuela, nº 43.
Chateaubriand, o famoso Chatô,
administrava de maneira caótica as suas empresas. Tanto que ele pensou,
primeiramente, em inaugurar a sua estação em São Paulo. Mas estava devendo para
várias empresas dos milionários Matarazzo, Martinelli, Guinle e Modesto Leal.
Com o tempo, Chatô soube dar a volta por cima. Ouça, no YouTube, o violinista russo
Dajos Bella e sua orquestra, que participou da inauguração da Tupi no Rio.
Apelidada de “Cacique do Ar”, a Tupi de São Paulo foi
inaugurada em 1937. Chateaubriand construiu a segunda
mais potente emissora da América Latina. A primeira ficava em Porto Alegre e se
chamava Rádio Farroupilha. Ele convidou especialmente para o momento solene de apertar
o botão da emissora o famoso inventor da radiotelegrafia, o italiano
Guglielmo Marconi. Marconi já tinha seu nome conhecido no Rio porque ele inaugurou, de Roma, a iluminação da estátua do Corcovado no
Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1931.
Com as Tupis do Rio e S.Paulo, Chatô deu início, segundo Fernando Morais, no
livro Chatô, o Rei do Brasil, “uma
interminável série de Tamoios, Potis, Tupãs”. Chatô tinha mania de nomes
indígenas porque estava construindo a sua taba radiofônica, tentando dominar o
Brasil pelas ondas sonoras. Talvez a principal característica de Chatô foi abrir
seus microfones para artistas internacionais que passavam pelo Rio. A cidade
atraía estrangeiros por seus cassinos e praias e, assim, no cardápio de
estrelas dos shows entravam Maurice Chevalier, Nat King Cole, Josephine Becker
e a Orquestra Cassino de Sevilha.
No elenco brasileiro, já a partir dos anos 40, havia nomes espetaculares que muitas vezes
saíam de outras rádios da cidade, como a Mayrink Veiga. Carlos Galhardo, Silvio
Caldas, Dalva de Oliveira, Linda e Dircinha Batista, Ataulfo Alves, Dorival Caymmi, Elizeth Cardoso estavam no elenco das
estrelas. Em São Paulo, foi contratada a peso de ouro, a cantora Carmem
Miranda, a mais famosa intérprete brasileira de todos os tempos. Antes do
contrato com as rádios e night clubs americanos, a Pequena Notável ganhou
fortuna, o maior salário jamais pago a uma cantora brasileira. Os jornais
criticaram, e se perguntavam: “quem ela pensa que é?”. Tratava-se, segundo eles, apenas de uma
cantora de samba, gênero considerado menor pelos intelectuais que preferiam o
clássico.
A Rádio Tupi também foi muito importante com o seu
rádio-teatro. Excelentes artistas foram contratados ou cresceram nos estúdios
da emissora. Paulo Gracindo, Orlando Drummond, Lourdes Mayer, Ida Gomes,
Heloísa Helena, Rodolfo Mayer, por exemplo. Não faltou uma geração de bons
humoristas, como Ema D’Ávila, Silvino Neto, Avalone Filho, Nádia Maria. Nos
esportes, as emissoras de Chatô ficaram conhecidas pela gaitinha de Ary
Barroso, que tocava sempre que havia um gol no campo. José Maria Scassa e o
locutor Oduvaldo Cozzi também marcaram o futebol da Tupi. No jornalismo, havia uma
ótima equipe e os radiojornal reproduzia as notícias em editorias, como se
fosse um jornal impresso. Não há como se comparar a Tupi com a força e
importância do Repórter Esso, da
Nacional, a partir de 1941. Mas o Grande
Jornal Falado Tupi não fazia feio de jeito nenhum. Tanto que anunciou o fim
da guerra na frente de todo o mundo. Só que ninguém acreditou, mas isso é uma
outra história.
Ouça, no YouTube, uma entrevista de Ary Barroso sendo
entrevistado na Rádio Tupi do Rio sobre o sofrimento de exercer a função de
locutor.
Um incêndio em 1949, acabou com os estúdios da Tupi.
Assim, temporariamente, a equipe se transferiu para a Rádio Guanabara, no
Centro, para não interromper as suas transmissões. No Cinema Íris, na Rua da
Carioca, Paulo Gracindo comandou o programa Rádio
Sequência G-3. Depois de muitas obras, a Tupi ocupou o prédio da Avenida
Venezuela, inaugurando no último andar o maior auditório da América Latina, o
Maracanã dos Auditórios.
Mil e quinhentas pessoas puderam acompanhar a Copa do
Mundo de 1950, no auditório da PRG-3. Depois da Copa, era ali que se transmitia
o programa de Almirante, Henrique Fóreis Domingues, chamado Incrível, Fantástico, Extraordinário. Ouvir
a velha Guarda de Pixinguinha no programa Paquetá
em Serenata, de Júlio Louzada, deve ter sido inesquecível. Para terminar, vamos
ouvir o prefixo de Incrível, Fantástico,
Extraordinário, em que Almirante contava casos sobrenaturais que aconteciam
com as pessoas comuns. Sem sustos, visões, coincidências e fantasmas de montão.
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