Rose Esquenazi
Vamos conhecer um pouco sobre a história da grande jornalista, radialista e escritora Edna Savaget. Ela foi pioneira em tudo que fez. Edna trabalhou durante 29 anos na Rádio MEC,e também na Rádio Nacional e na Rádio Eldorado. Além disso, inaugurou a TV Globo e teve presença marcante na TV durante 32 anos. Um dos primeiros programas a ir ao ar na TV Globo era dela: o Sempre Mulher. Depois, apresentou Programa Edna Savaget, entre outros.
Inteligente, lúcida, crítica e equilibrada, a carioca Edna Savaget Teixeira Leite nasceu no dia 19 de maio de 1928, no Rio de Janeiro. Para contar a história do pioneirismo da mãe, a jornalista e escritora Luciana Savaget lançou no final de 2017, o filme Silêncio no estúdio, dirigido por Emília Silveira. A película está fazendo o circuito dos festivais e já ganhou prêmio no Festival de Aruanda, na Paraíba.
Felizmente para nós, Marco Aurélio, Edna deixou gravado o depoimento sobre a sua vida no rádio. No programa Memória Brasil, da Rádio MEC, apresentado por Geórgia Quental, ela fala de suas memórias. Foi realizado em 1989, segundo nos informou o pesquisador Maurílio Floriano. Ou seja, nove antes de Edna morrer, aos 70 anos, em 1998. Quero agradecer a ajuda do departamento de pesquisa do Acervo da EBC, sob a coordenação de Michelle Tito, Luiz Antonio Cruz Albuquerque e equipe.
Vamos para o começo da história. Edna começou a ler poesias de crianças no programa de sua mãe, Carmem Lúcia, na extinta Rádio Vera Cruz. Na época, Edna ganhou o apelido de “Peixinho Dourado”. Sabe quantos anos ela tinha na época? Seis anos! O programa Carmem Lúcia foi, segundo Edna, a primeira atração feminina no rádio brasileiro. Na opinião de menina que conviveu com o rádio do passado, o meio era muito mais intelectualizado. V
Quando a Rádio Vera Cruz, que era católica e patrocinada pela Cúria Metropolitana, acabou, Edna se dedicou aos estudos. Foi sempre uma grande leitora e desde os 9 anos escrevia poesias. Formada na primeira turma de jornalismo no Brasil, na Faculdade de Filosofia da UFRJ, Edna trabalhou primeiramente no jornal A Noite e nas revistas do mesmo grupo. Atenção para o título de uma das revistas: Figurino da Menina-Moça!
Para Edna Savaget, o jornalismo sempre foi uma grande vocação e não apenas uma profissão. Mais tarde, ela recebeu o convite de Floriano Faissal para trabalhar no programa Boa tarde, Madame. Ficou na Rádio Nacional durante dois anos até que entrou na MEC a convite de Nestor de Hollanda. Edna gostava de chamar a MEC de “celeiro de talentos”.
A convite de Fernando Tude de Mello e a indicação do diretor artístico e Alfredo Souto de Almeida, Edna Savaget foi trabalhar na MEC, em 1952. Para ela, Tude de Souza foi o grande sucessor, quem sabe herdeiro, de Edgar Roquette-Pinto. Paradigma da educação no Brasil, fundador da Rádio Sociedade que se tornou MEC, a partir de 1936, Roquette era conhecido da mãe de Edna Savaget. Todos reverenciavam o educador.
Edna Savaget ficou conhecida como apresentadora e debatedora de programas femininos. Mas Edna transcendeu essas fronteiras. A jornalista falava também de livros, música, literatura, política, artes plásticas, tudo com a mesma desenvoltura. Segundo Luciana Savaget, “em seus programas de literatura e crônica, Edna entrevistou todos os maiores escritores brasileiros. Os programas”, segundo ela, “viraram referências no mundo literário”.
Impressiona até hoje ouvir Edna explicando que foi o público o maior bem que ela conquistou ao longo da carreira. “Foi um prêmio de Deus”, dizia. Ela assegurou que sempre viveu no plural, ao lado de seu público, mesmo tendo quem discordasse dela. Dona de uma personalidade intensa, falava com o público diretamente, de igual para a igual.
A jornalista escreveu dois romances, livros de poesia e colaborou em quase todos os jornais do Rio de Janeiro. Edna foi muito ativa no debates contra os preconceitos contra a mulher.Naquele tempo, lembrou sua filha Luciana, nós éramos tratadas como “pilotos de fogão”! Edna também tinha o lado solitário que os amigos e a família conheciam bem. Certa vez, ela concordou em dizer que “tinha duas caras”. Não como um defeito de caráter, mas como referência a seu lado introspectivo e reflexivo, que sentia profundamente as injustiças. Vamos a mais um trecho da entrevista da MEC.
No programa Aqui entre nós, Edna passou 14 anos de sua vida profissional. Lá, ela conviveu com Artur da Távola, no início de carreira dele. Para a jornalista, foi uma época maravilhosa porque eles desenvolveram um formato não muito comum na época. Era um bate-papo com os ouvintes, inteiramente improvisado. Era tão moderno que poderia ser veiculado inclusive no final dos anos 80, quando ela participou da entrevista da MEC. Edna contou que convivia em um ambiente altamente enriquecedor. Foi ali que conheceu os escritores e músicos como Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Pascoal Longo, Geir Campos, Austregésilo de Atayde, maestro Alceu Bocchino e por aí vai.
O público reagia muito bem, aprendia todos os dias com Edna e com os grandes escritores da época. A jornalista também esteve nos bastidores escrevendo roteiros para os programas Músicos e Música de Nossa Terra, Nossos Livros, Resenhas de Novos Lançamentos. Edna Savaget era apaixonada pela Rádio MEC, a emissora que marcou a sua vida. Ela costumava dizer que o rádio não era um bico, era a sua vida! Ela declarou o seguinte: “Jamais pensei na Rádio como fonte de dinheiro ou com mentalidade de funcionária pública. Muito ao contrário”.
A situação mudou quando os militares deram o Golpe de 64. O ambiente na rádio se deteriorou. Edna nunca se esqueceu de um conselho que recebeu de um coronel. Esse senhor disse para ela e para Carlos Drummond de Andrade que eles deveriam escrever de maneira “fácil” para que a MEC se tornasse mais popular. O coronel insistiu com a ideia. Edna respondeu assim: “Nunca saí da Rádio para ensinar ordem unida nos quartéis. Por favor, não me venha ensinar sobre programas culturais”. Neste mesmo dia, Edna Savaget pediu a sua aposentadoria. Anos mais tarde, Edna também se decepcionaria com o baixo nível da TV brasileira em determinado momento.
Obrigado pelo artigo. Uma das minhas recordações de infância é de minha mãe assistindo o programa de Edna Savaget nas tardes dos anos 70 e 80.
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