Rose Esquenazi
Continuamos a comemorar os 80 anos da Rádio MEC
falando de um de seus muitos programas culturais. A emissora tem, desde a sua
origem, a missão de educar pelas ondas sonoras. Não há dúvidas de que muita
gente, em todo o país, e em diferentes épocas, expandiu a sua sensibilidade com
a programação diversificada da estação fundada por Roquette-Pinto. Ao ser doada
em 1936 para o Ministério da Educação e Cultura, o mestre Roquette só fez uma
única exigência. A Rádio MEC não deveria ter anúncios e deveria continuar
servindo ao povo, seu verdadeiro dono.
Hoje,
vamos ouvir um trecho da série Literatura,
que consegui graças à pesquisa da equipe do acervo da EBC. Agradeço, desde já, o
esforço de todos. O programa dedicado a Luís de Camões foi gravado em dezembro
de 1984 e veiculado em 1985, às 14h. É interessante ouvir a história desse
português que nasceu em Lisboa em 1524 e morreu com menos de 60 anos. Ainda
hoje não há nenhuma garantia de datas e de alguns fatos sobre a sua vida. O
importante é que Camões transformou a língua portuguesa. E não só isso:
tornou-se um dos maiores poetas do Ocidente.
Ao que tudo indica, Camões teve uma boa educação,
dominou o latim e a história antiga e moderna. Era um apaixonado que escrevia
para as suas amadas, não só as da mesma classe social, a nobreza. Mas também
aquelas que ele conhecia na sua vida boêmia, no caso, as plebeias. Dizem os livros
que foi uma decepção amorosa que fez com que ele abandonasse Portugal e
singrasse os mares, indo viver na África. Alistou-se
como militar e acabou perdendo um olho em uma batalha. No programa, o
roteiro não fica só no passado. Há comentários que atualizam o drama vivido por
Camões. É possível saber o básico de sua existência e ouvir trechos dos Lusíadas, seu livro mais importante e até hoje
estudado. A equipe da radioatores da Rádio
MEC interpreta poemas de Camões tendo ao fundo a música medieval. Era um
momento para relaxar durante a tarde sintonizando a MEC AM.
Não são todas as rádios que se dedicam seus horários
para falar sobre escritores e poetas. Vamos comparar com a programação da Rádio
MEC nos anos 50 e reconhecer o gabarito dos produtores e apresentadores. Miécio
Araújo Konkis era um desses produtores. Às segundas-feiras, às 21h, preparava o
programa Um repórter no mundo das letras.
Era um noticiário sobre os assuntos literários do Brasil e do mundo. Nesse
mesmo horário, durante três meses Carlos Drummond de Andrade falou sobre a sua
vida e o nascimento do Modernismo no programa Quase Memórias.
Às segundas, também, só que meia hora antes de Um repórter no mundo das letras, às
20h30, Otto Maria Carpeaux apresentava Vida
e romance+Encontro com a literatura. Carpeaux era um intelectual de mão
cheia e discutia com o seu público as grandes obras de Shakespeare e James
Joyce, por exemplo. Havia ainda a atração Poesia
Viva, com Geir Campos. Não consegui descobrir em que dia ia ao ar, mas o
conteúdo era o seguinte: contar as histórias de poetas famosos, ler as suas poesias
e mostrar o caminho para quem sonhava em se tornar um poeta de verdade.
O mundo mudou com o aparecimento de novas tecnologias,
como a internet. O rádio se adaptou e, hoje, é possível ouvir um programa que
já foi ao ar através dos podcasts. Pode-se acompanhar não só a atração local,
mas de várias partes do mundo. Abriram-se também as portas para experiências em
universidades e centros culturais que se dedicam à arte da escrita no rádio.
Programas de literatura são o ponto alto da série Rádio documentário, da Rádio USP.
Ganhador de prêmios, a produção tem apoio da Secretaria Estadual de Cultura de
SP. Pode ser ouvido pela internet.
A equipe faz biografia de escritores
brasileiros, como Carolina de Jesus, João Antonio e Patativa do Assaré, e
internacionais, tais como Mário Benedetti, Mia Couto, Pablo Neruda. Vale a pena
acessar o Rádio documentário. Mergulhar no mundo literário pelo rádio abre nossas
antenas e nos estimula a ler mais. No canal Rádio Batuta, do Instituto Moreira
Salles, Literatura em voz alta apresenta gravações de poemas, contos e
crônicas gravados pela equipe do IMS e convidados. Registros na voz dos
próprios autores, muitas vezes extraídos de discos antigos, estão entre os
destaques.
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