Rose Esquenazi
Para
tentar compreender porque a Rádio Nacional fez tanto sucesso na época de ouro,
nos anos 40 e 50, precisamos falar também sobre a música de alto nível e seus arranjadores. No blog, já contamos um pouco sobre a história do maestro
Radamés Gnatalli. Agora, chegou a vez de Léo Peracchi, que nasceu em São Paulo
no dia 30 de setembro de 1911. Ele foi regente, arranjador, pianista, professor
e compositor. que nasceu no dia 16 de janeiro de 1993, no Rio de Janeiro. Indico o arranjo de Brasil moreno, de
Ary Barroso e Luis Peixoto, em uma gravação de 1953, que está no YouTube.
Peracchi começou a
trabalhar em rádio em 1936, em das pioneiras estações de rádio no país: a Cosmos, de São Paulo. Era pianista e
regente. Passou pela Educadora e Bandeirantes até se transferir para a Nacional
do Rio de Janeiro em 1941, já a mais importante emissora do país. Ele foi, sem dúvida, um
dos destacados orquestradores da Música Popular Brasileira, ao lado dos regentes
Lírio Panicali, Radamés Gnattali e Romeu Ghispman. Segundo o “ Dicionário Cravo
Albin de Musica Popular Brasileira”, na internet, “seu estilo caracterizava-se
pelo equilíbrio conferido aos instrumentos de palheta, metais e cordas, que
manejava com extrema competência”.
A Nacional caprichava na
variedade de estilos tanto musicais quanto de entretimento. Havia um andar no Edifício A Noite, o vigésimo-primeiro, só para
os músicos, orquestras, regionais, quartetos, cantores e maestros. Ao todo, a
Orquestra Sinfônica tinha 10 maestros e 124 músicos contratados. Com verba o suficiente para inovar, já que
além de ter se transformado em emissora incorporada ao Patrimônio Nacional, continuava
ativa com sua área comercial. Era como outra rádio qualquer da época, como a
Mayrink, Tupi, JB, Cruzeiro do Sul. Mas como tinha o horário nobre nas mãos, na
época, à noite, havia verba para experimentações.
Foi assim que Peracchi e
outros músicos decidiram inovar a linguagem radiofônica. O maestro criou e
participou de muitos programas, como A
canção antiga, Inspiração, Rádio Almanaque-Kolynos, Poemas sonoros, Paisagens
de Portugal, A canção da lembrança. Juntamente
com Haroldo Barbosa e José Mauro, ele criou o programa Dona Música, que ia ao ar às sextas-feiras. Tratava-se de um
diálogo entre um repórter, interpretado por Celso Guimarães, e Dona Música,
Lígia Sarmento. Nesse horário, músicas de todas as partes do mundo eram
comentadas e executadas.
Peracchi participou também do programa Festivais
G. E, que durou 10 anos. Absoluto sucesso. É interessante a gente ver que
nessa atração, a música erudita que contava com a orquestra sinfônica era admirada
e aplaudida por um vasto público e era muito popular. Os espectadores mais jovens
iam acostumando o ouvido para os sons clássicos, graças aos mais velhos que
faziam parte da plateia fiel.
No programa Quando os maestros se encontram, de
Paulo Tapajós, os maestros da casa que eu já citei e também Alceu Bocchino e
Alberto Lazolli demonstravam seu virtuosismo como arranjadores. Não havia
restrição de tempo por parte do patrocinador (Walita) e cada maestro escolhia à
vontade a música que iria apresentar.
Mas nem só de clássico
vivia Léo Peracchi. Ele também foi arranjador no programa Instantâneos musicais, uma das muitas atrações criadas por
Almirante, apelido de Henrique Foreis Domingos. Em 1944, Almirante também contou
com Peracchi para no programa A história das orquestras do Brasil.
Vamos ouvir agora o samba-canção Inquietação,
com arranjos feitos pelo regente Peracchi para o cantor mais amado
no país por sua linda voz: Orlando Silva. Em 1953, Peracchi e sua orquestra
acompanharam o cantor na gravação do LP Orlando
Silva Canta Ary Barroso, lançado
pela Musidisc. Ou seja, o Cantor das Multidões podia contar com um maestro que
dominava o seu ofício, criando arranjos para uma orquestra inteira. Além do
samba-canção Inquietação, Orlando
gravou e cantou na Nacional Trapo de Gente, Tu, Risque, Caco Velho e
Faceira, todos de Ary Barroso.
Peracchi foi casado com a
cantora Lenita Bruno. Durante muito tempo lecionou harmonia e orquestração na
Academia Lorenzo Fernandez. Ouçam no YouTube o samba-canção Conceição,
de Jair Amorim e Dunga, com a Brazilian Cocktails, de 1958. O sucesso popular
de Cauby Peixoto ganhou um novo status com o arranjo do maestro.
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